Greenpeace divulga nomes de mais quatro produtos à base de soja ou milho geneticamente modificados e consumidos no país.
A organização não-governamental ambientalista Greenpeace recolheu alguns produtos nas prateleiras dos supermercados brasileiros e enviou ao laboratório suíço Interlabor. E constatou que quatro deles contêm milho ou soja geneticamente modificados: sopão de galinha
Knorr; sopa de galinha Pokemon, da Arisco; Ovomaltine Cereais e Fibras, da Novartis; e mistura para bolo de chocolate da Sadia. ''Os produtos genéticos oferecem riscos e são comprovadamente ilegais'', diz Mariana
Paoli, coordenadora do Greenpeace.
Em junho, o Greenpeace e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) comprovaram por testes que outros 11 produtos eram feitos com milho ou soja que continham material transgênico. Os quatro novos integrantes da lista também são fabricados com dois vegetais modificados - a soja Roundup Ready, da Monsanto, e o milho BT 176, da Novartis. Esses alimentos são vendidos em todo o país.
Em Brasília, a assistente administrativa Marília Carvalho Marques, 45 anos, não sabia que estava comprando produtos transgênicos. ''São aqueles produtos que dão câncer, né?'', indaga. Como ela, a maioria dos brasileiros não sabe o que são transgênicos. Mas, questionada, acha que eles devem ser identificados. ''Com letras bem grandes em vermelho'', diz a moradora do Cruzeiro Novo, que consome o sopão da Knorr e o massa de bolo da Sadia.
Marília tem razão em reclamar. Primeiro, porque a venda no Brasil de alimentos com insumos transgênicos é ilegal: não atende às exigências previstas na Lei de Biossegurança (8974/95) e viola o Código de Defesa do Consumidor, que garante a clara informação da composição do produto no rótulo da embalagem. Segundo a Lei de Biossegurança, o plantio, importação e venda de transgênicos depende de um parecer técnico conclusivo da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão que regulamenta a pesquisa científica na área de biotecnologia, e posterior autorização dos ministérios do Meio Ambiente, da Saúde e da Agricultura. Até hoje, nenhum destes produtos cumpriu estes trâmites.
Para piorar, nenhum dos produtos traz a informação no rótulo porque o governo brasileiro não obriga as empresas a informar a composição completa do produto. Desta forma, o consumidor está exposto à culinária transgênica. É importante observar que não existem pesquisas capazes de comprovar que os alimentos geneticamente alterados não trazem risco à saúde.
O Correio procurou as quatro empresas denunciadas pelo Greenpeace. A assessoria da
RBM, que representa as empresas Knorr e Arisco, afirma que não recebeu nenhum laudo oficial da OnG e que, por isso, não irá se manifestar. A gerente de garantia de qualidade de alimentos da Sadia, Ivone
Delazari, avisa que a massa de bolo para chocolate não é produzida pela empresa, mas por uma licenciada. O vice-presidente da Novartis, Sheldon Jones, afirma que o Ovomaltine possui menos de 1% de matéria-prima geneticamente modificada.
Já o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Alberto Duque Portugal, informou ontem que portaria sobre rotulagem de alimentos transgênicos em discussão no governo federal deverá fixar o percentual de 5% para que determinado ingrediente ou alimento contenha na embalagem a informação de que é geneticamente alterado. Os alimentos que tiverem OGM (Organismos Geneticamente Modificados) em percentual inferior a 5% deverão ser excluídos da exigência de rótulo.
Transgênicos ou organismos geneticamente modificados (OGMs) são produtos que contém material genético de bactérias, fungos e vegetais com objetivos diversos - como melhorar o valor nutritivo das plantas, amenização da ação do tempo no amadurecimento e conservação de alimentos, maior resistência às pragas e herbicidas. A soja e o milho trangênicos, por exemplo, contêm genes que os protegem contra ataques de pragas.
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