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Boletim 257, Por um Brasil Livre de Transgênicos

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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS
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Número 257 - 17 de junho de 2005

Car@s Amig@s,

Alguns mercados importadores da carne brasileira podem rejeitar o frango alimentado com milho transgênico vindo da Argentina, diz matéria da Folha de S. Paulo do dia 14. Mas, continua a reportagem, para resolver esse entrave, algumas empresas devem utilizar o milho nacional (não-transgênico) na produção do frango para exportação, e o importado da Argentina (transgênico) para o frango que será destinado ao consumo interno (!).

Recapitulando parte dessa história: no dia 22 de março a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) aprovou o pedido de importação de milho argentino feito pela AVIPE -- Associação Avícola de Pernambuco. Em seu parecer a Comissão também autorizou a importação do milho resistente a herbicidas NK 603, que não constava do pedido original. O mesmo parecer "técnico" ainda aprovou "Eventuais solicitações da mesma natureza, que envolvam os mesmos eventos [de transformação genética] (...) sem a necessidade de nova avaliação por parte da CTNBio". Isto é, numa só tacada a CTNBio liberou mais do que lhe foi requisitado e de quebra autorizou por antecipação pedidos que sequer foram feitos.

Frente à decisão, os Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente recorreram ao CNBS -- Conselho Nacional de Biossegurança (formado por 11 ministros), que, em sua primeira reunião, proibiu a importação do milho NK 603 e barrou as compras automáticas do grão transgênico mesmo se destinado apenas à produção de ração animal, afirmando que as análises deverão ser feitas caso-a-caso. No mais, a entrada do milho da Argentina continuou válida.

O parecer da CTNBio não tratou especificamente da proteína cry3Bb1, que está presente no milho MON 863 da Monsanto -- que, segundo estudo secreto da própria Monsanto (conforme noticiado também pela Folha de S. Paulo em 23/05/05) ocasionou anormalidades em órgãos internos e no sangue de ratos. O cultivo do MON 863, destaca-se, é permitido na Argentina, abrindo caminho para sua entrada no País misturado nos carregamentos de milho. Além dele, outras variedades não autorizadas para o Brasil são cultivadas na Argentina.

Com base nesse estudo e em casos onde foi detectada a contaminação de alimentos por milho transgênico não autorizado para consumo humano em outros países, organizações da sociedade civil* encaminharam esta semana carta ao CNBS cobrando a revogação integral do parecer da CTNBio.

As entidades procuram com esse pedido evitar que se repitam no País episódios como o ocorrido em 2000 nos Estados Unidos com o milho transgênico StarLink. Proibido para consumo humano segundo recomendação da agência reguladora americana devido seu potencial alergênico, o referido milho "apareceu" em muitos alimentos da Kraft Foods nos Estados Unidos, desencadeando um custoso processo de retirada desses produtos do mercado. Outro fato mais recente e igualmente grave alerta para as dificuldades concretas relativas à fiscalização e ao controle de transgênicos. A Syngenta, outra gigante do ramo, produziu e vendeu a agricultores americanos, durante quatro anos, uma variedade de milho transgênico que não tinha sido aprovada para o consumo humano. Segundo a revista científica Nature, a Syngenta afirmou que houve uma confusão com uma variedade aprovada. Ainda de acordo com a Nature, estão a levantar-se vozes questionando a forma como as empresas de biotecnologia controlam suas atividades. Recentemente o milho vendido por engano foi encontrado em carregamentos destinados ao Japão.

Questionado essa semana durante reunião da Câmara Setorial de Milho, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, sobre o fato de os produtores do Sul não rotularem os animais alimentados com soja transgênica, o Coordenador de Biossegurança do Ministério da Agricultura Marcus Vinícius Coelho disse acreditar que isso se dá porque, ao contrário do que está acontecendo com o milho no Nordeste, não há pressão para a rotulagem no Sul.

Rotular alimentos ou derivados de transgênicos no Pais é lei, que deve ser cumprida independente de existir pressão ou não. O técnico da Agricultura será questionado formalmente para explicar sua declaração e a interpretação que faz da lei de rotulagem.

Dado esse quadro de descontrole, a importação do milho argentino soa mais como uma tentativa de se contaminar a produção local e criar um novo fato consumado para a entrada de transgênicos, como aconteceu com a soja, do que uma tentativa de sanar a falta de produto. Aliás, os dados atuais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab / Min. da Agricultura) mostram que não falta milho e que o governo dispõe de um estoque de mais de 1,7 milhão de toneladas do cereal.

* Assinaram o pedido: AAO (Associação de Agricultura Orgânica), AS-PTA (Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa), ASA (Articulação do Semi-Árido Brasileiro), Centro Ecológico Ipê, CUT (Central Única dos Trabalhadores), Esplar (Centro de Pesquisa e Assessoria), FASE Solidariedade e Educação, Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais, Fundação Cebrac, HOLOS Desenvolvimento e Meio Ambiente, IDEC (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), ISA (Instituto Socioambiental), MMC (Movimento de Mulheres Camponesas), MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) e Terra de Direitos.

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Neste número:

1. Estatal chinesa quer importar 1,5 milhão de toneladas de soja paranaense
2. Importação de milho da Argentina está paralisada
3. EUA aprova sua primeira legislação sobre rotulagem de OGMs
4. Mobilização internacional contra OGMs
5. Manisfetação exige que rede de mercados não use OGMs
6. Arroz transgênico ilegal é vendido na China
7. 62 casos de contaminação genética
8. Soja OGM para o Cerrado
9. Brasil pode se tornar grande produtor de alimentos orgânicos, diz ministro
10. Brasil emperra Protocolo de Cartagena

Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não solução para a agricultura
Doce experiência com açúcar orgânico

Dica de fonte de informação
Livro: "Transgênicos, Recursos Genéticos e Segurança Alimentar - O que está em jogo nos debates?", Lavínia Pessanha & John Wilkinson (2005).

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1. Estatal chinesa quer importar 1,5 milhão de toneladas de soja paranaense
Com objetivo de aumentar o comércio de soja e fortalecer a relação entre o Paraná e a província de Shangdong, a estatal chinesa Chinatex Grãos e Óleos enviou mensagem ao governador Roberto Requião destacando o interesse de aumentar, anualmente, a importação de soja para até 1,5 milhão de toneladas desde que a produção seja convencional [não-transgênica]. A empresa revela, neste primeiro contato, a dificuldade de encontrar grãos convencionais nos Estados Unidos e na Argentina, países que respondem, hoje, por cerca de 70% da importação feita pela empresa chinesa.
A Chinatex se compromete a investir em infra-estrutura no Porto de Paranaguá, propondo a construção de um terminal com galpão capaz de estocar grandes quantidades de grãos e silos da zona rural. "Em relação aos benefícios que forem concedidos para redução do tempo de espera no carregamento dos nossos navios, nós propomos o mesmo para o Estado no Porto de Rizhao, na província de Shangdong", afirma, na mensagem, o presidente da empresa, Wang Jingli, ressaltando que "numa relação de portos ou cidades e estados irmãos deve haver benefício mútuo".
A preferência pela soja brasileira chamada de "tradicional" pelos chineses está no alto teor de óleo e proteína do grão*. Wang acrescenta que o seu país é o maior consumidor de soja do mundo. "Importaremos no mínimo três milhões de toneladas de soja nos próximos três anos, por isso imaginamos que precisaremos carregar vários navios durante a temporada da safra brasileira", salienta.
A Chinatex importou 2,1 milhões de toneladas durante a safra de 2004/2005 -- 1,2 milhão de grãos dos Estados Unidos, 750 mil do Brasil e 480 mil da Argentina. A expectativa que consta na mensagem é de chegar à importação de 5 [milhões de] toneladas de soja convencional brasileira, em cinco anos.
http://www.agenciadenoticias.pr.gov.br/modules/news/article.php?storyid=12288, 15/06/2005.
* Karr-Lilienthal et al. (2004) indicam que a soja transgênica da Argentina tem baixa qualidade nutricional. A soja argentina tem menor teor de proteína (32,6%) que a brasileira (39,3%), que a americana (37,1%) e que a chinesa (44,9%).

2. Importação de milho da Argentina está paralisada
O coordenador de Biossegurança da Secretaria de Defesa Agropecuária, Marcus Vinícius Coelho, do Ministério da Agricultura, disse nesta terça-feira (14) que novas importações de milho transgênico da Argentina estão praticamente paralisadas em virtude da reformulação da CTNBio e das dificuldades legais.
Segundo ele, a importação das 400 mil toneladas por parte dos produtores de Pernambuco não será prejudicada pela decisão do Conselho Nacional de Biossegurança, que revogou a decisão da CTNBio que havia liberado o milho transgênico MON MK603 [NK 603]. Conforme explicou Coelho, a autorização de importação para Pernambuco foi anterior à decisão do conselho, por isso, não haverá necessidade de análise para detectar a presença do MK603. Ele observou que os produtores de Pernambuco serão obrigados a rotular produtos animais e derivados com a informação de que na ração há componente transgênico.
Os produtores presentes à reunião da Câmara Setorial de Milho, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, questionaram o técnico sobre o fato de os produtores do Rio Grande do Sul não serem obrigados a rotular os produtos provenientes de animais alimentados com soja transgênica. Ele explicou que, na prática, é impossível detectar a presença de transgênicos em tecidos de animais alimentados com produtos geneticamente modificados.
A questão da não rotulagem no Rio Grande do Sul se dá porque não existe uma pressão, como ocorre com o milho. Ele explicou que o Ministério da Agricultura é obrigado a rastrear todo o milho importado da Argentina desde os portos até os volumes consumidos em cada granja.
A reformulação da CTNBio, que passará a contar com 27 membros, contra os atuais 20 membros, ainda levará alguns meses, embora o Conselho de Biossegurança tenha estabelecido prazo de 30 dias. Na prática, novas decisões em relação à importação de transgênicos não devem ser tomadas nos próximos três meses, até que a CTNBio esteja reformulada e o Decreto Lei 11.1105 da Lei de Biossegurança esteja regulamentado.
http://www.estadao.com.br/agronegocios/noticias/2005/jun/14/86.htm, 14/06/2005.
N.E.: A Casa Civil está coordenando, a portas fechadas, a elaboração da regulamentação da Lei de Biossegurança.

3. EUA aprova primeira legislação sobre rotulagem de OGMs
O governador do Alasca, Frank Murkowski, assinou no dia 19 de maio a primeira lei do país referente à rotulagem de alimentos geneticamente modificados. A lei 25 do Senado exige que todos os peixes geneticamente modificados sejam "rotulados para identificar peixes ou seus produtos como geneticamente modificados", embalado ou não. A lei foi aprovada por unanimidade pelo Senado do Alasca em março, e pela Assembléia em maio.
"O Alasca se tornou o primeiro estado a oferecer aos cidadãos aquilo que 90% dos americanos querem: rotulagem para os alimentos transgênicos. Acreditamos que essa legislação impulsionará os esforços de rotulagem de outros estados", disse o senador Gary Stevens, autor da lei. É só uma questão de tempo até que todos os estados reparem a lacuna deixada pelo governo federal e passem a exigir a rotulagem obrigatória. (...)
Na ausência de uma política de vigilância por parte do governo dos Estados Unidos, diversas jurisdições no país aprovaram ou estão trabalhando em legislações para regulamentar os alimentos transgênicos. Estas leis normalmente visam proteger os agricultores da contaminação genética, a saúde humana e o meio ambiente. A pesquisa de opinião conduzida pela Rutgers University, publicada em novembro do ano passado, confirmou os dados recentes de que 9 entre 10 americanos (89% na pesquisa mais recente), querem a rotulagem de alimentos transgênicos. (...)
http://www.gmwatch.org/archive2.asp?arcid=5223, 06/06/2005.

4. Mobilização Internacional contra os OGMs
No próximo sábado (18), será realizada uma mobilização pacífica internacional contra os organismos geneticamente modificados. O evento está sendo organizado por 20 associações (Agir pour l'environnement, Greenpeace, Attac, Amigos da Terra, CGT Consom'Action, etc.) e será realizado em vários países da Europa (Bélgica, Suíça, Alemanha, Áustria, etc.) e da América Latina (Guatemala, Bolívia).
A jornada de manifestação reúne as principais associações ecologistas, de agricultura orgânica e a Confédération paysanne (sindicato Francês de camponeses). Serão realizados debates e exposições em mais de trinta lugares na França e nos demais países participantes.
Olivier Keller, secretário nacional da Confédération paysanne, prometeu diante da imprensa que fará de tudo para que não ocorram destruições de campos experimentais de transgênicos no dia 18 de junho (...).
Um dos dirigentes da Confédération, José Bové, pediu aos "ceifadores voluntários" que retomem a ação após o dia 18 caso uma moratória aos experimentos a campo com transgênicos não seja ordenada pelo governo.
Onze novos testes de campo foram autorizados pelo governo. As associações contestam esses testes ao ar livre, já que a diretriz européia 2001/18, sobre a disseminação de organismos geneticamente modificados no meio ambiente (testes ou culturas em campo aberto), não está prevista na legislação francesa.
Apesar de a União Européia ter adotado em 2003 uma legislação rigorosa sobre rotulagem e rastreabilidade de OGMs, garantindo o direito de escolha ao consumidor, a Comissão Européia, por sua vez, estabeleceu apenas um plano genérico sobre a disseminação de transgênicos, permitindo aos Estados membros a escolha de fixar suas próprias regras em escala nacional. (...)
Duas questões cruciais permanecem suspensas segundo as associações: a coexistência entre culturas e as medidas para indenização em caso de contaminações acidentais de campos vizinhos. (...)
http://actu.voila.fr/Depeche/ext--francais--ftmms--villesregions/050608115331.u82upejg.html, 17/06/2005.
http://www.confederationpaysanne.fr/index.php3

5. Manifestação exige que rede de mercado não use OGMs
Funcionários da rede de mercados Sainsbury, em Londres, foram recebidos todas as manhãs dessa semana por uma série de manifestações contra a venda de leite produzido por vacas alimentadas com ração transgênica.
Os protestos foram organizados por uma série organizações, entre elas o Women's Institute e o Friends of the Earth. Os protestos tiveram início na segunda-feira com um ato de nudismo liderado por 8 ativistas do grupo Bare Witness. A manifestação causou tamanho alarde que a polícia foi chamada até o local.
Os grupos escolheram a rede porque cinco anos atrás ela prometera não utilizar ração transgênica na alimentação do gado para produção de laticínios. Mas até o momento a promessa não foi cumprida. O Friends of the Earth também criticou a rede por não permitir que seus clientes saibam quando a carne, o leite ou outros produtos são derivados de animais alimentados com transgênicos.
Clare Oxborrow, da Friends of the Earth, disse que "Os consumidores se preocupam com o fato de o mercado não ter feito valer sua promessa. Os grandes supermercados devem agir agora, exigindo ração não-transgênica de seus fornecedores. Se eles não o fizerem, não só vão continuar negando o direito de escolha do consumidor, mas também irão ameaçar a disponibilidade de produtos livres de transgênicos no futuro".
Embora a rede tenha sido o foco de manifestações essa semana, os ativistas afirmam que esta não é a única a não ter cumprido a promessa de não vender produtos transgênicos. Apesar disso, a rede está experimentando a venda de leite de vacas alimentadas com ração livre de transgênicos em 190 lojas e em breve decidirá se expande ou não a iniciativa (...).
Nos testes do leite não-transgênico, o varejista afirmou que "Exigimos de nossos fornecedores a comprovação de que o leite não é transgênico, baseado em sistemas de rastreabilidade e regimes de teste. E também conduzimos nossos próprios testes através de laboratórios independentes".
A programação da semana contou ainda com um grupo de samba acompanhado de dançarinas, numa demonstração de solidariedade aos agricultores brasileiros, que estão sob ameaça da nova legislação que permite o cultivo de soja geneticamente modificada. (...)
http://www.foe.co.uk/resource/press_releases/sainsburys_targeted_in_wee_10062005.html, 10/06/2005.
http://www.gmwatch.org/archive2.asp?arcid=5373, 15/06/2005.

6. Arroz transgênico ilegal é vendido na China
WUHAN, China - Arroz geneticamente modificado, que não é aprovado para consumo humano em nenhum lugar do mundo, foi encontrado novamente no cadeia alimentar chinesa, desta vez em uma das maiores cidades do país, disse o grupo ambiental Greenpeace nesta segunda-feira.
Pesquisadores do Greenpeace disseram que sacos de arroz comprados na cidade de Guangzhou, no sul, foram testados por um laboratório independente e continham arroz transgênico, que é ilegal para a venda no mercado aberto da China.
Os achados sugerem que a China pode ter inadvertidamente se tornado o primeiro país onde pessoas estão consumindo arroz transgênico, mesmo com testes de segurança ainda não completados. Cientistas em todo o mundo continuam a debater sobre o uso de cultivos transgênicos, mas existem poucas ou nenhuma evidência de que são nocivos à saúde humana.
Dois meses atrás, o ministério da agricultura da China disse que investigaria as alegações do Greenpeace de que arroz transgênico vem sendo ilegalmente plantado e vendido na província de Hubei, na China central. As conclusões do governo ainda não foram divulgadas.
Agora, o Greenpeace afirma que arroz geneticamente alterado para resistir a pestes foi distribuído de locais de experimentos em Hubei para mercados de atacado em Guangzhou, cerca de 144 quilômetros ao norte de Hong Kong.
"Esse arroz ilegal e sem aprovação se espalhou da província de Hubei e está alcançando outras partes do país", disse Sze Pang Cheung, pesquisador do Greenpeace em Pequim.
Sze disse que o Greenpeace comprou o arroz de um atacadista em Guangzhou, que compra de Hubei e depois revende cerca de 60 toneladas de arroz por dia, a maioria para restaurantes em Guangzhou. Em abril passado, o Greenpeace disse que um grupo de cientistas na província de Hubei permitiu que arroz transgênico fosse ilegalmente colocado no mercado ao vendê-lo para agricultores. Nos EUA, o plantio de milho e soja geneticamente modificado é amplo. Mas desde o final dos anos 1990, reguladores americanos e europeus diminuíram a velocidade do processo de aprovação por causa de preocupações com a saúde e a segurança alimentar, assim como temores pelos consumidores.
The New York Times, 16/04/05.

7. 62 casos de contaminação gênica
No dia primeiro de junho, as organizações GeneWatch, da Inglaterra, e o Greenpeace Internacional, lançaram em Montreal, durante as negociações do Protocolo de Cartagena, o primeiro banco de dados disponível na internet com registro dos casos de contaminação genética ocorridos no mundo.
Desde sua introdução em 1996, os cultivos transgênicos têm contaminado alimentos, ração animal e sementes. De acordo com estes registros, atualmente já se contabilizam 62 casos de contaminação gênica ilegal ou sem registro, que ocorreram em 27 países nos cinco continentes, e esses são apenas os incidentes detectados.
"Se considerarmos somente a quantidade de incidentes de contaminação registrados até hoje, torna-se evidente que os organismos geneticamente modificados sairão completamente de controle a menos que os governos estabeleçam regras rigorosas o mais rápido possível", disse Doreen Stabinsky, do Greenpeace Internacional. Entre os casos comprovados de contaminação destacam-se: Estados Unidos (11 casos); a contaminação com o milho "Starlink" foi encontrada em sete países (Estados Unidos, Canadá, Egito, Bolívia, Nicarágua, Japão e Coréia do Sul); a liberação ilegal de transgênicos no meio ambiente ou na cadeia alimentar ocorreu na Índia (algodão), Brasil (algodão e soja), China (arroz), Croácia (milho), Alemanha (mamão) e na Tailândia (algodão e mamão); e seis casos de efeitos negativos à agricultura também foram registrados, incluindo a deformação do capulho do algodão e o surgimento de "super-ervas" tolerantes aos herbicidas.
http://www.biodiversidadla.org/layout/set/print/content/view/full/16740, 10/06/2005.
Conheça a página de registro de contaminações por cultivos transgênicos: http://www.gmcontaminationregister.org.

8. Soja OGM para o Cerrado
A Embrapa Cerrados lança 13 variedades de soja transgênica, sendo três adaptadas ao clima e solo do cerrado. As variedades, pesquisadas por nove anos, têm a tecnologia Roundup Ready [da Monsanto], que dá resistência ao glifosato.
Valor Econômico, 16/06/2005.

9. Brasil emperra Protocolo de Cartagena
Leia na Revista do Terceiro Setor entrevista com a professora Marijane Lisboa (PUC-SP), ex-secretária de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA), que acompanhou em Montreal o 2º Encontro das Partes do Protocolo de Cartagena de Biossegurança.
Outras informações sobre o assunto estão disponíveis em IDEC, Notícias do Consumidor (15/06/05) http://www.idec.org.br/noticia.asp?id=4272#

Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura
Doce experiência com açúcar orgânico
Em 1994, um engenho paraguaio decidiu melhorar sua alternativas comerciais ocupando nichos de mercado no exterior para o açúcar orgânico (sem agrotóxicos). Onze anos depois, o Paraguai é o maior produtor e exportador mundial desse produto. Desde o tímido começo da Açucareira Censi & Pirotta nesse negócio, aumentou o número de empresas dedicadas a ele, os hectares cultivados, as toneladas produzidas, os trabalhadores contratados e a entrada de divisas no país. Hoje, o engenho pioneiro voltou ao açúcar tradicional, mas outras sete empresas participam da produção orgânica, cujo coração está, como o de toda a indústria açucareira, no estado de Gauirá, sudeste do país.
O Paraguai foi a primeira nação envolvida na produção industrial de açúcar orgânico. Depois vieram Cuba, Colômbia e Brasil, mas a queda nos preços tornou o negócio menos atrativo, provocando a deserção dos dois primeiros e uma drástica redução da produção brasileira. A indústria do açúcar orgânico "é uma forma de competir nos mercados internacionais com o açúcar barato produzido pelo Brasil", disse ao Terramérica Raúl Hoeckle, presidente da Açucareira Paraguia (Azpa), o maior engenho do país e a segunda companhia a entrar nessa atividade, em 1999. O negócio é "tentador", apesar dos custos e das exigências internacionais de certificação, comentou Hoeckle.
A tonelada do açúcar orgânico é cotada a US$ 330, enquanto a do açúcar comum está em US$260. Além disso, Hoeckle destacou a importância do aspecto ambiental e que o ciclo produtivo demanda grande quantidade de operários, "o que ajuda a dar emprego à população rural". No primeiro ano de produção de açúcar orgânico, foram obtidas 379 toneladas, até chegar a 40 mil toneladas em 2004, que significaram exportações no valor de US$ 20 milhões. Para este ano espera-se produzir 20% a mais e alcançar US$26 milhões.
As exigências dos compradores de açúcar orgânico foram aumentando ano a ano. Atualmente, exigem certificados do cumprimento dos princípios da agricultura orgânica e de uma série de normas de produção, segundo protocolos de verificação, embora as exigências variem de acordo com o país. A Azpa conta com 14 certificados de diferentes tipos, entre os quais o norte-americano QAI (sigla em inglês de Garantia de Qualidade Internacional). Também iniciou um Programa de Segurança Alimentar baseado nos padrões do Instituto Norte-Americano de Panificação (American Institute of Baking - AIB), que incluem análises de riscos e controle de pontos críticos, bons hábitos na produção e controle de pragas. Os compradores mais importantes de açúcar orgânico paragauaio são Estados Unidos, Alemanha, Israel, Itália, Nova Zelândia, Espanha, Austrália, Malásia e Cingapura.
Segundo um documento fornecido pelo Centro Açucareiro Paraguaio, para uma produção orgânica utiliza-se terrenos onde não tenham sido empregados, por três anos, produtos químicos, fertilizantes, herbicidas, inseticidas, fungicidas ou reguladores de crescimento, entre outros produtos. Além disso, se deve contar com um histórico de cinco anos do uso do terreno. Não são regulamentadas práticas de lavoura, mas se defende a proteção das minhocas e outros organismos do solo, e, em geral a preservação de sua riqueza. É admitida a rotação de cultivos se não forem usados agrotóxicos, e, embora seja permitida a utilização de sementes convencionais, os especialistas recomendam as orgânicas.
"De um hectare bem manejado pode-se colher até 70 mil canas doces orgânicas, como no cultivo tradicional", explicou ao Terramérica Jorge Bonzi, agrônomo especializado no setor açucareiro. Para o açúcar tradicional são utilizados fertilizantes químicos no momento em que a terra é arada. Depois os sulcos são fechados e é aplicado herbicida, prosseguiu. Para o açúcar orgânico, durante a aragem são aplicados fertilizantes naturais, com esterco bovino ou de ave, e um subproduto da industrialização da cana doce orgânica, conhecido como torta de filtro, disse Bonzi.
O controle de ervas daninhas é feito à mãos, bem como o corte da cana, o que, ao mesmo tempo confere à produção orgânica um valor social, pela grande quantidade de trabalhadores necessária. A média de ocupação é de 6,5 pessoas por hectare para um processo que dura todo o ano, e inclui retirada do mato, corte, "alinhamento de palha" (acomodar as folhas caídas depois da safra) e aplicação de fertilizante orgânico, entre outros trabalhos. Outro aspecto destacado por Bonzi é que 90% dos agricultores são pequenos produtores rurais independentes, que depois vendem sua produção aos engenhos. "Já no Brasil, toda a produção orgânica pertence a empresas", ressaltou.
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=4976&edt=34, 10/06/2005.

Dica de fonte de informação
O livro "Transgênicos, Recursos Genéticos e Segurança Alimentar - O que está em jogo nos debates?", faz uma análise criteriosa do conjunto dos temas que agitam o debate sobre os transgênicos: segurança alimentar, recursos genéticos, riscos e regulação. Explica a natureza da polarização entre os Estados Unidos e a União Européia e como isso se reflete nos foros internacionais, sobretudo nas tensões em torno do princípio de precaução. Faz um levantamento minucioso dos movimentos sociais globais e do posicionamento dos atores líderes no sistema agroalimentar. Situa a construção de um novo quadro regulatório no Brasil a partir do contexto mundial, os movimentos de contestação, e avalia os custos e a viabilidade tecnológica e organizacional de implantação da sistemas de segregação entre produtos transgênicos, não-transgênicos e orgânicos. O livro destina-se a todos que querem entender o significado dos conflitos em relação aos transgênicos nos movimentos sociais, no mundo acadêmico ou nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
"Transgênicos, Recursos Genéticos e Segurança Alimentar - O que está em jogo nos debates?", Lavínia Pessanha e John Wilkinson, Campinas, SP: Armazém do Ipê (Autores Associados), 2005.

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