Marcos Rolim [email protected] Jornalista
Não sei se a imprensa brasileira prestou atenção nisso, mas o mais importante experimento científico sobre o impacto ambiental de culturas com sementes geneticamente modificadas acaba de ter seus resultados divulgados na Inglaterra. Um estudo de 50 milhões de libras (250 milhões de reais) acompanhou 273 campos de testes para cultivo controlado com sementes transgênicas na Inglaterra, País de Gales e Escócia durante os últimos três anos.
O objetivo foi o de procurar avaliar o impacto ambiental de lavouras transgênicas. O que os cientistas concluíram é que as culturas geneticamente modificadas agridem o meio ambiente ameaçando a vida de várias espécies de pássaros selvagens, borboletas, abelhas e centenas de espécies de insetos. Além disso, os estudos autorizam a conclusão de que as novas tecnologias de DNA recombinante podem induzir a formação de super-ervas daninhas, resistentes a qualquer herbicida. Os interessados podem checar os resultados completos do estudo, suas repercussões e a opinião dos especialistas em http://www.guardian.co.uk/gmdebate http://www.guardian.co.uk/gmdebate> .
O que a maioria dos analistas na Comunidade Européia têm sublinhado é que os resultados da pesquisa britânica não poderão ser ignorados por nenhum governo e que as possibilidades de comercialização de culturas geneticamente modificadas na Europa são cada vez mais improváveis. (o que oferece ao Brasil um importante sinal a respeito do mercado) Há uma enorme resistência da opinião pública européia com relação à comercialização de transgênicos e ela só tende a crescer após a divulgação desta pesquisa. A maior parte das redes de supermercado inglesas, por exemplo, já anuncia com bastante destaque que nenhum de seus produtos contém ingredientes geneticamente modificados e cresce a pressão sobre Tony Blair e o parlamento para que o Reino Unido possa ser declarado "Terra Livre de Transgênicos". Assinalo esses pontos não porque tenha uma posição definida com relação ao uso das novas tecnologias de manipulação genética, mas para explicitar uma posição muito singela. ! Quando falamos em "plantações de produtos geneticamente modificados" estamos tratando de um tema em torno do qual a comunidade científica ainda não estabeleceu qualquer consenso.
Como a idéia de verdade científica só emerge mediante este consenso, o decidido e bem humorado "não sei" sugerido por Luis Fernando Veríssimo é a resposta mais racional que se pode oferecer no momento. É este "não sei" que funda o princípio da precaução e que deveria nos afastar das aventuras e apostas irresponsáveis. Para além do debate propriamente científico - que deve ser feito não apenas por biólogos moleculares, mas por profissionais de ecologia, genética, bioquímica, medicina, epidemiologia, entomologia, fitopatologia, botânica, zoologia, bioética, entre outras especialidades - deve-se procurar a melhor política para a salvaguarda do interesse público, o que não se resume aos aspectos de saúde pressupostos (como as reações alérgicas já identificadas com a ingestão de alimentos transgênicos), nem tampouco às incertezas a respeito do controle no próprio emprego da tecnologia (tornadas mais evidentes após a contaminação do banco genético de sementes de m! ilho no México), mas também aos riscos de termos o controle mundial de sementes nas mãos de um punhado de empresas capazes de produzir a pilhagem do patrimônio genético dos pobres, o patentamento de seres vivos e de tecnologias garantidoras do monopólio, além da cobrança da royalties.
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