A Polícia Civil do Mato Grosso desmanchou ontem o que considera o maior esquema de falsificação de agrotóxicos do Brasil em Rio Preto. A operação Paracelsus, que teve apoio da Polícia Civil de Rio Preto, terminou com a prisão de um vendedor e com a detenção de três funcionários de uma fábrica clandestina localizada em Bady Bassitt. Policiais também apreenderam uma grande quantidade de defensivos agrícolas suspeitos, mas não divulgaram o valor da operação.
Os policiais realizaram 14 mandados, sete de prisão temporária, de cinco dias, e sete de busca e apreensão em Rio Preto, Bady Bassitt e Ibirá. As ordens judiciais foram cumpridas na fábrica da empresa Biofarm, de produção de produtos orgânicos, que supostamente fabrica a versão falsa do agrotóxico; no escritório da empresa e no “call center” (central de atendimento telefônico), de onde eram feitas as vendas por telefone dos produtos despachados pelos Correios para compradores em todo o Brasil.
O vendedor José Carlos Andrigo está preso e outros três funcionários ficaram detidos na Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (Dise) para esclarecimentos. Segundo Costa, os proprietários das quatro empresas investigadas - Biofarm, Rafael Vieira, Solo Rico e Brasfértil - têm mandados de prisão expedidos. São eles os empresários Diogo Vieira, Alex Sandro Rafael Vieira, Tiago Henrique Rafael Vieira e Ana Paola Rafael Vieira. Outras duas pessoas, que não tiveram os nomes divulgados, também podem ser presas.
Os investigados poderão responder por diversos crimes, entre eles estelionato, por estarem enganado pessoas que compram de boa fé; falsificação, receptação ou contrabando, caso fique comprovado que o princípio ativo seja roubado ou contrabandeado e transporte em desacordo com a legislação ambiental e formação de quadrilha.
De acordo com o delegado Carlos Fernando da Cunha Costa, os agrotóxicos eram enviados com notas fiscais de vitaminas, com custo entre R$ 2,4 mil e R$ 3 mil, enquanto os originais, Regent WG800 e Standak, fabricados pela Basf, são comercializados no mercado por cerca de R$ 6 mil. “A investigação começou em janeiro do ano passado, quando funcionários do Instituto de Defesa Agropecuária do Mato Grosso (Indea) fizeram uma fiscalização nos Correios de Várzea Grande (MT) e desconfiaram de uma mercadoria que estava sendo transportada”, afirmou.
Ao analisar os produtos, os fiscais descobriram que o material transportado como vitamina era, na verdade, veneno. Além disso, segundo Costa, os fabricantes clandestinos utilizavam embalagens usadas, as lavavam e depois as reutilizavam, incluindo rótulos e lacres falsos imitando os originais. Ao fazer a perícia na substância, os policiais observaram que o princípio ativo contido nos produtos, o fipronil, estava em menores proporções do que no original. “Ainda é difícil estabelecer os riscos à saúde, mas a venda de produtos é restrita. Só pode ser feita para usinas de açúcar e álcool e ocorria para produtores de soja”, disse.
Segundo Costa, as investigações partiram de interceptações telefônicas dos vendedores. As quatro empresas utilizam a mesma estrutura, incluindo os cerca de 70 funcionários do call center que atuam na venda do produto para todo o Brasil e a manufatura dos produtos na fábrica em Bady Bassitt. “Pelo que apuramos, essa é a maior fábrica clandestina de defensivos agrícolas do país. Eles distribuíam em todo o território nacional”, disse.
Embora não haja números que mostrem a movimentação financeira das empresas, a polícia aprendeu uma série de talões de pedidos de compras e, em um deles, constatou um orçamento de R$ 90 mil para um empreendimento do Mato Grosso. “Ao supor que uma fazenda usa de 150 quilos a 200 quilos de produto na lavoura por ano, dá para contabilizar a margem de lucra absurda que eles tinham”, avalia.
Investigações vão continuar
O delegado Carlos Fernando da Cunha Costa afirmou que a próxima etapa da investigação é descobrir como os empresários adquiriam as embalagens já utilizadas e descobrir qual a origem do fipronil, substância utilizada nas falsificações dos agrotóxicos. Uma das suspeitas leva que a crer que a substância seria roubada e depois utilizada para aumentar o volume em mistura com outras. “Outra hipótese é que essa substância viria de laboratórios chineses, por meio do Paraguai.”
Os acusados também continuarão sendo procurados e os funcionários ouvidos. O material aprendido na fábrica passou por perícia e parte segue para Cuiabá para nova análise. A investigação segue em outras frentes, que inclui cidades mineiras como Uberlândia e Uberaba, em que pode haver filiais da empresa rio-pretense que estariam vendendo o produto falsificado em Rio Preto. “As investigações se cruzaram com as da Polícia Civil de Guarulhos, que estava atrás de roubo de cargas da Basf.
Uma possibilidade é que os motoristas dos caminhões estivessem trocando o produto original pelo falsificado”, afirmou. O nome da na operação “Paracelsus” é alusivo ao médico, alquimista, físico e astrólogo suíço Paracelso, considerado por muitos como um reformador do medicamento e fundador da Bioquímica.
Outro lado
Os advogados dos empresários e dos funcionários investigados, Faiçal Cais e Luciene de Andrade Cais, disseram ontem que não iriam se pronunciar oficialmente antes do depoimento dos mesmos.
Fonte: Diário da Região em 14/03/2012
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