Greenpeace realiza protesto em frente à sede do governo do Rio Grande do Sul para denunciar falsas promessas das indústrias de biotecnologia para os agricultores
Porto Alegre, 19 de maio de 2004 Ativistas do Greenpeace realizaram hoje uma manifestação em frente ao Palácio Piratini, sede do governo do Rio Grande do Sul, denunciando problemas ambientais relacionados ao plantio de soja transgênica. Os ativistas entregaram ao governador gaúcho uma amostra do pacote tecnológico vendido pela Monsanto, o qual compreende as sementes de soja transgênica, o herbicida Roundup (nome comercial do glifosato vendido pela Monsanto) e a super-erva daninha; na faixa, estava estampada a mensagem “Rigotto, é isso que você quer para o RS?”. A organização ambientalista entregou também uma carta (1), expondo as falsas promessas das indústrias de biotecnologia e demandando que o governo proteja o meio ambiente e os interesses do Rio Grande do Sul. A atividade faz parte da expedição Brasil Melhor sem Transgênicos, que o Greenpeace está realizando desde meados de abril.Usando informações de um estudo realizado por Charles Benbrook sobre os primeiros oito anos de plantio de transgênicos nos Estados Unidos, o Greenpeace aponta que o uso contínuo de um mesmo agrotóxico na soja transgênica causa o surgimento de super ervas daninhas, obrigando o agricultor a usar cada vez mais herbicida. A soja transgênica é a principal responsável pelo aumento do uso de agrotóxicos nos Estados Unidos (2).
“As supostas vantagens ambientais dos cultivos transgênicos, tão aclamadas e divulgadas pelas indústrias de agrotóxicos, não resistiram ao tempo”, declarou o engenheiro agrônomo Ventura Barbeiro, da Campanha de Engenharia Genética do Greenpeace Brasil. “Após oito anos de cultura transgênica, ficou claro que os argumentos usados por cientistas independentes, grupos ambientalistas e associações de defesa dos consumidores estavam corretos. Hoje é usado muito mais herbicida na agricultura norte-americana do que antes da introdução dos transgênicos”, completou.
Durante a manifestação, o engenheiro agrônomo do Greenpeace foi recebido pelo chefe do gabinete da Casa Civil do Rio Grande do Sul, Pedro Bisch Neto. “Vou encaminhar a carta e os documentos para o governador, sugerindo que as duas áreas envolvidas (secretarias de Agricultura e de Ciência e Tecnologia) analisem e incorporem os dados apresentados pelo Greenpeace. É importante que o governo estadual possa tomar uma decisão levando em conta as vantagens e desvantagens já documentadas sobre o plantio transgênico”, afirmou Bisch Neto.
O aumento dramático no uso de herbicidas se deve, principalmente, à redução da eficácia do glifosato (3). Isto é causado por vários fatores, como a alteração na população de ervas daninhas resistentes ou tolerantes (4) ao glifosato. O uso constante do glifosato seleciona as plantas com menor sensibilidade ou com algum tipo de proteção contra o herbicida. A redução do preço do herbicida associado a sua menor eficácia leva o agricultor a usar quantidades cada vez maiores de agrotóxicos em sua lavoura transgênica.
O Rio Grande do Sul é atualmente o maior foco de contaminação transgênica no Brasil: dos cerca de 83 mil agricultores que plantaram soja transgênica na safra 2003/2004, mais de 81 mil estão no Estado gaúcho. A soja transgênica começou a ser plantada ilegalmente no Estado em 1998, após ter sido contrabandeada da Argentina. Hoje, seis anos depois, os agricultores gaúchos já começam a enfrentar problemas referentes ao aparecimento de ervas daninhas resistentes ao glifosato e ao consequente aumento do uso de agrotóxicos.
“Visitando o interior do Rio Grande do Sul, é possível encontrar vários agricultores que não conseguem entender a razão da perda de eficácia do herbicida glifosato ano após ano de cultivo da soja transgênica” afirmou Barbeiro. “Os agricultores relatam que a quantidade de agrotóxico dobrou ou triplicou após alguns anos de plantio de soja transgênica”.
NOTAS:
(1) A carta entregue ao governador do RS está disponível em http://www.greenpeace.org.br
(2) O documento “Consumo de herbicida aumenta com o uso de plantas transgênicas” pode ser encontrado no link http://www.greenpeace.org.br/transgenicos/pdf/SuperErvaDaninha.pdf
(3) Glifosato é uma substância química que bloqueia uma importante enzima responsável por uma das etapas de síntese de aminoácidos e hormônios, ao ser absorvido através das folhas, causa a morte da planta. Atualmente, apenas um tipo de soja transgênica resistente a esse herbicida está disponível comercialmente: a soja Roundup Ready da Monsanto, que resiste ao glifosato, ingrediente ativo do herbicida comercializado sob a marca Roundup pela própria Monsanto.
(4) Resistência é quando a erva daninha é suscetível ao herbicida, mas sofre uma mutação genética e adquire resistência ao herbicida. Tolerância é a capacidade natural de uma espécie de resistir a um herbicida. Com a aplicação freqüente do mesmo herbicida, morrem as plantas mais suscetíveis e aumenta a população de plantas tolerantes a doses cada vez maior do herbicida.
MAIS INFORMAÇÕES COM GREENPEACE:
Em Porto Alegre
- Ventura Barbeiro, Campanha de Engenharia Genética, (11) 8245-2248
- Caroline Donatti, assessoria de imprensa, (11) 8272-6926Em São Paulo
- Cristina Bodas, assessoria de imprensa, (11) 3035-1194 e (11) 9138-7794fonte: Comunicado Greenpeace, 19 de maio de 2004 - http://www.greenpeace.org.br/tour2004_ogm/?conteudo_id=1210
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