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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS
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Número 315 - 15 de setembro de 2006
Car@s Amig@s,
Em artigo de opinião publicado hoje (15/09) no jornal Valor Econômico, o advogado Paulo de Bessa Antunes defende a tese de que “não há qualquer base legal que proíba transgênicos no entorno de unidades de conservação”. Se fosse assim, a produção de soja transgênica de 8 municípios do entorno do Parque Nacional do Iguaçú não teria sido embargada e a multinacional Syngenta não teria recebido multa do Ibama no valor de R$ 1 milhão por ter experimentos com plantas transgênicas na zona de amortecimento do Parque.
Argumenta o advogado do Dannemann Siemsen que a lei que proíbe o plantio de transgênicos no raio de 10 km no entorno das áreas de conservação ambiental “é daquelas poucas destinadas à vigência temporária (...) [cujas] normas se exaurem em si próprias”. Isso porque, no entendimento do autor, a lei valia apenas para a safra de 2004 e fora revogada com a entrada em vigor da Lei de Biossegurança (11.105/05).
É equivocada a argumentação de que artigo 11 da lei 10.814/03, que proíbe o plantio de soja transgênica nas unidades de conservação, terras indígenas e áreas de manancial de água, foi revogado tacitamente. A lei de biossegurança revogou expressamente todos os artigos de lei e até resolução do CONAMA que o Congresso entendeu não serem mais aplicáveis. No entanto, manteve o Art. 11 da 10.814.
Como disse o próprio autor do texto, “a lei não tem palavras desnecessárias”. O fundamento do Art. 11 da Lei 10.814/03 é bastante claro e consta inclusive das razões da medida provisória 113, que deu origem à lei: a soja transgênica foi aprovada no Brasil sem estudo de impacto ambiental - na época obrigatório. Começou a ser cultivada a partir de crimes cometidos por produtores rurais - como contrabando, por exemplo. Por este motivo, excepcionou-se territórios cuja biodiversidade já é protegida do plantio de soja geneticamente modificada.
Reforça a incorreção da tese de que não há fundamento jurídico para a proibição do plantio de transgênicos nestas áreas o fato de o próprio Poder Judiciário vir decidindo, em Ações Judiciais ajuizadas por proprietários rurais do entorno do Parque Nacional do Iguaçú, que o Art. 11 da lei 10.815 está em vigor e, portanto, é aplicável.
Ao discorrer sobre um “período de incerteza regulamentar em biossegurança” que levou a Justiça a proibir a liberação da soja e de novos transgênicos até a realização de estudos de impacto ambiental, a argumentação de Bessa Antunes leva o leitor a crer que a aprovação da Lei de Biossegurança pelo Congresso, liberando o plantio da soja, “encerrou a incerteza em relação ao impacto da soja transgênica”.
Nem com um passe de mágica uma decisão do Congresso poderia resolver questões sobre os riscos apresentados pela soja ou por qualquer outro organismo transgênico. O que fez sim o Congresso foi atropelar a legislação ambiental e decisões judiciais e liberar a soja transgênica mesmo sem a realização dos estudos de biossegurança, que não foram realizados até hoje. Êxito dos setores interessados na rápida liberação dos transgênicos, que agora pressionam para liberar o plantio de transgênicos no entorno de áreas de conservação ambiental.
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Neste número:
1. Lula libera semente não certificada para o RS
2. CTNBio rejeita pedido de cotonicultor
3. Mais duas empresas decidem banir transgênicos de seus produtos
4. Soja desmata a Amazônia, comprova dado de satélite
5. Bayer Cropscience investe para reduzir pirataria
6. Cresce apreensão de transgênico ilegal
7. Portugal regulamenta áreas livres de OGMs
8. Confirmada planta resistente ao glifosato na Argentina
9. Produtores do Arkansas movem 4ª ação judicial contra o arroz transgênico
10. França e Suécia identificam arroz transgênico oriundo dos EUA
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura
Como tirar sementes de hortaliças
Dica sobre fonte de informação
Alimentos Transgênicos: riscos e questões éticas, por Dra. Maria Alice Garcia, Unicamp.
“A agressividade com que transgênicos têm sido propagandeados está diretamente relacionada ao fato de que no plano mercadológico de bens de consumo os produtos da biotecnologia compõem um dos ramos mais promissores do capitalismo atual.”
http://www.agroeco.org/brasil/material/alimentranspublicado.htm
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1. Lula libera semente não certificada para o RS
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, nessa segunda-feira (11-09), o decreto que regulamenta o uso de sementes de soja transgênica sem certificação no cultivo da safra 2006/2007 no RS. A informação foi confirmada pela Casa Civil e pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). De acordo com o MDA, o texto recebeu o crivo do presidente sem alterações e também traz informações sobre o novo programa Troca-Troca, por meio do qual o governo incentivará o uso de variedades certificadas. O secretário-executivo do MDA, Marcelo Cardona, informa que a verba inicialmente prevista é de R$ 60 milhões, mas que poderá ser ampliada conforme a demanda dos produtores. Os detalhes da medida serão conhecidos hoje, quando o texto será publicado no Diário Oficial da União (DOU). O anúncio veio após uma tarde de negociações entre técnicos dos ministérios da Agricultura (Mapa) e da Fazenda. Segundo o superintendente do Mapa no Estado, Francisco Signor, a Conab deverá operar o sistema.
Ainda ontem, a Fetag enviou um ofício ao ministro da Agricultura, Luis Carlos Guedes Pinto, sugerindo que a regulamentação do programa de troca das sementes de soja ocorresse após a reunião de amanhã, em Cruz Alta. O documento buscava evitar que as regras fossem estabelecidas às pressas para acompanhar a edição do decreto presidencial. O delegado do MDA no RS, Nilton De Bem, acredita que não há vinculação entre as medidas. Até onde eu sei, uma coisa não está vinculada com a outra. A impressão que tenho é que o Troca-Troca é um ato administrativo, completa. O presidente da Fetag, Ezídio Pinheiro, explica que o adiamento de novas regras permitiria ampliar a discussão sobre a logística para viabilizar a transição, bem como o envio de sugestões. Não adianta proposta bonita se não for prática, pontuou.
Correio do Povo, 12/09/2006.
2. CTNBio rejeita pedido de cotonicultor
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) rejeitou ontem um pedido de reconsideração de sua decisão de recomendar a destruição das áreas de algodão transgênico plantado ilegalmente no país. A decisão, tomada por unanimidade dos 19 membros presentes na reunião mensal, recusa um pedido da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) para impedir a destruição da pluma e do caroço derivado das sementes ilegais. A CTNBio recomendou um recurso ao conselho de ministros (CNBS), que, por lei, pode reverter a decisão. A fiscalização do Ministério da Agricultura identificou 18 mil hectares de algodão ilegal, 11% do total visitado, mas estima plantio ilegal em pelo menos 100 mil hectares. A Abrapa calcula prejuízo de R$ 90 milhões com a destruição. A procuradora da República Maria Soares Cordioli anunciou que o Ministério Público Federal acompanhará o desfecho do caso para garantir o cumprimento da Lei de Biossegurança. “Não há muito o que discutir. Houve um descumprimento da lei”, disse Rubens Nodari, representante do Ministério do Meio Ambiente. Depois do “puxão de orelhas” em razão da demora nas análises de processos, a CTNBio acelerou os trâmites internos. Na reunião de ontem, o colegiado aprovou 60 processos. O Itamaraty, que não tinha ocupado sua vaga, indicou o biofísico Paulo Paes de Andrade (UFPE). Tiveram o sinal verde 35 processos de liberação de pesquisas em campo. Um processo da International Paper foi rejeitado por tratar de gene com restrição de uso (GURT) e outro foi à diligência. Foram aprovados processos da Syngenta, Pioneer, Suzano, Allelyx, Embrapa, Dow AgroSciences e Monsanto para pesquisa de milho resistente a insetos, soja tolerante a herbicida, cana com mais sacarose e eucalipto com menos lignina. A CTNBio aprovou ainda cinco processos de importação de sementes transgênicas de milho resistentes a insetos e a glifosato e mudas de eucalipto e outros 11 pedidos de alteração em comissões internas (CIBIOs) e certificados de qualidade (CQBs) em biossegurança. Também foi aprovada nova norma para classificação de riscos de transgênicos e dos níveis de biossegurança em laboratórios. Foram fixados quatro níveis, com critérios de avaliação individual e de impacto sobre a coletividade. Na prática, os transgênicos mais comuns, como os resistentes a insetos e herbicidas ficam no menor nível de exigência - o grupo 1. Pela nova regra, só a CTNBio poderá autorizar experimentos em laboratório do grupo 1, o que deve aumentar o volume de trabalho.
Valor Econômico, 05/09/2006.
3. Mais duas empresas decidem banir transgênicos de seus produtos
A Mezzani, indústria de massas, e a Dauper, fabricante de biscoitos e salgadinhos, adotarão uma política para garantir que seus produtos não contenham transgênicos. Com isso, elas passam da lista vermelha (indústrias que não garantem produtos sem transgênicos) para a verde (empresas que dão garantias de uma produção livre de transgênicos) do Guia do Consumidor, do Greenpeace.
Das 109 empresas que compõem o Guia, 67 estão na lista verde. Além das novas adesões, estão nesta lista gigantes da indústria alimentícia como Nestlé, Parmalat, Unilever, Sadia e Perdigão, entre outras. Já outras gigantes como Bunge, Cargill e Vigor continuam na lista vermelha, pois não assumiram o compromisso de levar aos consumidores brasileiros alimentos livres de transgênicos.
“A mudança de política de empresas como Mezzani e Dauper demonstra que a opinião dos consumidores brasileiros vem sendo cada vez mais respeitada pela indústria de alimentos. Das 53 empresas da primeira edição do Guia, 74% estavam na lista vermelha. Agora, essa porcentagem caiu para 38%”, declarou Gabriela Vuolo, coordenadora da campanha de engenharia genética do Greenpeace.
Além da pressão dos consumidores, muitas companhias já perceberam que a produção e a comercialização de produtos sem transgênicos pode ser uma alternativa econômica vantajosa. É o que mostra o “Relatório Brasileiro de Mercado: a Indústria de Alimentos e os Transgênicos”, lançado pelo Greenpeace em julho. O estudo se baseia no depoimento de dez fabricantes de alimentos (Batavo, Brejeiro, Caramuru, Ferrero, Imcopa, Josapar, Perdigão, Sadia, Sakura e Unilever) e três redes varejistas (Carrefour, Pão de Açúcar e Sonae) que adotaram uma política não-transgênica.
O relatório mostra também que, apesar de ser difícil mensurar o retorno de marketing ou imagem decorrente da adoção dessa prática, nenhuma das empresas consultadas quis ter seu nome associado aos produtos transgênicos e todas temem a rejeição dos consumidores.
Greenpeace, 12/09/2006.
4. Soja desmata a Amazônia, comprova dado de satélite
Soja desmata? Já havia vários indicativos. Mas a resposta dada por um estudo publicado hoje não é só um categórico “sim”. É um “quanto” também.
Cruzando imagens de satélite com levantamentos em campo, cientistas dos EUA e do Brasil estimaram em 5.400 quilômetros quadrados o total de floresta convertida diretamente para grãos em Mato Grosso de 2001 a 2004. No ano de 2003, quando o preço da soja no mercado internacional atingiu seu pico, a conversão direta para lavoura representou quase um quarto de tudo o que se desmatou no Estado campeão da devastação da Amazônia.
Para quem gosta de números, é quase um Distrito Federal onde a soja substituiu a floresta diretamente -- sem contar o efeito conhecido do grão de “empurrar” a fronteira agrícola indiretamente, estimulando a pecuária a ocupar novas áreas. Nesse período, Mato Grosso desmatou 38 mil quilômetros quadrados, ou 3,5 Jamaicas, 40% de tudo o que se perdeu de floresta na Amazônia.
O novo estudo, publicado na revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA (www.pnas.org), foi liderado por Douglas Morton, especialista em sensoriamento remoto da Universidade de Maryland. Ele derruba dois argumentos comuns dos sojicultores para dissociar sua atividade da fama de vilã da floresta. Um é o de que a soja só faz ocupar áreas previamente desmatadas para pastagem e abandonadas pelos pecuaristas -os dados mostram que isso acontece, sim, mas não explica toda a dinâmica do desflorestamento.
O outro é o de que as variações do preço do grão só se refletirão nas taxas de desmatamento dois ou três anos adiante, porque a conversão de floresta para lavoura leva tempo. “Mais de 90% das aberturas para agricultura foram plantadas no primeiro ano após o desmatamento”, rebate o estudo.
Trocando em miúdos, o que os pesquisadores afirmam é que a soja virou, nos últimos anos, um dos grandes vetores da destruição da Amazônia. Uma destruição acelerada, com uso intensivo de tecnologia e com o potencial de se espalhar para outras regiões da floresta. Basta, para isso, o preço do grão subir no mercado externo.
”Os autores demonstraram que existe forte correlação do preço da soja com a taxa anual de desmatamento”, disse à Folha Carlos Souza Jr., também especialista em sensoriamento remoto, do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia). Em comentário na "PNAS", ele qualifica o estudo de “pioneiro”.
Usando imagens de satélite, o americano conseguiu diferenciar desmatamentos para pasto e para lavoura, verificando as áreas dedicadas a plantio eram duas vezes maiores que as abertas para pecuária (333 hectares contra 143 hectares, em média). Também notou uma queda de 12% na conversão de floresta para pasto, enquanto a de floresta para lavoura cresceu 10% no período. “Os resultados alertam para uma conversão rápida e em escala muito grande, um processo que até agora não havia sido documentado”, afirma Souza Jr.
Folha de São Paulo, 05/09/2006.
5. Bayer Cropscience investe para reduzir pirataria
A Bayer Cropscience decidiu investir em rastreabilidade para tentar elevar as vendas de sementes certificadas de algodão. A empresa implantou no país um programa de certificação que engloba toda a cadeia produtiva, desde o setor sementeiro até as empresas exportadoras. O objetivo, segundo Alex Merege, diretor da divisão bioscience da Bayer Cropscience, é triplicar as vendas de sementes certificadas (produzidas pelas indústrias). Segundo Merege, hoje as variedades de algodão da Bayer vendidas pelas indústrias respondem por 10% do mercado brasileiro de sementes, sendo a vice-líder no mercado, depois da MDM.
A empresa calcula que o volume de sementes informais (piratas ou multiplicadas pelos produtores para uso próprio) que circula no mercado seja pelo menos três vezes maior que o de sementes legais.
“O objetivo é transformar esse mercado informal em formal dentro dos próximos cinco anos”, diz Merege. Para alcançar esse índice, a empresa aposta no programa de rastreabilidade e na liberação comercial de sementes transgênicas.
O produtor que compra a semente certificada é cadastrado em um banco de dados, e o processo produtivo é acompanhado pela Bayer. O algodão colhido é submetido à avaliação HVI (High Volume Instruments), sistema que confirma se a semente é a da empresa. Em seguida, o produto é classificado conforme exigências internacionais de qualidade pela Coinbra/Allenberg - parceira da Bayer no programa.
Os lotes recebem um selo com dados sobre o processo produtivo. Merege diz que esse processo já é adotado nos EUA e na Austrália - os dois principais exportadores mundiais. Os produtores desses países recebem prêmios de até 10% sobre a cotação internacional da fibra. “Utilizamos variedades que oferecem uma fibra diferenciada e que é valorizada no mercado externo”, afirma. Neste primeiro ano de programa, os produtores brasileiros receberam um prêmio de 2% sobre o preço internacional, mas o percentual deve subir para 5% no próximo ciclo.
Ele diz que o avanço do plantio ilegal de sementes transgênicas preocupa a empresa, que aguarda a liberação comercial pela CTNBio do algodão Liberty Link (resistente ao herbicida glifosinato) para ampliar as suas vendas no Brasil. Hoje a empresa trabalha com três variedades de sementes convencionais no país. “A expectativa é que seja liberado rapidamente”, afirma.
Nos EUA e na Austrália, a empresa trabalha só com sementes transgênicas. Segundo o International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications (ISAAA), o plantio de sementes transgênicas de algodão responde por 28% da área total plantada no mundo, ou 9,8 milhões de hectares. No Brasil, o Ministério da Agricultura estima que 100 mil dos 857 mil hectares da safra 2005/06 eram transgênicos.
A Associação Brasileira dos Obtentores Vegetais (Braspov) calcula que 65% da área plantada no país com algodão seja cultivada com sementes sem certificação (piratas, salvas pelos produtores e transgênicas). O uso excessivo de sementes informais levou a entidade a desenvolver o programa de certificação Orileg, que também faz o rastreamento do algodão. Ronaldo Schroter, gestor do programa, afirma que o programa cobriu 36% da área plantada no país no primeiro ano de implantação. "A preocupação sobre o rastreamento e as denúncias sobre o uso de sementes transgênicas levaram os produtores a investir mais em sementes certificadas", diz.
Valor Econômico, 12/09/2006.
6. Cresce apreensão de transgênico ilegal
O impasse gerado pela utilização de sementes transgênicas ilegais de soja no Rio Grande do Sul esconde a proliferação de materiais genéticos proibidos no país. Neste ano-safra 2006/07, iniciado em julho, o Ministério da Agricultura contabiliza a apreensão de pelo menos 300 mil sacas de sementes de soja transgênica que seriam plantadas sem registro legal nos devidos órgãos reguladores do segmento.
“Essa semente pirata é algo generalizado no país. É um material de baixa qualidade, que pode trazer doenças e pragas, além de uma baixíssima produtividade”, diz o presidente da Associação Brasileira de Sementes e Mudas, Ywao Miyamoto.
As sementes, batizadas de “bolsa branca” por não ter identificação, foram encontradas em poder de produtores e multiplicadores do norte do Rio Grande do Sul, do oeste do Paraná e do sul de Mato Grosso do Sul. “O material tem entrado em carretas pelas áreas de fronteira gaúcha com a Argentina como se fossem grãos importados. Mas é usado como semente”, diz o coordenador de Sementes e Mudas do ministério, José Neumar Francelino.
A Casa Civil da Presidência da República atua na tentativa de conciliar interesses divergentes de produtores e sementeiros. Em três reuniões na Casa Civil, o Ministério da Agricultura apresentou vários argumentos, legais e agronômicos, contrários à liberação do plantio da soja ilegal. “Mas a questão não é mais técnica, é política”, resume o presidente da Fetag-RS, Ezídio Pinheiro. A Agricultura insiste que os materiais sem registro causam prejuízos agronômicos e financeiros. No ciclo 2005/06, o Tesouro bancou R$ 455 milhões com o seguro de safra. Em 2004/05, foram R$ 823 milhões. Além disso, ao plantar o grão ilegal os produtores desrespeitam as leis de Sementes, de Biossegurança e de Proteção à Propriedade Intelectual.
Nos bastidores das discussões para legalizar mais uma safra de transgênicos irregulares, o governo tenta não melindrar aliados de movimentos sociais de pequenos produtores, sobretudo no Rio Grande do Sul. Para evitar novas apreensões e uma ampliação na fiscalização do ministério, entraram em campo até candidatos do PT nas eleições de outubro. O ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, intermediou uma solução entre a Fetag e o ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto. "O ministro Rossetto colaborou muito nisso", disse, referindo-se ao candidato ao Senado.
Antes disso, as ações de fiscalização já haviam sido suspensas por determinação do superintendente do Ministério da Agricultura no Estado, Francisco Signor. "Temos fiscalizado dentro das nossas possibilidades, do nosso orçamento", afirma o diretor de Fiscalização de Insumos Agrícolas, Álvaro Nunes Viana. "O Signor foi sensível", diz Pinheiro.
Para rebater os alertas sobre a deficiência técnica das sementes, a entidade que representa 220 mil pequenos produtores do estado argumenta: "Essa mesma semente deu a maior safra três anos atrás. Ela resiste mais que as outras. Não pode vir com conversa fiada. Não somos bobos", afirma Pinheiro.
Prejudicados pela invasão de materiais ilegais, os sementeiros já avisaram a Casa Civil que acionarão o Ministério Público. "Se o Banco do Brasil financiar e o Banco Central pagar o Proagro, o Ministério Público vai cair matando", afirma Ywao Miyamoto. "Isso abre um precedente perigoso. É o mesmo que financiar carro contrabandeado".
Valor Econômico, 05/09/2006.
7. Portugal regulamenta áreas livres de OGMs
Já foi publicada em Diário da República a Portaria n.º 904/2006, que estabelece as condições e os procedimentos para o estabelecimento de zonas livres de cultivo de variedades geneticamente modificadas.
O fato transforma Portugal no primeiro país da União Européia a dispor de legislação específica a enquadrar, oficialmente, o estabelecimento e reconhecimento deste tipo de zonas, refere o Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e das Pescas num comunicado.
Tendo por base “o princípio da opção pelo modo de produção agrícola a praticar”, a legislação atribui aos agricultores e aos municípios a iniciativa de requererem o estabelecimento de zonas livres de cultivo de produtos geneticamente modificados, “mediante o cumprimento de determinadas condições e no respeito pela vontade expressa dos agricultores de uma dada zona”.
A recepção e avaliação dos pedidos para o estabelecimento de zonas livres competirá às Direções Regionais de Agricultura do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas (MARDP).
Este ano foram cultivados 1.245,4 hectares de milho geneticamente modificado e foram realizadas 23 ações de formação para os agricultores. Foi também aprovado o folheto informativo que acompanha obrigatoriamente todas as embalagens de sementes de variedades de milho transgênico, informa o MADRP.
MADRP, 05/09/2006.
8. Confirmada planta resistente ao glifosato na Argentina
A Monsanto confirmou que no Nordeste da Argentina o capim massambará (Sorghum halepense) adquiriu resistência ao herbicida glifosato.
As descobertas foram anunciadas recentemente por duas das maiores organizações do ramo de agrotóxicos e fertilizantes na Argentina e pela Monsanto.
Não há registro de resistência desta espécie nos EUA. A Monsanto tem trabalhado com a indústria para desenvolver recomendações visando contornar o problema.
Uma avaliação preliminar identificou que 6.800 ha de um total de 10.000 ha estão com o problema. (...)
A resistência de plantas espontâneas ao glifosato nos EUA já foi confirmada para várias espécies. A Monsanto vem desenvolvendo planos agressivos de manejo da vegetação na entativa de mitigar o problema. (...) Entre eles recomendações de controle químico com outros herbicidas ou métodos mecânicos e não-químicos de controle.
Western Farm Press, 29/08/2006.
9. Produtores do Arkansas movem 4ª ação judicial contra o arroz transgênico
Movido o quarto processo contra a Bayer CropScience, acusando a companhia de negligência depois de compravada a persença de arroz transgênico não autorizado nos EUA.
O governo anunciou que o arroz geneticamente modificado foi encontrado no suprimento de arroz americano do grão tipo longo. Após o anúncio, o preço do arroz, em setembro, na Bolsa de Chicago caiu de $9,83/100 libras para $8,47/100 libras, um declínio de 14%.
As ações judiciais estão centradas no arroz LLRICE601, testado pela Bayer entre 1998 e 2001. Esta variedade contém um gene que o faz resistente ao herbicida Liberty.
O ultimo dos processos foi movido por Ephron H. e Doris S. Lewis de Cross County, Floyd e Genotrice Murrow de Phillips County e Ivory Nealy de Lee County. A ação é a terceira ação federal de classe contra a Bayer. Esta semana, um grupo de produtores de arroz, com base em argumentos semelhantes, entraram na Justiça de Lonoke County Circuit com ação contra a Bayer e a alemã Riceland Foods Inc. (...)
Associated Press, 02/09/2006.
10. França e Suécia identificam arroz transgênico oriundo dos EUA
França e Suécia encontraram rastros de transgenia (LL 601) proibido na União Européia (UE) em mostras de arroz americano submetidas a exames de laboratório, informou uma fonte do bloco. “Dois Estados membros, França e Suécia, encontraram segundo seus próprios métodos (de análises) provas positivas de OGM”, disse esta fonte.
“Os resultados devem ser verificados por um dos dois métodos convalidados pela Comissão Européia”, acrescentou. No mês passado, um carregamento de 20.000 toneladas de arroz americano destinado aos mercados britânico e alemão e suspeito de estar contaminado com o OGM LL 601 havia sido bloqueado em Bruxelas.
Depois desta descoberta, a Comissão Européia impôs controles, sob responsabilidade dos Estados membros, assim como um processo de certificação do arroz.
AFP, 12/09/2006.
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura
Como tirar sementes de hortaliças
Pedro trabalha como caseiro na Praia da Brisa, em Guaratiba, município do Rio de Janeiro. Ele veio da Paraíba há 8 anos e lá em Aroeira plantava milho e feijão e criava vacas. Mas foi só no Rio de Janeiro que aprendeu a plantar e cuidar de hortas. Além da horta no quintal da casa onde trabalha, Pedro cuida de mais outras duas em terrenos vizinhos e que estavam abandonados. Ainda cria 6 vacas, que fornecem o esterco para adubar as plantas. Ele cultiva couve, tomate, coentro, pimentão, banana, alface, entre outras. Pedro retira as sementes das hortaliças para plantar, pois afirma que as sementes compradas nem sempre estão na validade. O povo da região pede sementes a ele quando precisa, principalmente de coentro. Para tirar as sementes, Pedro escolhe as plantas mais bonitas. Depois limpa bem o fruto (no caso de jiló, abóbora, maxixe), separando a semente da polpa. Já para salsinha, coentro, alface, deixa secar primeiramente nos maços pendurados no terreiro e depois esfrega com as mãos para separar as sementes do pendão. Então deixa secar mais em casa, no sol, em um jornal no chão, por uns três dias. Toda noite deve recolher do terreiro para que o sereno não volte a umedecer as sementes. Depois de bem secas, guarda nos vidros, que já devem estar lavados e bem secos. Ele guarda os vidros na prateleira do armário e as sementes tem validade de um ano.
http://www.agroecologiaemrede.org.br/experiencias.php?experiencia=267
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Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
Este Boletim é produzido pela AS-PTA Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa [Tel.: (21) 2253-8317 / E-mail: [email protected] ]
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