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Boletim 449, Por um Brasil Livre de Transgênicos

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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS
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Número 449 - 10 de julho de 2009

Car@s Amig@s,

O jornal argentino Página/12, que em abril havia divulgado uma pesquisa da Universidade de Buenos Aires indicando efeitos letais do glifosato a embriões de anfíbios, publicou no final de junho uma extensa entrevista com Gilles-Eric Seralini, pesquisador francês que há vários anos se dedica ao estudo sobre agrotóxicos e transgênicos. As informações apresentadas por Seralini não só confirmam as descobertas da pesquisa argentina, como comprovam a letalidade do glifosato para células embrionárias humanas, entre outros problemas.

Para quem não se lembra, o glifosato é o princípio ativo do herbicida Roundup, da Monsanto, usado em grandes quantidades nas lavouras de soja transgênica Roundup Ready.

Apresentamos aqui um pequeno resumo da matéria:

Seralini é especialista em biologia molecular, professor da Universidade de Caen (França) e diretor do Comitê de Pesquisa e Informação sobre Engenharia Genética (Criigen). Em 2005, descobriu que algumas células da placenta humana são muito sensíveis ao herbicida Roundup (da empresa Monsanto), inclusive em doses muito inferiores às utilizadas na agricultura.

Em 2007, Seralini publicou alguns avanços sobre este tema. “Trabalhamos em células de recém-nascidos com doses do produto cem mil vezes inferiores às que qualquer jardineiro comum está em contato. O Roundup programa a morte das células em poucas horas”, declarou, à época, à agência de notícias AFP, ressaltando que “os riscos são, sobretudo, para as mulheres grávidas, mas não só para elas”.

Em dezembro passado, a revista científica Pesquisa Química em Toxicologia (Chemical Research in Toxicology), da American Chemical Society, publicou seu novo estudo, em que constatou que o Roundup é letal para as células humanas. Segundo o trabalho, doses muito abaixo das utilizadas em campos de soja provocam a morte celular em poucas horas. “Mesmo em doses diluídas mil vezes, os herbicidas Roundup estimulam a morte das células de embriões humanos, o que poderia provocar malformações, abortos, problemas hormonais, genitais ou de reprodução, além de diversos tipos de cânceres”, afirmou Seralini em seu laboratório na França.

O artigo, de 11 páginas, focalizou-se em células humanas de cordão umbilical, embrionárias e da placenta. A totalidade das células morreu dentro das 24 horas de exposição às variações do Roundup. “Estudou-se o mecanismo de ação celular diante de quatro formulações diferentes do Roundup (Express, Bioforce ou Extra, Gran Travaux e Gran Travaux Plus). Os resultados mostram que os quatro herbicidas Roundup e o glifosato puro causam morte celular. Confirmado pela morfologia das células depois do tratamento, determina-se que, inclusive nas concentrações mais baixas, ele causa uma grande morte celular”.Também confirmou o efeito destrutivo do glifosato puro, que, em doses 500 vezes menores às usadas nos campos, induz à morte celular.

“(...) Sou especialista nos efeitos dos transgênicos, e sabemos que o câncer, as doenças hormonais, nervosas e reprodutivas têm relação com os agentes químicos dos transgênicos. Além disso, esses herbicidas perturbam a produção de hormônios sexuais, pelo qual são perturbadores endócrinos”, afirma Seralini.

Como não poderia deixar de ser, desde que começou a divulgar suas pesquisas nesta área, Seralini foi alvo de perseguição e de campanha de difamação patrocinada pelas multinacionais de biotecnologia.

Visando desqualificar o pesquisador e suas descobertas, a Monsanto divulgou um comunicado dizendo que “Os trabalhos efetuados regularmente por Seralini sobre o Roundup constituem um desvio sistemático do uso normal do produto com o fim de denegri-lo, apesar de se ter demonstrado sua segurança sanitária há 35 anos no mundo”.

A antiguidade do produto no mercado é o mesmo argumento utilizado na Argentina pelos defensores do modelo de agronegócio. As organizações ambientalistas reforçam que essa defesa tem seu próprio beco sem saída. O PCB (produto químico usado em transformadores elétricos e produzido, dentre outros, pela Monsanto) também foi utilizado durante décadas. Recebeu centenas de denúncias e foi vinculado com quadros médicos graves, mas as empresas continuavam defendendo seu uso baseado na antiguidade do produto. Até que a pressão social obrigou os Estados a realizarem estudos e, com os resultados obtidos, proibiu-se seu uso. “Com o glifosato, acontecerá o mesmo”, respondem as organizações.

“Há 25 anos trabalho com as perturbações dos genes, das células e dos animais provocadas por medicamentos e contaminantes. Advertimos o perigo existente e propomos estudos públicos. Mas, em vez de aprofundarem estudos e nos reconhecerem como cientistas, querem tirar nossa importância acadêmica chamando-nos de “militantes ambientalistas”. Sabemos claramente que o ataque vem de empresas que deverão retirar seus produtos do mercado se os estudos forem feitos”, denuncia Seralini, que, hoje, adverte sobre o efeito sanitário não apenas dos agrotóxicos, mas também dos alimentos transgênicos e de seus derivados.

Leia a íntegra da reportagem, traduzida para o português por Moisés Sbardelotto, no site do Instituto Humanitas Unisinos:
http://www.unisinos.br/_ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=23292

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Neste Número:

1. Operação apreende 2,5 milhões de litros de agrotóxico adulterado
2. EUA voltarão a monitorar uso de agrotóxicos
3. Quem comeu quem
4. Brasil falha na conservação da biodiversidade

Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura

Calda de angico para controle de pragas

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1. Operação apreende 2,5 milhões de litros de agrotóxico adulterado

Operação simultânea da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Polícia Federal apreendeu 2,5 milhões de litros de agrotóxicos adulterados em Londrina (PR) e Taquari (RS), em 01 e 02 de julho. A ação também interditou a linha de produção de cinco agrotóxicos da empresa Milenia Agrociencias S/A, filial do grupo israelense Makhteshim Agan.

Durante a ação, deflagrada simultaneamente nas duas cidades da região Sul, foi constatado que os agrotóxicos Trop (Glifosato), Herbimix (Atrazina + simazina), Pyrinex (Clorpirifós), Posmil (Triazina) e Podos (Flumetralina) eram com adulteração na fórmula, sem autorização.

A Anvisa apreendeu, ainda, os documentos com a ordem de produção desses produtos.

A interdição é valida por 90 dias, prazo em que os produtos não poderão ser comercializados. A Milenia Agrociencias S/A terá cinco dias para apresentar contraprova.

As investigações, que resultaram na operação, começaram a partir de denúncia a respeito da adulteração do agrotóxico Podos. Antes da ação, a Anvisa colheu amostras do produto no mercado e encaminhou para análise da Polícia Federal e do Instituto Adolfo Lutz.

A perícia detectou que o Podos era comercializado com formulação tóxica acima do permitido. O produto é registrado no Ministério da Agricultura mediante avaliação toxicológica efetuada pela Anvisa com padrões toxicológicos de classe III, ou seja, medianamente tóxico. O material colhido no mercado apresentou teores de toxicidade de classe I, isso é: extremamente tóxico.

Com a formulação encontrada no mercado, esse produto pode causar, nos trabalhadores rurais que manipulam o agrotóxico, irritação irreversível da córnea e cegueira.

Fonte:
Assessoria de Imprensa da Anvisa, 03/07/2009.
http://www.anvisa.gov.br/divulga/noticias/2009/030709_1.htm

2. EUA voltarão a monitorar uso de agrotóxicos

Sob intensa pressão de diversos grupos liderados pela ONG americana Union of Concerned Scientists, o Departamento de Agricultura do governo americano (USDA, na sigla em inglês) declarou que reestruturará seu programa de monitoramento do uso de agrotóxicos em culturas alimentares, que havia sido suspenso pela administração de Bush.

Os levantamentos realizados pelo Serviço Nacional de Estatísticas Agrícolas (NASS) do USDA fornecem os únicos dados gratuitos e acessíveis ao público sobre utilização de agrotóxicos nas lavouras agrícolas nos EUA. Agências governamentais, grupos ambientalistas, cientistas e outros pesquisadores dependem destes dados para avaliar os riscos dos agrotóxicos para a saúde humana e o meio ambiente e para comparar o uso de agrotóxicos em lavouras transgênicas versus plantios convencionais.

O primeiro passo do NASS na reestruturação do programa será a coleta de dados sobre a aplicação de agrotóxicos em frutas e nozes neste outono. Se o Congresso aprovar integralmente o fundo destinado ao programa no orçamento federal de 2010, a agência coletará dados também para hortaliças, grãos de maior importância econômica e sobre agrotóxicos utilizados em pós-colheita.

Fonte:
Union of Concerned Scientists - FEED - junho de 2009.
http://www.ucsusa.org/food_and_agriculture/feed/feed-latest.html#1

3. Quem comeu quem

O Professor Philip H. Howard, da Michigan State University, nos EUA, elaborou um completo estudo sobre a evolução das fusões e aquisições no setor sementeiro mundial desde 1996.

No endereço http://www.msu.edu/~howardp/seedindustry.html há um quadro resumindo a consolidação das maiores empresas globais da indústria sementeira, incluindo animações gráficas ilustrando as informações.

O material está disponível em inglês.

4. Brasil falha na conservação da biodiversidade

O Brasil está aquém das metas de preservação da biodiversidade que assumiu para 2010 dentro da CDB (Convenção sobre Diversidade Biológica), o mais importante acordo internacional para gestão da fauna e da flora do planeta. Em vigor desde dezembro de 1993, o tratado entra agora numa fase crítica sob o risco de virar uma peça de ficção, por culpa do Brasil e de outros países signatários.

No ano que vem, em Nagoya (Japão), os membros da convenção terão de mostrar se fizeram a lição de casa. Um dos indicadores para saber se a CDB vem sendo seguida nas nações que assinaram o texto é o conjunto de metas que cada uma delas definiu para si.

O Brasil apresentou suas metas em 2006. Duas delas são até ambiciosas -zerar o desmatamento da mata atlântica e reduzir em 75% o desmate amazônico-, mas não serão cumpridas. O país provavelmente será cobrado pelo cumprimento daquilo que foi colocado no papel. (...)

O grande gargalo das discussões hoje é a repartição dos benefícios pelo uso dos conhecimentos de índios e comunidades tradicionais. Sem o desfecho desse nó -algo que pode ocorrer na próxima reunião da convenção, em outubro de 2010- a contribuição real do documento será quase nula, dizem os especialistas no tema.

Braulio Dias, diretor de conservação da biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, diz que o governo atualmente está em fase de coleta e sistematização de dados para, depois, concluir o balanço sobre cumprimento de metas nacionais na CDB.

Mesmo com informações incompletas, ele diz que "no mundo inteiro a gente já sabe que não vai atingir as metas". Porém, afirma que houve avanços em algumas áreas.

"Na Amazônia, por exemplo, tivemos um avanço importante na redução do desmatamento nesses últimos anos, apesar de o desflorestamento predatório continuar." Ele ressalta que o número de áreas protegidas cresceu. "Só que a expansão ocorreu basicamente na Amazônia; fora desse bioma o percentual é mínimo."

Dias diz que hoje não há condições favoráveis no país para atingir as metas. "É uma guerra que estamos perdendo antes de começar." Segundo ele, é preciso criar mecanismos econômicos para premiar quem preserva a biodiversidade, como o pagamento por serviços ambientais.

Ele critica, ainda, a tentativa dos ruralistas de alterar o Código Florestal e deixá-lo menos rigoroso, legalizando o desmate de parcelas maiores de terra. "É incrível que, num país como o Brasil -um país que possui agricultura moderna, tecnificada- exista apoio da bancada ruralista no Congresso Nacional para destruir o Código Florestal", diz. "Isso é dar um tiro no pé." (...)

Fonte:
Folha de São Paulo, 06/07/2009.

Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura
Calda de angico para controle de pragas

Seu Chico e dona Maria do Socorro moram na comunidade de Massapé, em Queimadas-PB, numa região produtora de fava. Porém, dos anos 1970 para cá muitas pragas e doenças passaram a atacar os plantios de fava prejudicando enormemente a produção. Estimulados pela extensão rural, muitas famílias passaram a usar venenos químicos. Mas, ao invés de resolver, essas práticas trouxeram mais problemas como desequilíbrio ambiental, doenças e até morte de alguns agricultores. Foi quando passaram a experimentar fórmulas alternativas.

Seu Chico começou a fazer testes com calda de angico há 8 anos e percebeu que poderia controlar assim as pragas da fava. Ensina que para fazer a calda é necessário juntar dois quilos de folhas de angico e macerar. Depois, juntar 20 litros de água. Deixa essas folhas de molho por 10 dias. E na hora de aplicar, ele mistura o extrato de angico com um pouco de calda de fumo.

Para preparar a calda de fumo ele junta meio quilo de folha em 5 litros de água e também deixa de molho por 10 dias. Depois coloca um quilo de açúcar para que o extrato se fixe às folhas. Mistura meio litro de calda de fumo para 16 litros de calda de angico.

Prefere aplicar a mistura na época da florada entre 5 e 6 horas da manhã. Aplica de 5 em 5 dias. A família ainda adverte que a calda de angico que por acaso sobrar deve ser guardada em garrafas de plástico bem vedadas. Assim, pode durar até três meses. Ainda aconselha não usar essa calda em hortaliças, porque deixa um gosto muito forte nas folhas.

Fonte: Agroecologia em Rede.
http://www.agroecologiaemrede.org.br/experiencias.php?experiencia=592


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Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos

Este Boletim é produzido pela AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia e é de livre reprodução e circulação, desde que citada a AS-PTA como fonte.

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