O alimento transgênico não é um alimento de qualidade. Pesquisas mostram
sua influência no aumento de alergias. A longo prazo, não existe comprovação científica de que o transgênico não faz mal ao ser humano.
Portanto, as autoridades teriam que tomar uma atitude de precaução. Quando
os Estados Unidos começaram a produzir alimentos transgênicos se dizia que
não fariam mal à saúde. Num recente congresso realizado no Rio, o médico e
deputado federal baiano Saulo Pedrosa, do PSDB, alertou que pesquisas americanas evidenciaram a crescente responsabilidade dos transgênicos em
casos de câncer de fígado e pâncreas. Após a palestra fui cumprimentá-lo
por sua coragem, apesar de ser deputado do partido do governo, e ele
respondeu que sua primeira e principal responsabilidade era como médico.
- Existem pesquisas que mostrem os riscos dos transgênicos?
Um pesquisador inglês mostrou um trabalho, comprovando que o DNA do gene
modificado de alimento transgênico não se decompõe no aparelho digestivo
dos insetos, portanto há o risco de manter-se em animais maiores e na população. É uma coisa gravíssima. E não se sabe seus reflexos futuros no
organismo.
- Mas o governo federal defendeu os transgênicos...
- Foi uma nota absurda. É o desespero de autoridades submissas ao FMI tentando cumprir todas as suas ordens. Já aplicam aqui as privatizações,
alteraram a legislação trabalhista, retiraram benefícios sociais, mas não
conseguem obrigar o país a implantar os transgênicos, graças ao Judiciário
e à luta de muitos.
- O ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, afirma ser sandice considerar que o transgênico faz mal à saúde e alega que há uma questão
ideológica, marxista?
- O ministro Pratini, pela veemência que defende os transgênicos, seria um
excelente ministro da Agricultura dos Estados Unidos. Não é uma questão
ideológica, mas de saúde pública. As autoridades têm de zelar pela saúde da
população e são obrigadas a ter precaução em relação a produtos para os
quais a ciência ainda não tem respostas definitivas. Quando ocorreu o caso
da vaca-louca na Inglaterra, os cientistas garantiram que não atingiria o
ser humano que consumisse a carne. O tempo mostrou que atingia pessoas. Se
quando os cientistas têm certeza, a ciência pode errar, imagine quando não têm.
- Também se diz que as posições antitransgênicas, seriam provocadas porque
são multinacionais, como a Monsanto, as detentoras da patente dos transgênicos...
- A Monsanto tenta agradar, seduzir os agricultores com churrascos e visitas no campo para tê-los ao seu lado na sua tentativa de introduzir os
transgênicos no Brasil. Depois vai transformar estes mesmos agricultores em
escravos, porque os contratos de compra obrigam a aquisição anual de sementes, proibindo o replantio. Nos Estados Unidos, milhares de
agricultores estão sendo processados pela reutilização de sementes.
- Apesar de todas as discussões, o consumidor continua confuso sobre os
transgênicos?
- É preciso um esclarecimento cada vez maior. Inclusive sobre a presença de
11 produtos que possuem transgênicos na sua composição, vendidos em supermercados, conforme descobriu o Idec. É o caso do Nestogeno que possui
8% de sua composição de transgênicos. Pergunte aos que defendem os transgênicos, se deixarão suas mulheres alimentarem seus filhos com um
alimento transgênico.
- Mas o que as mães podem fazer?
- O próprio mercado, os consumidores, vão tirá-los das prateleiras porque
os transgênicos serão rejeitados pelas mães. E serão substituídos por
alimentos não-transgênicos. Se o governo tem tanta pressa em liberar os
transgênicos, por que não tem a mesma velocidade na rotulagem destes produtos? O consumidor tem o direito de saber o que consome.
- Caso a Justiça mantenha a proibição de plantar e comercializar
transgênicos, o que deve ser feito para evitar problemas como a falta de
milho para a avicultura?
- O governo precisa implantar políticas agrícolas, cuja inexistência é
exatamente o motivo do problema. Políticas que permitam a auto-suficiência
na produção de milho, não transgênico, já para a safra de 2001. Políticas
de garantia de preço mínimo, de crédito, e que evitem esses riscos à saúde
dos brasileiros. Por exemplo, o Bt do milho transgênico é uma bactéria e há
pesquisas mostrando que ela leva à resistência a antibióticos.
- E se houver a liberação?
- Será um desastre, uma catástrofe. Sem falar em todos os riscos à saúde
dos consumidores e ao meio ambiente, será um desastre para segmentos, como
o avícola. O Rio Grande do Sul exporta 80% de sua produção de frangos para
Europa, Japão e países árabes e perderia grande parte da clientela que faz
questão de alimentos não-transgênicos. Os concorrentes de outros países
ganhariam com isso, afastando as empresas e cooperativas brasileiras. A obrigação das autoridades é defender os consumidores e produtores nacionais.
- O Rio Grande do Sul tem assumido posições fortes contra os transgênicos,
mas a maioria oposicionista na Assembléia Legislativa suspendeu o poder do
estado de fiscalizar as plantações...
- Foi uma posição retrógrada, um desserviço à agricultura gaúcha. Estamos
preparando uma ação direta de inconstitucionalidade junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para retomarmos esta fiscalização. Se a ação não for
julgada até o início da próxima safra de soja, tomaremos outras medidas.
Vamos fazer todo o trabalho normal de fiscalização e interdição de áreas,
se for o caso, com base na legislação de defesa ambiental. Esta área é uma
das raras em que a Constituição permite aos estados serem mais rigorosos e
restritivos do que a União. Vamos fiscalizar e garantir que o Rio Grande do
Sul seja uma área livre de transgênicos.
- Há alguma medida mais próxima a ser adotada no Rio Grande do Sul?
- Estamos preparando uma série de medidas com o Ministério Público e o
Procon. Em outros estados, como Minas Gerais, existe legislação que obriga
os supermercados a colocarem placas na entrada e nas gôndolas, alertando o
consumidor de que ali estão alimentos geneticamente modificados. O consumidor terá a opção de saber, claramente, que para tais produtos a
ciência ainda não tem respostas quanto à segurança alimentar. Vamos fazer
isso aqui.
- E quanto à proposta de moratória, de suspensão do plantio dos transgênicos por cinco anos enquanto se realizariam novas pesquisas sobre a
segurança?
- Apoiamos esta mobilização mundial que reforça a necessidade de comprovação paralela para o grave problema da contaminação de produtos
limpos por lavouras transgênicas das proximidades.
- Há estudos comprovando isso?
- Sementes não-transgênicas de colza exportadas dos Estados Unidos para a
Europa apresentaram em testes realizados na França fragmentos de transgênicos. As pesquisas mostraram que o cruzamento ocorreu por
polinização feita por insetos ou pela ação dos ventos, devido à presença de
outra lavoura de colza, esta transgênica. Na Inglaterra, o cientista Andreos Heissenberger comprovou a existência de pólen geneticamente
modificado em mel produzido próximo a lavouras experimentais de transgênicos. O cientista alemão Heinrich Kattz comprovou a transferência
de genes de plantas transgênicas para outros seres vivos. Sem falar no lixo
do Primeiro Mundo.
- Como assim ?
- A retração do mercado, crescentemente contrário aos transgênicos, deixou
parte da produção americana sem destino. De forma supostamente benemérita,
os Estados Unidos doaram 500 mil toneladas de alimentos transgênicos para a
África, sob a alegação de minorar a fome. É o que se pode chamar de o lixo
do Primeiro Mundo para os países subdesenvolvidos. Para estes países
produtores de transgênicos e para autoridades brasileiras somos cobaias
humanas, para testá-los. Daqui a alguns anos vamos saber se fazem mal ou não.
- Já há uma conscientização dos agricultores brasileiros quanto a estes
problemas futuros para os consumidores?
- Fizemos e continuamos a fazer o nosso trabalho de esclarecimento junto ao
meio rural e nas cidades e já temos bons resultados. Há uma crescente conscientização dos agricultores, que estarão do nosso lado na luta contra
os transgênicos. Pesquisa realizada pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul mostrou que 71% dos consumidores estão dispostos até a pagar mais
por não-transgênicos. Mas queremos alimentos não-transgênicos, com produtividade e bons preços. Já estamos vendendo muito para os europeus
exatamente pela garantia de não-transgenia.
|