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Arroz, feijão, soja e milho desenvolverão na órbita do planeta

Mensagens do Dia 11/01/2001


Arroz, feijão, soja e milho desenvolverão na órbita do planeta

Iara Gomes [email protected]

 
 

Num futuro próximo, a agricultura brasileira deve começar a dar frutos no espaço, literalmente. É provável que por volta de 2005 um grupo de astronautas a caminho da Estação Espacial Internacional carregue em meio aos seus artefatos uma pequena estufa construída no Brasil com sementes de arroz, feijão, milho e soja para crescer na órbita do planeta.

Pela primeira vez, pesquisadores observarão o desenvolvimento de espécies tropicais em ambiente de microgravidade. O projeto, orçado em US$ 6 milhões, é coordenado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). <br>
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Na avaliação do chefe-adjunto de pesquisa do Centro de Instrumentação Agropecuária da Embrapa, Luiz Alberto Colnago, a pesquisa deve abrir portas para uma completa revolução dos processos agrícolas atuais, com resultados práticos na melhoria de safras e no <u>aprofundamento das pesquisas de transgênicos</u>. Búlgaros e russos realizaram os primeiros experimentos com a cultura do trigo, a bordo da estação russa Mir. <br> <br>
Por fatores ainda alheios à ciência, a produtividade da pequena plantação em órbita praticamente dobrou. "Agora, queremos ver o que acontece com plantas tropicais", diz Colnago. Os americanos já levaram várias sementes, entre elas de mostarda, para se desenvolver em viagens de ônibus espaciais assim como os italianos, mas nenhum experimento até hoje teve a complexidade do que está sendo proposto, na avaliação do pesquisador. <br>
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Com a desativação da Mir, experiências mais longas que permitem o acompanhamento de todo o ciclo de produção das plantas em microgravidade só serão novamente viáveis com a entrada em operação da estação espacial.
Como um dos signatários do projeto de US$ 50 bilhões e que reúne um grupo de 16 países, o Brasil já tem assegurado o direito de levar para lá experimentos próprios ou fruto de parcerias com outros países. <br> <br>
Os cientistas esperam avançar nos resultados colhidos nas primeiras experiências feitas na estação espacial russa com o auxílio das novas tecnologias surgidas desde então.

A Embrapa encomendou à Brazsat - empresa de São José dos Campos que atua na área de consultoria aeroespacial - um estudo de viabilidade técnica e econômica do projeto que será entregue este mês. O diretor de marketing e relações industriais da Brazsat, Marcelo Cantor, conta que foram avaliados sistemas produzidos desde a década de 70 até equipamentos de última geração que ainda estão em fase de projeto. "Foi um estudo complexo para um projeto de cinco anos, no qual abordamos tudo o que já foi feito, por quem e os resultados obtidos", explica Cantor. Também foi avaliada a capacitação da indústria aeroespacial nacional. "Um equipamento brasileiro a bordo da estação significará uma extensão do território nacional", comenta o diretor. Ainda este ano, deverá ser iniciado o desenvolvimento do conceito da estufa, também conhecida como Equipamento para Pesquisa Agrícola em Microgravidade (Epam). Além do crescimento de plantas, a estufa servirá para pesquisas nas áreas de transferência gênica e cultura de células, entre outras. <br> <br>
O estudo de viabilidade do projeto contou com assessoria técnica da empresa norte-americana AG Space, voltada para pesquisas agrícolas em microgravidade, e do Instituto de Pesquisa Espacial da Acadêmia de Ciências da Bulgária. Os búlgaros detêm o recorde de permanência de experimentos agrícolas no espaço com cerca de 700 dias a bordo da Mir.

Colnago diz que, uma vez identificadas as condições responsáveis pelo melhor desenvolvimento das plantas no cosmo, os pesquisadores esperam reproduzí-las em terra firme. O Inpe dará suporte técnico ao projeto de construção da estufa, que será do tamanho de um forno microondas, e dos dispositivos para o controle de luz, temperatura, umidade do ar e de liberação de nutrientes para as plantas. <br> <br>
Junto com o suporte a toda a parte de instrumentação, o Inpe será responsável pelos testes de desenvolvimento e qualificação dos sistemas da estufa que serão realizados no Laboratório de Integração e Testes (LIT), em São José dos Campos. O protocolo de cooperação entre o Inpe e a Embrapa foi assinado há cerca de dois meses. 

Colnago diz que a pesquisa será feita com sementes selecionadas de espécies-anãs, que são raras mas podem ser encontradas na natureza ou em bancos de germoplasma de institutos de pesquisa internacionais mediante negociações no âmbito da cooperação científica. O pesquisador estima que a procura pode demorar de dois a três anos. "O ideal são plantas que cresçam até 20 ou 30 centímetros", explica. Outra alternativa seria o controle do processo de crescimento das espécies uma vez que a própria Embrapa já isolou a bactéria que controla o desenvolvimento de algumas plantas. <br>

"No passado, produzimos folhas de fumo com meio metro de altura enquanto as plantas de tamanho normal atingem até dois metros", explica Colnago.

Mas, por enquanto, a utilização desse método depende da liberação dos transgênicos. Segundo ele, com os recursos da biotecnologia seria possível produzir plantas com a altura desejada logo na segunda geração.

Outras pesquisas na área agrícola deverão concentrar-se no combate a pragas de lavouras brasileiras, gerando espécies transgênicas resistentes ao ataque por larvas de insetos. A Embrapa programou para este ano a realização de um workshop internacional que deverá reunir os maiores especialistas na área de microgravidade aplicada a pesquisa agrícola.

A Estação Espacial Internacional será utilizada também para pesquisas biológicas, crescimento de cristais e desenvolvimento de fármacos, bioengenharia, processamento de biomateriais, ciência dos fluidos e desenvolvimento de novos materiais.

 
Gazeta Mercantil, Quinta-feira, 11 de janeiro de 2001 - Edição nº 573<br>

http://www.gazetamercantilvp.com.br/jornal/192.htm 

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