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Europa diz não aos transgênicos

Principais países da União Europeia decidem banir o cultivo de alimentos geneticamente modificados. Decisão tem mais peso político que econômico

Poucos temas despertam tanta polêmica no mundo quanto os alimentos geneticamente modificados. Desde que os transgênicos começaram a chegar ao campo e às mesas, há duas décadas, uma guerra em escala mundial vem sendo travada. De um lado estão seus beneficiários e defensores, como as grandes empresas de biotecnologia e os agricultores que produzem commodities agrícolas em larga escala. Do outro, ambientalistas e pequenos produtores rurais, que alegam não haver garantias de segurança para o consumo humano de alimentos produzidos a partir de sementes modificadas geneticamente.

Na última semana, a Europa, ou a maior parte dela, escolheu em qual lado desta batalha vai ficar. Em uma decisão de certa forma esperada, 19 dos 28 países da União Europeia decidiram banir o cultivo de alimentos geneticamente modificados. Entre eles, potências como Alemanha, França e Itália, além de parte do Reino Unido. Foi uma mensagem dura contra o lobby das companhias de biotecnologia e defensivos agrícolas, como Monsanto, Dupont, Bayer ou Syngenta. “Esses países estão dando um claro sinal de que não têm confiança nos relatórios de segurança sobre os alimentos transgênicos”, afirmou à ISTOÉ Franziska Achterberg, diretora de Políticas de Alimentação do Greenpeace na Europa.

A  decisão tem, de fato, um peso político considerável, mas pouco impacto econômico sobre os transgênicos. Hoje a Europa cultiva apenas uma espécie de milho resistente a uma praga comum na Espanha. São apenas 143 mil hectares, em quatro países, algo como 0,1% das áreas cultiváveis do continente. No mundo, os alimentos transgênicos, em especial a soja, o milho e algodão, são plantados em 170 milhões de hectares. “O peso econômico dessa decisão na Europa é muito pequeno, eles não dependem das commodities agrícolas, por isso, para eles, é fácil tomar essa decisão”, diz Rubens José do Nascimento, biólogo que integra a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Ele acredita que os alimentos transgênicos são seguros.

Os europeus, no entanto, optaram por não estender a proibição para alimentos transgênicos utilizados na ração animal. Todos os anos a União Europeia consome mais de 35 milhões de toneladas de soja para alimentação de suas aves e suínos. Quase 90% dessa soja vêm de países produtores de variedades transgênicas do grão, como o Brasil, responsável por 43% das importações do bloco econômico. “Se o Brasil não tivesse sucumbido à pressão das grandes empresas poderíamos estar oferecendo um produto diferenciado sob o ponto de vista comercial, como a soja não transgênica”, diz Leonardo Melgarejo, professor de Agronomia da Universidade Federal de Santa Catarina e um crítico contundente da liberação do cultivo de alimentos geneticamente modificados no Brasil. 

A decisão da maior parte dos países europeus de banir os transgênicos não servirá para por fim à discussão. Como se vê, ela será mais um combustível importante para ampliar ainda mais a polêmica em torno deles.

Fonte: Isto é em 09.10.15


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