Boletim 327, Por um Brasil Livre de Transgênicos
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POR UM BRASIL LIVRE DE TRANSGÊNICOS
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Número 327 - 21 de dezembro de 2006
Car@s Amig@s,
Leiam abaixo carta aberta de organizações da sociedade civil ao governo federal criticando a aprovação da medida provisória 327 (ironicamente o mesmo número deste Boletim) na Câmara dos Deputados. Para virar lei, a MP que banaliza as normas de biossegurança no País ainda deve ser aprovada pelo Senado e posteriormente sancionada pelo presidente Lula.
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Carta Aberta ao Governo Federal
21/12/2006
Com a aprovação da MP 327 na Câmara dos Deputados o governo deu ontem mais um inequívoco sinal de que não se preocupa com a biossegurança.
A MP 327 foi feita para reduzir de 10km para 500 metros a zona de amortecimento que separa as unidades de conservação do plantio de transgênicos, atendendo às reivindicações do agronegócio. Com a medida, o governo também tentou facilitar a vida da multinacional Syngenta Seeds, que realizava experimentos com transgênicos dentro da zona de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu - PR, e fora multada pelo Ibama.
Admitir transgênicos nos entornos das Unidades de Conservação já seria grave o suficiente. Mas o governo também pecou pela forma, já que o envio da MP ao Congresso abriu as portas para emendas dos deputados ruralistas visando facilitar ainda mais a liberação de transgênicos, com prejuízo dos estudos de impacto à saúde e à biodiversidade.
Este alerta foi feito pela sociedade, mas ignorado pelo governo. Ao contrário, em reunião coordenada pelo Secretário de Biodiversidade e Florestas do MMA, João Paulo Capobianco, o Secretário defendeu abertamente a MP.
No Congresso, tudo piorou. Duas emendas contrárias à biossegurança foram incluídas no texto da MP. Uma delas reduz o quorum da CTNBio para liberações comerciais, facilitando a autorização de transgênicos sem avaliação de riscos à saúde e ao meio ambiente. A outra autoriza o uso de algodão transgênico.
O governo logo deu um sinal do lado que estava: sem consultar a bancada do PT, o presidente da Casa, Aldo Rebelo, entregou a matéria ao gaúcho Paulo Pimenta, defensor dos transgênicos que em 2003 integrou comitiva para visitar a sede da Monsanto no Estados Unidos.
Ao incorporar em seu parecer emendas de ruralistas, Pimenta isolou-se de seu partido, que votou contra seu relatório. Por outro lado, o relator arrancou rasgados elogios de deputados ruralistas e aplausos do lobby pró-transgênicos que ocupava a galeria da Câmara.
Apesar dos insistentes pedidos de audiência, o líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), assim como a chefe da Casa Civil, Dilma Roussef, não receberam representantes de movimentos sociais, entidades socioambientalistas e de defesa do consumidor, bem como do campo agroecológico para debater a matéria. Preferiram ficar apenas com a visão do agronegócio.
A orientação do governo para sua base foi votar pela aprovação da MP com as emendas. Esta orientação foi contrária à do próprio PT, que preferiu, enfaticamente, "não se curvar à política do fato consumado".
A CTNBio deliberou sobre 430 processos em 2006 e autorizou cerca de 30 campos experimentais por reunião. Ou seja, não há paralisia nas pesquisas, e se mais itens não foram deliberados é porque a presença de membros às reuniões é inconstante.
Autorizar a venda do algodão transgênico plantado com sementes ilegais é dar fôlego para a política do fato consumado e razão para seus atores. Da mesma forma, reduzir o quorum da CTNBio para liberações comerciais coloca os interesses comerciais das multinacionais acima do princípio da precaução, da saúde e do meio ambiente.
Esperamos agora que o presidente Lula vete as emendas aprovadas pelos deputados para corrigir em parte este grave equívoco provocado pelo próprio Poder Executivo.
Via Campesina
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST
Movimento de Pequenos Agricultores - MP
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor - IDEC
Greenpeace Brasil
AS-PTA Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa
Terra de Direitos
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Confira no endereço abaixo como votaram os partidos e os deputados que você ajudou a eleger:
http://www2.camara.gov.br/internet/plenario/votacao/chamadaExterna.html?link=http://www.camara.gov.br/internet/votacao/default.asp?datDia=20/12/2006&numSessao=216 - clique em "Relação de votantes por Partido" ou "por UF"
Salvo surpresas vindas do Governo ou da CTNBio, este Boletim só volta a ser editado na semana do dia 08/01/2007.
A tod@s que participam e apóiam esta luta, um excelente final de ano!
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Neste número:
1. Para ativistas, ainda falta política de biossegurança
2. Câmara facilita aprovação de transgênico
3. Contra o novo mensalão
4. CTNBio mudará a sistemática em 2007
5. Equador: Glifosato causa danos genéticos
6. Manejo inadequado de plantas interfere no controle de soja RR
7. Austrália quer importar soja e milho pelo Porto de Paranaguá
8. UE mantém direito da Áustria de proibir milho transgênico
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura
Erva-doce tratada com extrato de melão silvestre promove aumento na reprodução de predadores de pulgões
Dica sobre fonte de informação
Biotecnologia e biossegurança, pertinência e riscos, artigo de Lia Giraldo da Silva Augusto e Rubens Onofre Nodari
"Por que os membros da CTNBio e os autores do artigo em discussão, por exemplo, não declaram as fontes de seus financiamentos de atividades? A sociedade quer e deve saber com quem está lidando". Por Domingos S.L. Soares, professor do Depto. de Física e Astrofísica do Instituto de Ciências Exatas da UFMG.
"Ninguém pode se chamar de cientista ignorando evidência in-vitro, in-vivo e no meio ambiente contra uso de OGMs e mostrando uma falta de respeito para com aqueles que são intitulados de ambientalistas, como se não fossem ou pudessem ser cientistas". Dr. Gerson Teixeira.
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1. Para ativistas, ainda falta política de biossegurança
Para ambientalistas, mudanças propostas pela MP 327 oferecem riscos à saúde e ao meio ambiente
Em texto encaminhado ao Congresso em Foco, representantes do movimento "Por um Brasil livre de transgênicos" condenam a edição da Medida Provisória (MP) 327/06, que facilita a produção e o comércio de organismos geneticamente modificados, e criticam a falta de uma política de biossegurança no país.
Na avaliação das entidades que encabeçam a campanha - Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA), Via Campesina, Greenpeace, Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Terra de Direitos e a Associação de Agricultura Orgânica (AAO) -, a MP pode implicar riscos à saúde e ao meio ambiente.
"A redução das zonas de exclusão de transgênicos no entrono das unidades de conservação pode representar uma maior exposição das áreas protegidas a impactos ecológicos muitos dos quais ainda não estudados ou pouco conhecidos. Entre eles, destacamos a contaminação genética de plantas nativas, a interação de animais silvestres com as lavouras modificadas, a transferência horizontal de genes dos cultivos transgênicos para microrganismos nativos e o aumento do uso de herbicidas", diz a nota.
A medida provisória tranca a pauta da Câmara desde o último sábado e está pronta para ser analisada na sessão desta quarta-feira. Caso seja aprovada ainda este ano, a polêmica MP permitirá, entre outras coisas, o plantio de organismos geneticamente modificados em áreas próximas às unidades de conservação como áreas de proteção ambiental (APAs) e nas zonas de amortecimento (faixa de proteção) de parques nacionais.
A campanha também critica a disposição do relator, deputado Paulo Pimenta (PT-SP), de propor a redução do quorum da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) para decidir sobre a comercialização de transgênicos e seus derivados. Na prática, o texto diminui de 18 para 14, dos 27 integrantes do colegiado de cientistas, o número de votos favoráveis necessários para a liberação da venda de organismos geneticamente modificados (veja os argumentos do relator).
"Ao contrário do que afirmam muitos jornais, a CTNBio não está parada. Neste ano de 2006 a Comissão deliberou sobre 430 processos e concedeu autorização para cerca de 30 campos experimentais com transgênicos por mês. Assim, o quorum de 2/3 de forma alguma representa prejuízo para a pesquisa em biotecnologia no Brasil", afirma o texto (leia mais sobre o assunto).
Os ambientalistas também criticam a emenda incorporada pelo relator que garante a comercialização da safra 2006 de algodão transgênico no país. "Esta emenda é a pura e simples reedição do fato consumado da soja transgênica e deve ser rejeitada. Caso aceita, ela representará uma desmoralização à própria Lei de Biossegurança e à capacidade do Estado de fazer cumpri-la."
Clique aqui para ler os principais pontos da mensagem enviada pela campanha "Por um Brasil livre dos transgênicos" ao Congresso em Foco.
Congresso em Foco, 20/12/2006.
2. Câmara facilita aprovação de transgênico
Projeto de lei reduz de 18 para 14 votos necessários em comissão de biossegurança para aprovar novos produtos
Projeto de lei aprovado ontem pela Câmara reduz de 18 para 14 o número de votos da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) necessários à liberação comercial de organismos geneticamente modificados. A mudança favorece num primeiro momento dez pedidos de autorização de uso comercial de sementes de milho, algodão e arroz apresentados por empresas multinacionais e que aguardam votação na comissão.
Desde a regulamentação da Lei de Biossegurança, há mais de um ano, a CTNBio não aprovou nenhum pedido de uso comercial de transgênicos. Em novembro, a autorização para uma vacina contra a doença de Aujeszky, que ataca suínos, foi negada apesar de 17 votos favoráveis e apenas 4 contrários. A mudança no quorum de votação da CTNBio, defendida pelo agronegócio, obteve 247 votos na Câmara; 103 votaram contra. O projeto seguiu ontem para votação no Senado. Depois irá à sanção presidencial.
Em nome da ministra Marina Silva (Meio Ambiente), o secretário de Biodiversidade e Florestas, João Capobianco, criticou a decisão da Câmara e antecipou que o ministério defenderá o veto da mudança. "É lamentável que mudem uma lei ainda em fase de implementação". A mudança não estava prevista na versão original da medida provisória 237. "Essa votação é clara indicação do descaso do Congresso e do governo com a proteção ambiental, a biossegurança brasileira, as leis feitas pela própria casa e principalmente com a opinião da maioria dos eleitores, que não querem transgênicos no seu prato", afirmou Gabriela Vuolo, do grupo ambientalista Greenpeace.
Decreto assinado pelo presidente Lula em novembro do ano passado exige dois terços dos votos dos 27 membros da CTNBio para a liberação de uso comercial de transgênicos. Na ocasião da regulamentação da Lei de Biossegurança, Lula vetou o dispositivo que fixava quorum de maioria dos presentes. A decisão de ontem da Câmara representa um meio termo ao exigir maioria absoluta dos votos, ou seja, o apoio mínimo de 14 membros da CTNBio.
A mudança do quorum foi defendida na semana passada com veemência pelo presidente da CTNBio, Walter Colli. Ele argumentou que o elevado número de votos exigidos na comissão impedia a aprovação dos pedidos e poderia levar ao plantio clandestino de sementes contrabandeadas, como aconteceu com a soja e o algodão - os dois únicos grãos que têm variedades transgênicas liberadas no país. O relator Paulo Pimenta (PT-RS) usou argumento semelhante: a exigência de dois terços dos votos "restringe sobremaneira" as deliberações da CTNBio e impede o avanço do agronegócio.
O texto aprovado ontem também autoriza a comercialização do algodão transgênico colhido em 2006 a partir de sementes contrabandeadas. As fibras poderão ser comercializadas, e os caroços serão usados na produção de biodiesel. Decisão anterior da CTNBio descartava esses produtos. Parecer assinado por entidades como Greenpeace e MST diz que a redução do quorum ameaça a segurança do uso de transgênicos no país e favorece multinacionais.
Entre os pedidos de uso comercial que aguardam votação estão três variedades da Bayer, três da Monsanto, três da Syngenta e uma da Dow AgroSciences. Seis dos dez pedidos tratam de variedades de milho resistentes a herbicidas e a insetos.
Folha de São Paulo, 21/12/2006.
3. Contra o novo mensalão
(...) Em defesa - A ministra Marina Silva foi objeto aqui, certa vez, de comentário negativo. Não só naquela ocasião, as concessões que fez, sobretudo no caso dos transgênicos, não são justificáveis.
Pessoas e entidades que dão atenção ao ambiente natural procuram fortalecer Marina Silva, posta sob risco de destituição desde que Lula proclamou a conclusão brilhante, mais uma, de que a natureza é um "entrave para o desenvolvimento". Isto é, a degradação é que gera desenvolvimento.
Para quem não compartilhe a conclusão de Lula, apoiar Marina Silva é a única atitude sensata. Quem vier a sucedê-la, seja quem for, só estará escolhido por ser capaz das piores concessões.
Por Janio de Freitas, Folha de São Paulo, 19/12/2006.
4. CTNBio mudará a sistemática em 2007
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) deve aumentar os espaços para a participação da sociedade civil, por meio de audiências públicas, a partir de março de 2007. Desde o começo do ano, há pressão para mudanças na estrutura da Comissão, responsável, entre outras coisas, pela avaliação de pareceres sobre a liberação comercial de produtos transgênicos.
Segundo o presidente da CTNBio, Walter Colli, no ano que vem, os trabalhos devem seguir a sistemática de audiências públicas, seguidas de reuniões setoriais e de uma plenária decisiva. Na semana passada, após vigília de ambientalistas, foi adiada para 2007 a análise do pedido de liberação de milho modificado.
Correio do Povo, 18/12/2006.
5. Equador: Glifosato causa danos genéticos
A futura chanceler do Equador na Administração de Rafael Correa, María Fernanda Espinoza, assegurou hoje que há "centenas" de estudos que comprovam que o glifosato que a Colômbia aplica nas fumigações aéreas de plantações causa deformações genéticas.
"Há resultados de estudos novos, de grandes pesquisadores, cientistas equatorianos da Universidade Católica (privada) e da Universidade Central (estatal), que descobriram a alteração de células que conduzem, por exemplo, à má-formação de fetos", disse a futura ministra à televisão Ecuavisa.
"Há centenas de estudos que comprovam a nocividade do glifosato, e não somente do glifosato mas também dos químicos que se associam a ele para torná-lo mais efetivo", assegurou Espinoza, que tomará posse em 15 de janeiro.
A futura ministra das Relações Exteriores disse que especialistas apresentaram provas que indicam que o uso da substância provoca deformações genéticas. "Estamos realmente preocupados com isto".
A Colômbia retomou na semana passada as fumigações aéreas sobre os cultivos de coca na região próxima à fronteira com o Equador, o que gerou mais tensão nas relações entre os dois países vizinhos.
Embora o presidente eleito, Rafael Correa, tenha anunciado que viajará esta semana à Colômbia e à Venezuela para atender convites dos presidentes Álvaro Uribe e Hugo Chávez, respectivamente, Espinoza deixou hoje em dúvida a ida a Bogotá.
"Estamos estudando a viagem do presidente Correa à Colômbia.
Tenho que falar com o presidente para analisar o desenvolvimento das relações diplomáticas com a Colômbia", disse.
Espinoza afirmou que a Colômbia "historicamente foi um país irmão, com as melhores relações. O tema da fronteira, deve-se reconhecer, é um tema crítico, mas a união histórica de irmandade com a Colômbia data de muitos anos antes".
"Por isso, queremos recuperar essa relação de irmandade, de colaboração, de cooperação com o irmão país do norte", afirmou.
A Colômbia tinha suspendido há quase um ano as fumigações, em uma faixa de dez quilômetros desde a fronteira com o Equador, a pedido do Governo de Quito. Os moradores da fronteira haviam denunciado os danos que estavam sofrendo como conseqüência do uso do herbicida.
A população assegura que o glifosato provoca danos à saúde, à de seus animais e também afeta as plantações de mandioca e banana, entre outros cultivos, mas Bogotá sustenta que o produto é inócuo.
Após sua vitória em 26 de novembro, Correa já viajou a Brasil, Bolívia, Peru, Chile e Argentina. Segundo Espinoza, Correa assegurou que deseja manter "as melhores relações com todos os países do continente".
EFE, 18/12/2006.
6. Manejo inadequado de plantas interfere no controle de soja RR
Apesar da soja RR ser opção para lavouras com alta infestação de plantas daninhas, o manejo inadequado vêm permitido a manifestação da resistência de plantas daninhas ao herbicida glyphosate. Há registros, no Paraná e no Rio Grande do Sul, de lavouras de soja RR com problemas de resistência a azevem e espécies de buva.
Recentemente, foi confirmado no Rio Grande do Sul, a resistência de amendoim bravo ao glyphosate. "Isso vem ocorrendo porque os produtores não estão usando adequadamente as tradicionais práticas de manejo que valem tanto para soja convencional quanto para soja transgênica", diz o pesquisador, Dionísio Gazziero, da Embrapa Soja.
O pesquisador alerta que o uso continuado de um mesmo herbicida tanto em soja convencional quanto em soja RR acaba selecionando plantas tolerantes e resistentes, o que torna difícil o controle em condições de campo. Como recomendação, ele orienta rotacionar soja convencional e transgênica (soja RR), o que facilita o uso de herbicidas de diferentes mecanismos de ação.
"Em soja RR, o glyphosate é o produto padrão, mas sabemos que seu uso continuado provocará mudanças na comunidade infestante e levará a necessidade de aumento da dose e até mesmo na redução no espectro de ação. Isso resulta em perdas das vantagens competitivas da nova tecnologia", enfatiza Gazziero. "Para manter essas vantagens, é preciso uso de sistemas que possam permitir a sustentabilidade da produção".
A orientação para evitar o problema passa pelo controle das plantas daninhas durante todo o ano e não só na safra de verão. O pesquisador afirma ser comum verificar que as plantas daninhas não são controladas adequadamente na cultura da safrinha e no pousio (período em que a terra fica descoberta).
"Nesses casos, ocorre a multiplicação de sementes das espécies infestantes e o aumento do banco de sementes", diz. "Em alguns casos, a pressão de infestação chega a tal ponto que inviabiliza qualquer produto funcionar de forma satisfatória".
Gazziero levanta outro ponto importante referente a utilização de doses recomendadas de herbicida e não sub-doses. "Existe no Brasil a tendência de uso de doses menores do que as recomendadas, fator comumente associado ao escape de controle, especialmente das espécies tolerantes", diz.
Ao analisar os problemas na soja RR, Gazziero ressalta que não se pode ignorar a interferência do mato sobre a cultura (mato-interferência). "Ficamos preocupados ao verificar que algumas propriedades estavam eliminando a operação de dessecação e semeando a soja no mato, o que é um grave erro", explica. "Estudos mostram que as perdas de produtividade podem totalizar pelo menos seis a sete sacos/ha, quando não se faz o controle na pré-semeadura".
Buva
No caso da buva, o problema aconteceu com o uso do glyphosate na entressafra, especialmente nas áreas em que não houve uma adequada ocupação ou cobertura do solo. A buva é uma espécie que se desenvolve em beiras de estradas e áreas não agriculturáveis e dali se espalham com facilidade para as lavouras, através de sementes que são facilmente carregadas pelo vento. "Se não forem tomadas medidas de controle imediatas, quando chega o momento de plantio da soja, muitas vezes, a situação fica insustentável. E o pior, no meio das espécies suscetíveis apareceram os biótipos resistentes". diz. "Além disso, as plantas suscetíveis não são bem controladas quando ficam adultas".
Apesar de ser mais comum no sul do Brasil, a buva aparece em alguns estados produtores de soja na região Central, por isso, é importante que seu controle seja feito para evitar a multiplicação. Para Gazziero, a ocupação da área com culturas de safrinha ou de cobertura, associadas ao manejo químico em plantas no início de desenvolvimento resolvem o problema.
O Estado do Paraná, 19/12/2006.
7. Austrália quer importar soja e milho pelo Porto de Paranaguá
Membros do Departamento de Agricultura do governo da Austrália visitaram o Porto de Paranaguá (PR) para conferir as condições fitossanitárias para o embarque de soja e milho. A comitiva foi chefiada pela responsável do setor de biossegurança do Departamento, Holly Ainslie. "O governo australiano estuda importar soja e milho do Brasil. Para isso, viemos conhecer de perto as plantações e o escoamento destes grãos para assegurar que esta carga chegue à Austrália livre de pragas", afirmou.
Antes de conhecer o porto, a comitiva visitou plantações na região de Londrina. Holly explicou que o governo australiano escolheu o Paraná para a visita em função do Porto de Paranaguá, que possibilita maior facilidade de escoamento da carga. Holly realizou inspeções nos locais de manuseio dos grãos para atestar a limpeza e assegurar que não há riscos de contaminação.
A cientista disse ter ficado impressionada com os níveis de qualidade e afirmou que apóia a postura do governo do Paraná contra os transgênicos, já que o governo da Austrália só importa soja e milho convencionais.
Para fechar os acordos de importação, uma outra equipe australiana especialista em portos deve vir a Paranaguá para ratificar as impressões da cientista. De acordo com o chefe de planejamento da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Daniel Lúcio Oliveira de Souza, as impressões da comitiva australiana sobre o Porto de Paranaguá foram positivas. "Eles ficaram impressionados com o esforço da administração em alcançar níveis de excelência, especialmente nas questões sanitárias e de biossegurança", disse.
Certificações
A Appa está firmando convênio com o Instituto Tecnológico do Paraná (Tecpar) para obtenção de dois certificados: ISO 18000 (que atesta a segurança alimentar) e o ISO 9000 (sobre qualidade de processos). Para isso, o Tecpar vai realizar um diagnóstico dos processos adotados pelo Porto para que a Appa possa realizar as melhorias necessárias e obter as certificações. Os trabalhos devem ter início em 2007. As informações são da assessoria de imprensa do governo do Paraná.
Agrolink, 18/12/2006.
8. UE mantém direito da Áustria de proibir milho transgênico
Representantes dos países que formam a União Européia (UE) mantiveram ontem o direito da Áustria de impedir a importação de variedades geneticamente modificadas produzidas pela norte-americana Monsanto.
Estado de São Paulo, 19/12/2006.
Sistemas agroecológicos mostram que transgênicos não são solução para a agricultura
Erva-doce tratada com extrato de melão silvestre promove aumento na reprodução de predadores de pulgões
A cultura da erva-doce no Brasil tem sido intensamente atacada por uma praga devastadora, o pulgão (
Hyadaphis foeniculi Passerini). O controle desta praga foi, durante muito tempo, feito com inseticidas químicos sintéticos, o que provocou um grande desequilíbrio ambiental com impactos negativos sobre as populações de inimigos naturais, especialmente as joaninhas, com destaque para a espécie
Cycloneda sanguinea L.
As joaninhas, que tem no pulgão seu principal alimento, podem se alimentar de néctar de erva-doce como alimento complementar, rico em carbohidratos e vitaminas, principalmente na escassez de pulgões.
Quando as plantas de erva-doce são pulverizadas com produtos químicos sintéticos o néctar das flores é contaminado e provoca a morte das joaninhas ou a migração das mesmas para outras áreas. Buscou-se, na região Agreste da Paraíba - Brasil, uma alternativa de inseticida natural que fosse eficiente em controlar os pulgões mas que não ocasionasse mortalidade ou migração das joaninhas. As pesquisas revelaram excelentes resultados com a aplicação do extrato alcoólico de melão de São Caetano (
Momordica charanthia L.) no controlo da praga.
Grandes vantagens foram encontradas com a aplicação desse extrato. Dentre elas destacam-se: nenhum sintoma de toxicidade para os aplicadores, não envenenamento do néctar de erva-doce com reflexos no aumento da reprodução das joaninhas e eficiência de até 90% no controle dos pulgões.
Após três aplicações em campos de erva-doce infestados pelos pulgões as populações da praga se reduziram a um terço da população inicial, deixando de ser danosa para a erva-doce.
Por outro lado, a população de formas jovens e adultas do predador joaninha em uma das cinco propriedades estudadas, dobrou em número e em outras se manteve. Porém quando a floração da erva-doce aumentou, a população de joaninhas aumentou proporcionalmente, mostrando os efeitos benéficos do extrato de M. charantia sobre a reprodução e imigração de joaninhas na área, contribuindo assim para melhorar o equilíbrio das populações da praga.
Outra grande vantagem do uso de extrato de melão silvestre (M. charantia) é a independência do agricultor em obter seu próprio inseticida natural, uma vez que essa planta é encontrada facilmente nas propriedades onde ocorrem os cultivos de erva-doce. As equipes de pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (Brasil) e da AS-PTA (ONG local) já transferiram a tecnologia aos produtores e fizeram o acompanhamento de sua aplicação por dois anos.
Por Paulo Alves Wanderley(1), Caliandra L. C. Ramos(2), Riselane de Lucena Alcântara Bruno(3) Maria José A. Wanderley(4)*
*1. Professor da Universidade Federal da Paraíba - Brasil/ Departamento de Agropecuária; 2. Professora substituta da Universidade Federal da Paraíba - Brasil/ Departamento de Ciência Básicas e Sociais; 3. Professora da Universidade Federal da Paraíba - Brasil/ Departamento de Fitotecnia;
4. Professora do Centro de cultura Anglo Americana/ Brasil.
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=17095&op=all, 12/12/2006.
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