Mensagens do Dia 11/01/2001
Arroz, feijão, soja e milho desenvolverão na órbita do planeta
Iara Gomes [email protected] |
Num futuro próximo, a agricultura brasileira deve começar a dar frutos no espaço, literalmente. É provável que por volta de 2005 um grupo de astronautas a caminho da Estação Espacial Internacional carregue em meio aos seus artefatos uma pequena estufa construída no Brasil com sementes de arroz, feijão, milho e soja para crescer na órbita do planeta. Pela primeira vez, pesquisadores observarão o desenvolvimento de espécies tropicais em ambiente de
microgravidade. O projeto, orçado em US$ 6 milhões, é coordenado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). <br> A Embrapa encomendou à Brazsat - empresa de São José dos Campos que atua na área de consultoria aeroespacial - um estudo de viabilidade técnica e econômica do projeto que será entregue este mês. O diretor de marketing e relações industriais da
Brazsat, Marcelo Cantor, conta que foram avaliados sistemas produzidos desde a década de 70 até equipamentos de última geração que ainda estão em fase de projeto. "Foi um estudo complexo para um projeto de cinco anos, no qual abordamos tudo o que já foi feito, por quem e os resultados obtidos", explica Cantor. Também foi avaliada a capacitação da indústria aeroespacial nacional. "Um equipamento brasileiro a bordo da estação significará uma extensão do território nacional", comenta o diretor. Ainda este ano, deverá ser iniciado o desenvolvimento do conceito da estufa, também conhecida como Equipamento para Pesquisa Agrícola em Microgravidade
(Epam). Além do crescimento de plantas, a estufa servirá para pesquisas nas áreas de transferência gênica e cultura de células, entre outras. <br> <br> Colnago diz que, uma vez identificadas as condições responsáveis pelo melhor desenvolvimento das plantas no cosmo, os pesquisadores esperam reproduzí-las em terra firme. O Inpe dará suporte técnico ao projeto de construção da estufa, que será do tamanho de um forno microondas, e dos dispositivos para o controle de luz, temperatura, umidade do ar e de liberação de nutrientes para as plantas. <br> <br> Colnago diz que a pesquisa será feita com sementes selecionadas de espécies-anãs, que são raras mas podem ser encontradas na natureza ou em bancos de germoplasma de institutos de pesquisa internacionais mediante negociações no âmbito da cooperação científica. O pesquisador estima que a procura pode demorar de dois a três anos. "O ideal são plantas que cresçam até 20 ou 30 centímetros", explica. Outra alternativa seria o controle do processo de crescimento das espécies uma vez que a própria Embrapa já isolou a bactéria que controla o desenvolvimento de algumas plantas. <br> "No passado, produzimos folhas de fumo com meio metro de altura enquanto as plantas de tamanho normal atingem até dois metros", explica Colnago. Mas, por enquanto, a utilização desse método depende da liberação dos transgênicos. Segundo ele, com os recursos da biotecnologia seria possível produzir plantas com a altura desejada logo na segunda geração. Outras pesquisas na área agrícola deverão concentrar-se no combate a pragas de lavouras brasileiras, gerando espécies transgênicas resistentes ao ataque por larvas de insetos. A Embrapa programou para este ano a realização de um workshop internacional que deverá reunir os maiores especialistas na área de microgravidade aplicada a pesquisa agrícola. A Estação Espacial Internacional será utilizada também para pesquisas biológicas, crescimento de cristais e desenvolvimento de fármacos, bioengenharia, processamento de biomateriais, ciência dos fluidos e desenvolvimento de novos materiais. |
Gazeta Mercantil, Quinta-feira, 11 de janeiro de 2001 - Edição nº 573<br>
http://www.gazetamercantilvp.com.br/jornal/192.htm |
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