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Riscos nas colheitas transgênicas

Transgênicos - Organismos Geneticamente Modificados

 

Uma revisão científica, publicada na edição de dezembro da revista científica internacional 'Microbial Ecology in Health and Disease' (número 4, 1999), salientou para os riscos associados aos ativadores mais utilizados em colheitas transgênicas.

O assunto é provavelmente, de acordo com a própria publicação, o item técnico 'mais calorosamente' debatido e controverso associado às colheitas transgênicas. Em particular, chama atenção para o seguinte: o tipo de ativador eleito para a análise 'é utilizado em colheitas transgênicas para ativar genes estrangeiros que são introduzidos. Sem o ativador, eles não seriam ativados na planta hospedeira e permaneceriam em silêncio'.


A revista diz que, até então, existe apenas a suposição que os efeitos tóxicos de batatas transgênicas, relatados pelo Dr. Pusztai e publicados no 'Lancet', podem ter como causa 'o ativador viral e não pelo gene inserido'. O ativador utilizado é o mosaico da couve-flor (CaMV), derivado de um grupo de vírus mais próximo aos 'hepdna-vírus' de animais, dentre os quais se inclui o da hepatite B humana

Toxidade

Aquele ativador é utilizado em quase todas as colheitas transgênicas comerciais. E a revista chama atenção para outro aspecto muito importante: nenhuma dessas colheitas foi submetida a 'testes de toxidade aprofundados e independentes executados nas batatas do Dr. Pusztai e sobre os quais tem havido intensas controvérsias'. Um relatório anual, publicado em 1999, do Centro John Innes e do Laboratório Sainsbury, Inglaterra, especifica que este ativador viral, em particular, 'tende a eventos recombinatórios'. 

Incertezas

Uma das reações, em função da publicação, foi da Sociedade Real do Reino Unido, que escreveu para o Partido da Lei Natural. A entidade relatou ter solicitado uma repetição do trabalho do Dr.Pusztai, por avaliar que ele originou incertezas marcantes. A Sociedade Real convocou um estudo mais complexo com batatas de um tipo que raramente ou nunca foram utilizadas em transgênicos já admitidos no mercado. A expectativa era de uma reação internacional mais apurada diante das questões levantadas pela Sociedade Real, para a qual é 'necessário instituir um padrão de testes, o que não foi aplicado aos alimentos transgênicos existentes e já admitidos pelo sistema de avaliação da segurança alimentar'.

Convencimento

Diante dos itens destacados pela Sociedade Real e das discussões não conclusivas, sobre as implicações de segurança do uso de ativadores virais em colheitas transgênicas, os apelos para interrupção imediata de seu uso, como medida de precaução, conforme publicado pela 'Microbial Ecology in Health and Disease', da Scandinavian University Press, foram aceitos como oportunos pelos especialistas.

Mutações

O uso do ativador do vírus do mosaico da couve-flor (CaMV) 'tem o potencial de reativar vírus dormentes ou criar novos vírus em todas as espécies às quais é transferido. Sabe-se que o CaMV é encontrado em praticamente todas as colheitas transgênicas lançadas comercialmente ou ainda em fase de testes de campo', salienta a 'Microbial Ecology in Health and Disease', no trabalho 'Novos resultados de pesquisas em organismos geneticamente modificados (OGMs)'.

Câncer

A publicação chama a atenção para uma polêmica muito repetida: 'Esta instabilidade dos transgênicos aumenta a possibilidade de uma super-expressão inapropriada dos genes transferidos. O desenvolvimento de câncer pode ser uma das conseqüências de tal super-expressão'.

Proibição

Estaria aí o motivo para as freqüentes recomendações dos cientistas envolvidos com as pesquisas, para que todas as colheitas transgênicas que contenham o '35S' do CaMV, ou outros ativadores recombinogênicos similares, sejam imediatamente recolhidos da produção comercial e de testes de campo aberto. Mas não bastaria isso. Seria necessária também a imediata interrupção da venda e uso na alimentação humana e de animais de todos os produtos derivados destas colheitas contendo DNA transgênico.

Desastre'

Os resultados foram publicados em um artigo - 'Ativador do vírus do mosaico da couve-flor - uma receita para o desastre?' - escrito por três pesquisadores da Universidade Aberta da Inglaterra e da Universidade do Oeste de Ontário, Canadá - Mae-Wan Ho, Angela Ryan e Joe Cummins. O artigo confirma a preocupação crescente com os aspectos de segurança da utilização dos ativadores virais na produção de alimento com manipulação genética. Aí reside, portanto, a recomendação preventiva para o recolhimento de todos estes produtos.

Discussão

Aquela incerteza em relação aos ativadores virais, certamente, funciona como combustível em todos os eventos dos grupos de pressão adversários aos transgênicos - à modificação genética de organismos. O próprio editor-chefe da revista e diretor do Centro de Ecologia e Microbiologia Médica no Instituto Karolinska, em Estocolmo, professor Tore Midvedt, prontificou-se a discutir as sérias implicações do assunto com os jornalistas que desejassem obter informações adicionais.

Com enorme dedicação aos temas mais sensíveis sobre OGMs, Midvedt pretende se comportar com neutralidade e tem procurado encorajar defensores e adversários a terem a revista como foro de discussão. Ele é um ardoroso defensor do 'debate aberto com regras bem definidas, para controlar os perigos potenciais de organismos geneticamente modificados'.

Os especialistas, no Brasil, estão recomendando como material de suporte para esta nova pesquisa uma consulta ao artigo 'Ecologia e tecnologia genéticas de doenças infecciosas', de co-autoria de Ma-Wan Ro, que pode ser encontrado na mesma revista científica em 'http://www.scup.no/mehd'.

 
Hoje em Dia, Belo Horizonte, Terça-Feira 28/11/2000

Negócios SA, Nairo Almeri


Campanha para liberar transgênicos
 
São Paulo, 28 de novembro de 2000 - Os países da América Latina vão iniciar uma campanha para a liberação do cultivo de grãos transgênicos. A decisão foi tomada durante o 17o. Seminário Latino-Americano de Sementes, realizado na semana passada no Uruguai, e organizado pela Federação Latino-Americana das Associações de Produtores de Sementes (Felas).'Com exceção da Argentina, que tem plantação transgênica, os demais países da América Latina aguardam uma decisão do Brasil sobre o assunto', diz José Amauri Dimarzio, presidente da Felas.

Segundo Dimarzio, o presidente do Uruguai, Jorge Batlle, estaria disposto a dar o pontapé inicial. 'Ele disse que vai tomar a iniciativa de discutir o assunto com os outros países. Durante o seminário, representantes da América Latina assinaram um manifesto favorável ao cultivo de grãos geneticamente modificados e estão dispostos a sensibilizar a opinião pública', afirma. 

O mercado de sementes fiscalizadas movimenta cerca de US$ 3 bilhões por ano na América Latina, sendo que o Brasil é responsável por um terço do faturamento. (Gazeta Mercantil/Página B16) (Mônica Scaramuzzo)

 
Gazeta Mercantil, 28/11/2000

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