Voto contrário à Lei de Biossegurança, a senadora Heloisa Helena (PSol-AL) endossa a posição de que não há pesquisas confiáveis sobre tecnologias como células-tronco e transgênicos- Por que a senhora é contrária à aprovação dessas pesquisas?
Eu me nego a discutir as células-tronco fora do projeto de reprodução assistida. Até porque todos os que queriam a reprodução dos transgênicos se aproveitaram da dor das mães que têm crianças com deficiência para passar a liberá-los. Sobre os transgênicos, existe muita mentira, supostamente baseadas em argumentos científicos. Mas não houve a necessária confrontação entre os argumentos científicos, ambientais, de saúde, de mercado, de economia e produção.
- Os que defendem os transgênicos afirmam que seus opositores terminam por defender os agrotóxicos...
A diminuição do uso ocorre apenas nos dois primeiros anos. Houve aumento da utilização no Rio Grande do Sul, onde predominantemente se usa a soja transgênica, e diminuição de 47% no uso no Paraná, onde essa soja está proibida.
- Se as células-tronco fossem discutidas em outro momento, a senhora apoiaria?
Só discuto no debate da reprodução assistida. É preciso ter em conta que isso mexe com o conceito de vida. Não podemos iludir milhares de mães, como se as células-tronco significassem novos alentos para cura de doenças. Isso não é verdade. Existe muita produção científica dizendo exatamente o contrário.
- As células-tronco envolvem questões religiosas?
Envolve questões éticas, filosóficas, científicas e religiosas. É um debate de alta complexidade. O que é inaceitável é que muitas pessoas se esconderam atrás disso para liberar os transgênicos.
Jonas Pinheiro: 'Vamos tratar milhões de doentes'
Com um histórico familiar que o deixou como exemplo dos possíveis benefícios da Lei de Biossegurança - quatro de seus irmãos morreram por causa de uma doença degenerativa -, o senador Jonas Pinheiro (PFL-MT) acredita que pesquisas com células-tronco e o uso de produtos transgênicos são um avanço.
Leia entrevista concedida ao ‘Estado de SP’:
- Que motivos levam o sr. a apoiar pesquisas com células tronco e os transgênicos?
Ambos são uma avanço na biossegurança. Através das células-tronco, vamos tratar milhões de doentes que hoje não tem esperança de viver. Já os transgênicos, ocupam hoje 70 milhões de hectares no mundo e são usados há anos. Não há sequer um caso indicando que façam mal a humanos, animais e ao meio ambiente.
- A que o sr. atribui a oposição de religiosos e de ambientalistas?
A Igreja não é contra a célula-tronco, é contra o uso de embriões, mas já está explicado no projeto que a autorização para pesquisas se refere a células embrionárias congeladas há mais de três anos, sem condições de gerar um ser. Não vamos usar indiscriminadamente embriões e eles não serão comercializados.
- O senhor acredita que por trás dessa reação contrária podem estar fabricantes de herbicidas?
A maneira que temos de fazer o Brasil ficar competitivo no comércio internacional é com os transgênicos, porque usam menos herbicida e menos inseticida. Se existe ou não o lobby dos fabricantes, não posso afirmar. Mas os transgênicos vão diminuir o custo desses produtos.
- Como o senhor analisa o comportamento do governo no encaminhamento da Lei de Biossegurança? O texto ficou oito meses engavetado no Senado.
O governo foi muito paciente. Já encaminhou duas MPs para tratar da soja, depois mandou o projeto. Enquanto a Câmara não vota, ao governo não resta outra saída senão editar MP autorizando o plantio da soja, que começa neste mês. (Rosa Costa)
fonte: O Estado de São Paulo, 8/10/2004
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