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Boletim 521, Por um Brasil Livre de Transgênicos

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POR UM BRASIL ECOLÓGICO,
LIVRE DE TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS
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WikiLeaks revela pressão dos EUA sobre França e Espanha em favor dos transgênicos. Vaticano também foi alvo
 
Número 521 - 07 de janeiro de 2011
 
Car@s Amig@s,
 
Tempos de grandes revelações: após encerrarmos 2010 com notícias acerca do envolvimento de advogada da Monsanto na elaboração de Projeto de Lei assinado pelo líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), propondo a liberação de sementes estéreis no Brasil, o Ano Novo chega com importantes esclarecimentos sobre o papel do governo estadunidense nos processos envolvendo a liberação de transgênicos além de suas fronteiras.
 
Nesta segunda-feira (3), o jornal inglês The Guardian divulgou despachos diplomáticos dos EUA tornados públicos pelo site WikiLeaks. Os documentos dão conta, por exemplo, de orientações ao governo americano para que iniciasse retaliações “ao estilo militar” em resposta à proibição da França ao cultivo do milho transgênico Bt MON810, da Monsanto, em 2007.
 
Partir para a retaliação tornará claro que o caminho atual [de veto aos transgênicos] tem custos reais aos interesses da UE e poderia ajudar a fortalecer as vozes europeias pró-biotecnologia. De fato, o lado pró-biotecnologia da França -- inclusive dentro do sindicato rural -- nos disse que a retaliação é o único caminho para começar a mudar esta questão na França”, diz o documento assinado por Craig Stapleton, embaixador em Paris e também amigo e parceiro de negócios do ex-presidente George Bush.
 
Algumas partes do documento evidenciam o desprezo da diplomacia norteamericana em relação às questões ambientais, considerando prejudicial o comprometimento com o Princípio da Preocupação:
 
Um dos resultados chave do ‘Grenelle’ [uma mesa redonda ambiental promovida pelo governo francês] foi a decisão de suspender o cultivo do milho MON810 na França. Tão prejudicial quanto isso é o aparente comprometimento do governo da França com o ‘princípio da precaução”. Por aqui, à época da dessa decisão, sentenciavam o mesmo o ex-presidente da CTNBio, e o atual, ao falarem em “princípio da obstrução”.
 
Outros trechos do documento mostram claramente o empenho do governo dos EUA em defender os interesses de suas multinacionais do agronegócio:
 
Tanto o governo da França como a Comissão [Europeia] sugeriram que suas respectivas ações não deveriam nos alarmar, uma vez que proíbem apenas o cultivo e não a importação [de transgênicos]. Nós vemos a proibição ao cultivo como um primeiro passo, ao menos para as lideranças anti-transgênicos, que em breve buscarão a proibição ou maiores restrições às importações. (...) Além disso, não deveríamos estar preparados para ceder no cultivo por causa do nosso considerável negócio de sementes na Europa (...)”.
 
Importante esclarecer que este “nosso” negócio de sementes na Europa é, em verdade, o negócio das múltis, em especial a Monsanto.
 
A recomendação do embaixador ao governo estadunidense não deixa margem para dúvidas com relação à maneira “científica” com a qual é tratada a questão da adoção da biotecnologia na agricultura:
 
A equipe dos EUA em Paris recomenda que calibremos uma lista de alvos para retaliação que cause alguma dor através da União Europeia, uma vez que se trata de uma responsabilidade coletiva, mas que também foque em parte nos principais culpados. A lista deve ser bem avaliada e sustentável no longo prazo, já que não esperamos uma vitória imediata”.
 
Outros documentos vazados pelo WikiLeaks revelam a atuação da diplomacia estadunidense sobre transgênicos junto à Espanha, que cumpre papel oposto ao da França na Europa: trata-se do único país do bloco a cultivar transgênicos comercialmente -- justamente o milho Bt MON810, proibido pela França, Alemanha, Áustria, Hungria, Grécia e Luxemburgo.
 
O documento revelado explica o contexto de ameaça ao cultivo de transgênicos na Espanha, conforme ilustra o trecho abaixo:
 
“O cultivo do milho MON810 na Espanha está ameaçado por uma emergente e bem coordenada campanha para proibir o cultivo de variedades transgênicas na Europa, segundo fontes da indústria. A campanha ganhou força e velocidade nos meses recentes com a decisão da Alemanha em 14 de abril de proibir o cultivo do MON810 - que seguiu um voto da UE apoiando a manutenção da proibição na Áustria e na Hungria. Legislação que ameaça o cultivo do MON810 também foi recentemente introduzida nos parlamentos regionais do País Basco e da Catalunha.”
 
Ao final, a orientação ao governo dos EUA:
 
A equipe solicita renovação de apoio do Governo dos EUA à posição da Espanha a favor da biotecnologia agrícola baseada na ciência (sic) através de intervenção de alto nível do Governo dos EUA em apoio às conclusões da EFSA [Autoridade Europeia de Segurança Alimentar, que em 2008 declarou não haver descoberto novas evidências de risco com relação ao milho MON810]. A equipe solicita ainda o apoio do Governo dos EUA através de um cientista que não pertença ao governo dos EUA para se encontrar com interlocutores da Espanha influentes sobre a questão e assistência no desenvolvimento de um plano de ação para a biotecnologia agrícola para a Espanha.”
 
Segundo a matéria do Guardian, os despachos mostram ainda que, além de o governo espanhol ter pedido ajuda aos EUA para manter pressões sobre Bruxelas, os EUA sabiam previamente como a Espanha votaria na Comissão Europeia, mesmo antes de a comissão de biotecnologia da Espanha haver anunciado sua posição.
 
Como se não bastasse tudo isso, os documentos revelados pelo WikiLeaks mostram também a pressão do governo americano sobre o Vaticano em busca de manifestações de apoio aos transgênicos.
 
Segundo os informes, os EUA acreditam que o Papa tornou-se fortemente favorável aos transgênicos após longo trabalho de lobby sobre seus assessores, mas lamenta que este apoio ainda não tenha sido manifestado publicamente. “Existem oportunidades para pressionar o Vaticano sobre o tema, e assim influenciar um amplo segmento da população na Europa e no mundo em desenvolvimento”, diz um dos documentos.
 
Mas a embaixada dos EUA no Vaticano acredita que seu maior aliado sobre o tema na Igreja, o Cardeal Renato Martino, chefe do Conselho Pontifício Justiça e Paz e o principal homem a representar o Papa na ONU, tenha desistido do apoio:
 
Um representante de Martino disse-nos recentemente que o cardeal havia cooperado com a embaixada no Vaticano sobre a biotecnologia nos últimos dois anos para compensar suas declarações de desaprovação à guerra do Iraque e suas consequências - para manter as relações com o Governo dos EUA afáveis”, diz o documento.
 
Vale relembrar aqui (e estabelecer alguma relação?) a notícia divulgada mundialmente em novembro último de que a Academia de Ciências do Vaticano havia se posicionado a favor do uso de transgênicos (EFE). O apoio teria sido manifestado através da publicação de um informe na revista New Biotechnology.
 
Pouco dias depois da disseminação da notícia pelo mundo o Vaticano publicou um desmentido, dizendo que a Declaração Final da Semana de Estudo sobre “Planta transgênicas para a Segurança Alimentar no Contexto do Desenvolvimento”, patrocinado pela Pontifícia Academia das Ciências, não podia ser considerada como uma posição oficial do Vaticano sobre este tema. Segundo o sacerdote, “a declaração não deve ser considerada como declaração oficial da Academia Pontifícia das Ciências, que tem 80 membros, já que a Academia, como tal, não foi consultada a respeito, nem está em projeto tal consulta”.
 
Curiosamente (ou não), o desmentido não teve a mesma repercussão na imprensa (o site do CIB - Conselho Informações sobre Biotecnologia, ONG de promoção dos transgênicos patrocinada pelas empresas do ramo, mantém até hoje em seu site a notícia de que o “Vaticano deu luz verde para os transgênicos”).
 
Todas essas informações são importantes para eliminar qualquer dúvida sobre a maneira política -- e não científica -- com que são tomadas as decisões sobre transgênicos, não só no Brasil, mas em todo o mundo. Os documentos vazados pelo WikiLeaks evidenciam que a disseminação dos transgênicos pelo planeta se trata de uma estratégia comercial prioritária para governo americano, para a qual é mobilizado, inclusive, o alto escalão da diplomacia.
 
Nesse jogo, cientistas também são mobilizados, alugando aos interessados a legitimidade conferida por seus diplomas para influenciar a opinião pública e tomadores de decisão.
 
Mais ainda, os documentos revelados deixam claro, mais uma vez, que o governo estadunidense está nas mãos das grandes multinacionais: interesses comerciais privados são tratados e defendidos como interesses de estado, com tal prioridade que até retaliações de alto impacto são deslanchadas.
 
Com informações de:
 
The Guardian, 03/01/2011.
 
 
 
 
Valor Econômico, 04/01/2011
 
 
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Neste número:
 
1. Projeto de Lei de Vaccarezza para liberar Terminator é redigido por lobby
2. Advogada nega autoria do PL Terminator e contradições ficam cada vez mais evidentes
3. Algodão: royalty de semente transgênica também começa a gerar divergências
4. Cresce a presença chinesa nos agrotóxicos genéricos
5. Alemanha: dioxina contamina ração para aves e suínos
 
A alternativa agroecológica
 
A turma do Pequi
 
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1. Projeto de Lei de Vaccarezza para liberar Terminator é redigido por lobby
 
PL de Cândido Vaccarezza (PT-SP) é de coautoria de advogada conselheira da Monsanto e outras multinacionais*. Proposta libera uso das sementes “terminator”, proibidas em todo o mundo e condenadas pela ONU e pelo Conselho de Segurança Alimentar
 
Um projeto do líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), sobre sementes transgênicas foi redigido com auxílio de uma advogada de nome associado à empresa Monsanto. A proposta libera o uso da polêmica tecnologia “terminator” no Brasil e tem como coautora a advogada Patrícia Fukuma, conhecida por aconselhar empresas com patentes de organismos geneticamente modificados (OGMs) e assessorar juridicamente a indústria de alimentos. Entidades ambientais e da agricultura familiar ouvidas pelo Congresso em Foco entendem que Vaccarezza fez lobby para a indústria de alimentos e multinacionais de transgênicos. O petista nega a acusação.
 
A proposta revoga, da Lei de Biossegurança (Lei 11.105/2005), o artigo que proíbe a utilização, comercialização e outros usos das tecnologias genéticas de restrição do uso (Gurts, na sigla em inglês) no Brasil. Essa tecnologia é responsável por produzir plantas geneticamente modificadas com estruturas reprodutivas estéreis. A partir dessa tecnologia, são criadas sementes que só podem ser germinadas uma vez, pois as sementes originadas dessas plantas não têm capacidade de se reproduzir. Leia a íntegra da proposta
 
(...) “Pelo risco que representa, no âmbito da Conversão sobre Biodiversidade Biológica, existe uma moratória internacional para que nenhum país plante essas sementes nem faça estufa em plantio experimental, muito menos, em plantio comercial. Esse projeto de lei pega o artigo da Lei de Biossegurança, que reforça a moratória na legislação nacional, e altera a redação justamente para permitir essa tecnologia”, explica o engenheiro agrônomo Gabriel Fernandes, da ONG Agricultura familiar e agroecologia (Aspta).
 
Interesses
 
Na avaliação das entidades, a coautoria da advogada conselheira das multinacionais comprova os interesses da indústria de alimentos e de multinacional que detém patentes de transgenias na aprovação do projeto de Vaccarezza.  A advogada é conselheira do Conselho de Informação sobre Biotecnologia (CIB), que além da Monsanto, tem como associados multinacionais como a Basf, Bayer, Cargill, Dupont e Arborgen.
 
Os indícios da participação da advogada na elaboração do projeto do líder do governo aparecem no arquivo da proposta que consta no site da Câmara. Na página do projeto, o arquivo em PDF do PL 5575/2009 tem como autora Patrícia Fukuma. O nome da advogada aparece nas propriedades do documento. Em arquivos de matérias legislativas, a Câmara não costuma identificar o autor do documento.
 
O líder do governo na Câmara nega que o projeto tenha sido elaborado com a participação da advogada conselheira das multinacionais. (...)
 
Contradições
 
A advogada Patrícia Fukuma confirma a participação na elaboração do projeto do líder do governo. Ao Congresso em Foco, a assessora jurídica da Monsanto afirmou que fez “uma revisão do projeto”. Patrícia conta que, na época, foi procurada pela assessora Maria Thereza Pedroso, assessora técnica da Liderança do PT na Câmara, que lhe pediu para “dar uma olhada no projeto”. “Na verdade, eu não sou autora do projeto. Eu, na verdade, dei alguns pitacos”, disse.
 
Atualmente pesquisadora da Embrapa, a ex-assessora Maria Tereza nega ter procurado a advogada para apresentar o projeto. Ao site, a pesquisadora afirmou desconhecer quem é Patrícia Fukuma. “Eu nem sei quem é Patrícia... O deputado Paulo Piau propôs um substitutivo ao projeto do Vaccarezza. Só se ela que escreveu o substitutivo. Eu não sei quem é ela”, afirmou.
 
Especialista em Relações de Consumo pela Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Patrícia Fukuma é uma das referências no Brasil na área da biotecnologia. A advogada tem em seu currículo os dez anos de experiência como gerente do departamento jurídico da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA).
 
Leia a íntegra desta reportagem em Congresso em Foco, 22/12/2010.
 
2. Advogada nega autoria do PL Terminator e contradições ficam cada vez mais evidentes
 
A advogada Patrícia Fukuma, do escritório Fukuma Advogados, negou nesta quarta-feira (22) que seja coautora do projeto de lei do líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), sobre a liberação do uso de sementes estéreis no Brasil. Em nota encaminhada ao site, a advogada afirma que “desconhece as razões pelas quais aparece” o seu nome no documento obtido pela reportagem.
 
De acordo com o documento, o nome de Patrícia Fukuma consta nas propriedades do arquivo do Projeto de Lei 5575/2009. O documento estava disponível para acesso público na página da Câmara até a publicação da reportagem do Congresso em Foco divulgada hoje (Leia). O nome da advogada estava como a autora do documento.
 
“Reafirmo que não sou coautora do projeto de lei PL5575/2009, de autoria do deputado federal Cândido Vaccarezza, conforme explicado por mim à jornalista Renata Camargo ao longo de três curtas conversas telefônicas. Desconheço as razões pelas quais aparece o meu nome no documento obtido pela jornalista”, diz.
 
Em conversa gravada na última segunda-feira (20), Patrícia afirmou que não era a única autora do projeto, mas que deu “alguns pitacos”: "Não é inteiro de minha autoria".
 
A gravação contextualizada diz: “Na verdade, isso chegou para mim para eu dar uma olhada no projeto. Eu dei uma olhada e fiz algumas considerações. Eu realmente revi a parte da rotulagem e outras questões. Então não é inteiro de minha autoria. Eu fiz uma revisão, vamos dizer...”, declarou.
 
Na nota, encaminhada hoje ao site, Patrícia afirma também que não é, nem nunca foi, advogada da Monsanto. A advogada diz que seu nome não figura “em nenhum processo judicial em trâmite atualmente no Brasil e nos quais a empresa é parte”. Em conversa gravada, a assessoria de imprensa da multinacional listou Patrícia como uma das “pessoas que atende a Monsanto em relação a esse tema”. O escritório Fukuma Advogados, por telefone, também confirmou que o grupo atende a Monsanto. (...)
 
Fonte: Congresso em Foco, 22/12/2010.
 
3. Algodão: royalty de semente transgênica também começa a gerar divergências
 
Depois de uma série de problemas relacionados à liberação comercial da soja geneticamente modificada e a cobrança de seus royalties no país, chegou a vez do algodão transgênico - que deverá ocupar mais de 15% da área plantada na safra atual - começar a gerar disputas semelhantes entre produtores e empresas. Apesar de a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) já ter liberado comercialmente sete variedades de algodão modificado, produtores acusam as empresas de limitarem a introdução de novas tecnologias e encarecer os royalties para recuperar os investimentos realizados.
 
A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e entidades estaduais acusam a Monsanto de elevar em 37,5%, para US$ 55 por hectare, o valor do royalty cobrado pelo algodão "RR". A Abrapa argumenta que o "Liberty Link", da Bayer, custa US$ 40 e o "Bt", da mesma Monsanto, está em US$ 37 por hectare. Ocorre que "Bt" é menos abrangente e o agrotóxico para o "LL" (glufosinato de amônio) custa muito mais caro que o glifosato usado no "RR". (...)
 
Contexto
 
Quando a soja transgênica começou a ser plantada no Brasil mesmo sem aval da CTNBio, a Monsanto conseguiu cobrar os royalties diretamente nas tradings. As empresas exportadoras faziam o teste de transgenia quando recebiam os carregamentos. Para resultados positivos, o produtor ficaria isento do pagamento pelo uso da tecnologia se comprovasse que a cobrança já havia sido feita na aquisição da semente. Caso contrário, o agricultor pagaria uma multa de acordo com o tamanho do carregamento entregue à trading, que fazia o repasse à múlti. No algodão, tanto Monsanto quanto Bayer adotam um sistema similar, com pequenas diferenças. Entre elas, fiscais de empresas terceirizadas verificam os lotes de algodão que chegam à usinas de beneficiamento. Caso o royalty já tenha sido pago na compra da semente, o produtor fica isento do pagamento da multa pelo uso indevido da tecnologia. Caso tenha que pagar a multa, a algodoeira emite um boleto de cobrança e não faz o desconto sobre o preço da fibra no ato da entrega.
 
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2011.
 
N.E.: Este sistema de cobrança de royalties, em que a produção é testada para a presença de transgenia no ato da venda à trading, inviabilizou a produção de soja orgânica e convencional em várias regiões do sul do país: devido à contaminação, muitos produtores de soja não transgênica eram obrigados a pagar royalties e multa na hora da venda. Além disso, muitas vezes a contaminação levava à quebra de contratos e arruinava o negócio.
 
4. Cresce a presença chinesa nos agrotóxicos genéricos
 
A maior indústria de defensivos [agrotóxicos] genéricos do mundo está prestes a trocar de mãos. Atualmente controlada pela KoorIndustries, a israelense Makhteshim-Agan está na mira da China National Chemical, mais conhecida no mercado como ChemChina. O grupo chinês acertou ontem (28/12) a compra de uma participação de 7% da Koor no capital da Makhteshim, que tem um valor de mercado estimado em cerca de US$ 2,4 bilhões.  
 
Mas a estratégia dos chineses vai além de uma participação minoritária. A ChemChina quer adquirir todas as ações da Makhteshim que são negociadas em bolsa. Com a operação, a fatia do grupo chinês na companhia israelense subiria para aproximadamente 60%, o que lhe conferiria o controle da fabricante de produtos genéricos. Dessa forma, os 40% restantes permaneceriam em posse da Koor. (...)
 
Apesar de o negócio aparentemente estar distante do Brasil, a operação terá impactos no mercado nacional de defensivos. Isso porque a Makhteshim controla no país a Milenia, companhia que detém 6% do mercado nacional e sozinha é responsável por quase 20% dos negócios globais do grupo. (...)
 
A queda das barreiras, a valorização do real e o avanço dos transgênicos tornaram o Brasil um dos principais mercados para produtos genéricos. Estimativas das próprias empresas do setor indicam que últimos cinco anos, a participação desse tipo de defensivo passou de praticamente zero para quase metade do faturamento do segmento. No ano passado, as vendas totais da indústria foram de US$ 6,6 bilhões, dos quais 48,5% foram provenientes de produtos genéricos.
 
Fonte: Valor Econômico, 29/12/2010 - em FAEG.
 
N.E.: A matéria diz que “(...) e o avanço dos transgênicos tornaram o Brasil um dos principais mercados para os produtos [agrotóxicos] genéricos.” Em verdade, o avanço dos transgênicos ampliou de maneira astronômica o uso em geral de agrotóxicos no País (ao contrário de toda a propaganda, que sempre prometeu redução do uso de venenos). O fato de os genéricos terem ganhado participação neste mercado deve-se a outros fatores, como a regulamentação e taxas de importação.
 
5. Alemanha: dioxina contamina ração para aves e suínos
 
O governo alemão tentava ontem acalmar a população depois que a contaminação com dioxina em ração de aves e suínos se revelou mais ampla do que se imaginava inicialmente. Acredita-se que até 3 mil toneladas de ração animal contaminada com dioxina foi distribuída para mais de mil propriedades produtoras de aves e suínos em oito Estados alemães, disse ontem o governo. Inicialmente, foi anunciado que havia 500 toneladas contaminadas.
 
Mas a ministra da Agricultura, Ilse Aigner, disse que não havia perigo para a população. "Toda ração animal contaminada que estava no mercado foi devolvida e todo alimento humano foi tirado das prateleiras". O temor na população surgiu desde que fazendas começaram a paralisar a produção de ovos e carnes na segunda-feira. Na região do Estado de Renânia do Norte-Vestfália, autoridades disseram que duas fazendas distribuíram mais de 100 mil ovos potencialmente contaminados.
 
Outra fazenda no Estado de Saxônia-Anhalt distribuiu 136 mil ovos para processamento na Holanda no começo de dezembro, segundo o Ministério da Agricultura. A origem da ração contaminada foi um a distribuidor de óleos para produção de ração animal no Estado de Schleswig-Holstein, onde óleos destinados a uso industrial em biocombustível foram distribuídos para ração animal.
 
Mas o caso atual continua sem ser esclarecido, segundo porta-voz do ministério. "Não identificamos a causa da contaminação com dioxina e há atualmente apenas especulação".
 
Aigner disse que os óleos eram destinados à produção de papel, mas foram distribuídos para uso na ração de aves suínos. Ontem, a polícia fez blitz em uma companhia, no Estado de Schleswig-Holstein, suspeita de distribuir óleos contaminados com dioxina depois que um procurador do Estado abriu uma investigação preliminar.
 
Mais de 8 mil aves foram sacrificadas em uma única fazenda, segundo autoridades, embora a decisão de matar os animais positivos para dioxina até agora permaneça com os produtores. Dioxinas são toxinas resultantes da queima de dejetos e de outros processos industriais. Contribuem para elevar as taxas de câncer.
 
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2011, em IHU.
 
A alternativa agroecológica
 
A turma do Pequi
 
Nos Gerais das Minas, a cerca de 25 quilômetros da sede do município de Montes Claros, fica a comunidade Abóboras. Lá crianças e adolescentes estão descobrindo as riquezas do cerrado e a importância do trabalho e da preservação da natureza. É a Turma do Pequi que, de forma animada, ajuda a construir alternativas para o futuro e para a permanência na própria comunidade, amando e respeitando o cerrado.
 
Dona Maria Madalena Oliveira Leite, mais conhecida pela turma por Tia Nenza, é da Pastoral da Criança e secretária da associação da comunidade. Ela conta que as crianças e os adolescentes eram uma preocupação muito grande. Nas férias, muitos ficavam nas ruas e nos barezinhos jogando sinuca. Além disso, eram poucos os que se interessavam pela preservação ambiental e pelas riquezas do cerrado. A maior preocupação estava relacionada à dúvida sobre qual será o futuro do campo se os jovens não se interessarem por ele.
 
Foi aí que resolveram fazer um projeto para criar uma ocupação que pudesse ensinar as crianças e adolescentes sobre as potencialidades da região. Por meio do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas, o CAA-NM, do qual Dona Nenzinha também é diretora, foi elaborado um pequeno projeto e apresentado para a Coordenadoria do Extrativismo do Ministério do Meio Ambiente. Para a alegria de todos, o projeto foi aprovado.
 
No início eram 12, agora já são 22 crianças e adolescentes de 17 famílias participando. Eles se reúnem e, acompanhados, vão para o cerrado onde fazem o extrativismo do pequi, que depois é também beneficiado pelo grupo. Outros frutos nativos também são coletados. Esse trabalho é muito importante para os povos tradicionais da região, pois garante renda deixando o cerrado em pé.
 
Seu Jair, nascido e criado na comunidade, é considerado o professor do cerrado. É ele quem acompanha a garotada nas chapadas, fazendo com que a coleta do pequi seja sempre uma aula. As crianças e adolescentes vão conhecendo desde as plantas medicinais, sua utilização e como preparar as frutas nativas, até os pássaros da região e orientações para não se perderem no cerrado. Para seu Jair, o símbolo do trabalho na comunidade é o pequi, que deve ser preservado. Ele observa que “antes a garotada vivia para cima e para baixo a toa, e agora eles ficam ajudando e aprendendo”.
 
A turma se divide em grupos: os catadores, os selecionadores, os sanitizadores, roletadores, tiradores de filhotes, branqueadores e seladores. Laurinéia Fernandes dos Santos, de 18 anos, conta que quando os sacos estão empacotados e selados, vão para o congelador para esperar o carro da Cooperativa Agroextrativista Grande Sertão. Essa cooperativa é formada por famílias agricultoras do Norte de Minas e é responsável pela comercialização dos produtos. Depois que é vendido, o dinheiro é dividido entre todos que participaram. Os outros frutos do cerrado, como o coquinho-azedo e o panã, também são entregues à Cooperativa, que os despolpa e comercializa.
 
Durante as atividades, os jovens aprendem a importância do trabalho em equipe e da preservação do cerrado, que é um laboratório vivo. Antes, muitos não sabiam, por exemplo, que o pequi serve para fazer polpa. Muitos outros aprendizados foram adquiridos à partir das visitas na chapada, não só sobre as frutas, mas também sobre as plantas medicinais.
 
Todo esse trabalho tem estimulado a permanência das famílias no campo e a valorização das comunidades tradicionais. As crianças e adolescentes da comunidade estão se engajando e fortalecendo o trabalho, que fica mais bonito pelo fato de ser coletivo.
 
É também importante ver os frutos do esforço de pessoas como Tia Nenza e seu Jair. Eles provaram que com poucos recursos, mas com muito empenho, é possível desenvolver um projeto tão interessante que consegue mobilizar toda a comunidade, principalmente crianças e jovens: trabalhando com educação ambiental, preservando e aprendendo a respeitar e conhecer o cerrado e toda a sua agrobiodiversidade como fonte de vida, de sobrevivência dos povos e comunidades tradicionais do Norte de Minas Gerais.
 
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
 
Este Boletim é produzido pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e é de livre reprodução e circulação, desde que citada a AS-PTA como fonte.

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