Transgênicos - Organismos Geneticamente Modificados
CTNBIO FAZ EVENTO CONFUSO | Fiscalização nas lavouras transgênicas é precária |
Monsanto foi multada | Descaso no campo faz milho alterado crescer |
Na Embrapa, um controle adequado | Caça aos grãos se intensifica no Sul |
EUA tentam evitar Discriminação Genetica | Greenpeace lança novo site sobre transgênicos |
TRANSGÊNICO:MAIORIA/CONSUMIDORES BRITÂNICOS É CONTRA USO EM RAÇÃO | Gazeta Mercantil, 25/09/2000 |
CTNBIO FAZ EVENTO CONFUSO |
Com o objetivo de "esclarecer a mídia" sobre o que é de fato transgênico, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) realizou em Brasília, dia 30 de agosto, workshop sob o tema "Biossegurança: uma proposta de divulgação". O evento foi um fracasso. O público era formado basicamente por assessores de ministérios
(MCT e Saúde, principalmente), incluindo vasto plantel da própria CTNBio. Jornalistas a serviço de órgãos de imprensa eram poucos. E vieram e voltaram calados. Na verdade, o workshop, com direito a coffe break, como eles dizem, foi montado com dois objetivos: dar uma resposta do Governo, especificamente da CTNBio, aos muitos ataques que tem recebido da imprensa; segundo, tentar fazer a cabeça dos jornalistas para que entendam o modo quase fanático com que a CTNBio tem se comportado em defesa dos transgênicos. Pelo visto, não deu certo. A meia dúzia de jornalistas que não era Governo não foi convencida. Questões básicas ficaram sem resposta. Indagada sobre a ata da reunião que aprovou a liberação no país da soja Roundup Ready, em certo momento a assessora jurídica da CTNBio afirmou que era pública, depois disse que, por força de lei, não pode ser de conhecimento público o que se discute lá dentro. Foi observado porém que a Lei 8.974/95, que cria a CTNBio, estabelece que os membros estão proibidos de divulgar o que ocorre nas reunião, mas não órgão. Portanto, o sigilo é uma decisão da CTNBio. Por fim, a assessora afirmou que alguns trechos da ata poderiam ser liberados... Que estudos dispõe a CTNBio sobre efeitos dos OGMs sobre a saúde e o meio ambiente no Brasil? A resposta é negativa. Genaro Ribeiro Paiva, membro da Comissão, representante da área vegetal, afirmou que os estudos surgiriam após a liberação da soja RR, quando se faria um monitoramento do plantio em escala comercial. O monitoramento seria feito pela própria interessada, a Monsanto, conforme parecer da CTNBio. Mas, conforme Genaro, a decisão do juiz Antonio Prudente, atendendo a uma ação do IDEC e Greenpeace, que pede EIA/RIMA antes de se plantar, impediu que se fizessem tais estudos. Na sua opinião o monitoramento corresponde ao EIA/RIMA. Que significa isto? 1º) que a CTNBio não tem nenhum estudo feito no Brasil sobre saúde ou meio ambiente; 2º) que, numa atitude irresponsável, liberou a soja RR sem ter tais estudos; 3º) chamar o "monitoramento" da Monsanto de estudo, ou EIA/RIMA, é um absurdo. A preocupação aparente da CTNBio e do Governo, é não perder o trem da história. Por várias vezes os expositores frisaram a necessidade de se continuar as pesquisas para se promover o avanço do país na área. Vasco Ariston Azevedo, membro da CTNBio, especialista na área vegetal, afirmou que "a moratória vai nos levar à escravidão tecnológica". A presidenta da CTNBio, Leila Oda, depois de bater na mesma tecla, afirmou: "temos confiança de que essa tecnologia não representa nenhum risco à saúde e ao meio ambiente". Baseada em que? Em estudos feitos lá fora, e no fato de milhões de pessoas no mundo estarem consumindo transgênicos e não apresentarem problemas. Na sua opinião, algumas pesquisas que mostram efeitos negativos no uso dos transgênicos (por exemplo, a morte de lagartas monarcas devido a ingestão de milho Bt) não valem porque foram feitas em laboratório e não no campo. Segundo Leila Oda, a página da CTNBio na Internet, mostra a transparência do órgão. E contesta que haja uma defesa apaixonada dos transgênicos, ao ponto de ser anti-científica, omitindo estudos que mostram o outro lado. "Temos por exemplo, o texto da Academia Brasileira de Ciências", diz ela, esquecida que o texto é uma apologia aos OGMs... Indagada sobre o fato dos próprios ruralistas questionarem a posição dos ministros de estado que se manifestaram em defesa dos transgênicos, a presidente da CTNBio não deu resposta. Também não conseguiu responder a pergunta de repórter sobre se era verdade que a CTNBio não sabia que o milho que desembarcava no Recife era transgênico. Confuso, complicado, estabanado, o workshop promovido pela CTNBio não serviu para muita coisa. Serviu, talvez, para mostrar que o órgão não tem respostas às questões mais urgentes e que se encontra a serviço das empresas do setor. A CTNBio revela que não está cumprindo seu papel legal, que é dar biossegurança à sociedade. Não precisava juntar 36 especialistas para aprovar pareceres sem ter um só estudo feito no Brasil (como fizeram com a soja RR) - isso qualquer um faz. Não basta, também, alegar a neutralidade política e idoneidade da ciência para justificar atos desta natureza - o cientista, como qualquer pessoa humana comete erros, e pode estar a serviço de causas decentes ou indecentes. O fato de ser cientista não lhe dará supremacia de opinião. Agora, se nem a ciência está sendo utilizada pela CTNBio para avaliar os produtos que chegam ao país, o problema é sério, o problema é nacional. |
Dioclécio Luz (assessor do Dep. Walter Pinheiro, Câmara dos Deputados, Brasília <[email protected]>) |
EUA tentam evitar 'discriminacao genetica' |
Julian Borger escreve para "The
Guardian" e "O Estado de SP": Terri Seargeant devia ser uma historia de sucesso cientifico. Uma falha genetica torna-a suscetivel a paradas respiratorias. A descoberta pode salvar sua vida, mas fez com que perdesse o emprego. Em 99, ela foi demitida da seguradora onde trabalhava porque foi considerada "um risco". Foi o primeiro caso de discriminacao genetica dos EUA. Terri pensava ser alergica, mas descobriu ser portadora da deficiência Alfa 1, que, se nao tratada, corroi os pulmoes. A doenca pode ser estabilizada por uma combinacao de remedios, dieta e exercicios. Terri achou que teve sorte com o diagnostico precoce, mas ao informar a empresa - que tambem cuidava da saude dos funcionarios -, viu que nao era bem assim. Foi demitida poucos dias depois. Centenas de americanos estao perdendo o emprego ou o seguro-saude por causa dos avancos da genetica. A situacao chamou a atencao do comissario do governo para oportunidades iguais de emprego, Paul Miller, que exige a adocao de medidas rigorosas contra a discriminacao genetica. "E' ilegal recusar emprego a uma pessoa por causa de raca, sexo ou informacoes geneticas, sem levar em conta sua capacidade de trabalho", escreveu Miller no Journal of Health Care Law & Policy. Defensores dos direitos civis temem que, se tais praticas se desenvolverem no mesmo ritmo da corrida para decifrar o genoma humano, em breve havera' uma "subclasse" de pessoas que nao conseguirao emprego por causa de seus genes. Cientistas, porem, advertem que, com o tempo, esses exames vao mostrar que todo mundo tem um "defeitinho" em seus genes e as praticas discriminatorias vao cair em desuso. O problema e' o que fazer ate' la'. Em levantamento feito pelo Centro Shriver de Saude Publica em Massachusetts, foram relatados 582 casos de pessoas discriminadas por "falhas" em seus genes. A organizacao Conselho para Genetica Responsavel (CGR) documentou mais de 200 casos de discriminacao genetica. Mas isso e' so' a ponta do iceberg. As grandes empresas nao anunciam que fazem esses testes e os prejudicados nao as denunciam, temendo discriminacao ainda maior. Kim, uma assistente social, contou numa reuniao que sua mae morrera de mal de Huntington - o que da' a ela 50% de risco de ter a doenca. Uma semana depois, ela foi demitida. Em outro caso, uma mulher de 40 anos com carreira exemplar aceitou participar de uma pesquisa genetica. O teste apontou a presenca do BRCA1, gene associado a alguns tipos de cancer da mama e dos ovarios. Apesar de passar por cirurgia preventiva, ela perdeu o seguro-saude e o emprego. Miller esta' pedindo nova legislacao para impedir que empregadores e seguradoras tenham acesso a informacoes geneticas e utilizem esses dados como criterio para contratar e demitir. Mas o lobby de empresas e seguradoras ja' esta' agindo para impedir o Congresso de aprovar legislacao nesse sentido. |
(O Estado de SP, 20/9) |
Leia Mais: