Especialistas apontam resistência de algumas ervas daninhas
CLEBER BERTONCELLO
Uma ameaça silenciosa ronda as lavouras de soja transgênica nos campos gaúchos. Nas duas últimas safras, a resistência de algumas ervas daninhas ao glifosato chamou a atenção de especialistas e trouxe preocupação a produtores rurais.
Diretamente ligado às culturas transgênicas, o herbicida é um dos mais usados no Estado e apresenta no preço menor - em comparação a outros produtos do gênero vendidos no Rio Grande do Sul - um de seus atrativos. Num hectare, a aplicação de outro produto pode ser até R$ 60 mais cara do que do glifosato, que custa em média R$ 20 por hectare.
Pesquisador de manejo e controle de ervas daninhas da Embrapa Trigo de Passo Fundo, Leandro Vargas realizou um estudo sobre o tema. Segundo ele, as espécies de ervas daninhas conhecidas como azevém, buva e leiteiro desenvolveram uma tolerância natural ao glifosato. A razão, aponta o especialista, é o uso contínuo do produto nos mesmos locais, sem que exista uma alternância de culturas, entre soja e milho, por exemplo.
- É necessária uma conscientização imediata por parte dos produtores, para que o glifosato não continue perdendo sua eficácia. Usar por mais de dois anos consecutivos numa mesma área é temeroso - diz Vargas.
Fatores como aplicação podem afetar desempenho
De acordo com a empresa Monsanto, uma das maiores fabricantes do herbicida no mundo, que se manifestou à reportagem por meio de nota da assessoria de imprensa no Rio Grande do Sul, fatores como o momento e a forma da aplicação na lavoura, bem como a dose utilizada, além de questões climáticas, como seca, chuva, frio e geada, entre outros, podem resultar em falhas no desempenho do glifosato. Segundo a empresa, isso não pode ser confundido com a resistência de algumas ervas daninhas. Se isso ocorrer, a orientação dada pela multinacional é que, antes de tomar qualquer tipo de medida, o produtor procure a orientação de um técnico agrícola.
Administrador de uma área de 1,3 mil hectares no interior de Cruz Alta, no Noroeste, o agrônomo e produtor Nilton Luiz da Silva, 41 anos, vem apelando para uma prática polêmica na luta contra as ervas daninhas. Ele mistura outros produtos com o glifosato na busca por uma fórmula mais abrangente e de maior eficiência.
- Fazemos o controle das pragas no inverno, para evitar que elas (ervas daninhas) se alastrem na lavoura depois - revela Silva.
Segundo Vargas, este tipo de prática, embora não recomendada, é muito comum no Estado.
Entenda o caso
> O glifosato é um tipo de herbicida utilizado nas lavouras de soja transgênica
> Um estudo realizado por um pesquisador da Embrapa Trigo, de Passo Fundo, apontou que, nos últimos dois anos, algumas espécies de ervas daninhas se tornaram resistentes ao produto
> Com isso, mesmo após sua aplicação, as lavouras podem continuar sujas e exibindo ervas daninhas
> A recomendação de especialistas é de que se faça a rotação de culturas e que o mesmo herbicida não seja aplicado por mais de dois anos numa mesma lavoura
Fonte:Zero Hora, Porto Alegre, 26 de janeiro de 2007. - Campo e Lavoura
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