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Pesquisa aponta relação entre uso de agrotóxicos e alto número de suicídios


Só em 2001 suicidaram-se 21 pessoas - na maioria agricultores

Giovana Girardi escreve para a revista 'Galileu':

No dia 14 de junho, Tadeu José Severo se levantou, e, como de costume em todas as frias manhãs gaúchas, falou para a mulher que iria fazer fogo, preparar o chimarrão e então acordá-la.

Mas 'Leu', como era chamado pela família e amigos, mudou de idéia, foi até o campo onde plantava fumo e se enforcou.

O ato pode parecer um caso isolado. Mas só em 2001 suicidaram-se 21 pessoas - na maioria agricultores - em Santa Cruz do Sul, cidade gaúcha com cerca de 100 mil habitantes, conhecida como capital do fumo.

Para especialistas em saúde, o número é alarmante: a média brasileira é de 3,8 suicídios por 100 mil pessoas. O recorde de 2001 é da Rússia, após 10 anos de crise social e econômica, com 34 por 100 mil, segundo a Organização Mundial da Saúde.

Ainda não se sabe se o uso de agrotóxicos está diretamente ligado à depressão que conduz aos suicídios - também constatados pela reportagem de 'Galileu' entre agricultores de batata e morango em MG.

Pesquisa recente mostra que essa dúvida não pode ser desprezada, como fez o Ministério da Saúde ao não apurar, como prometeu há seis anos, várias mortes em circunstâncias idênticas.

Em 96, o assunto ganhou as páginas da imprensa brasileira e internacional quando uma epidemia de suicídios atingiu Venâncio Aires, cidade vizinha de Santa Cruz.

Na época, o índice local chegou a 37,22 casos por 100 mil habitantes.

Integrantes do Gipas (Grupo Interdisciplinar de Pesquisa e Ação em Agricultura e Saúde), uma entidade autônoma gaúcha, lançaram então a suspeita de que intoxicações com os chamados organofosforados - substâncias presentes em vários agrotóxicos - pudessem causar depressão, levando aos suicídios.

O Ministério da Saúde chegou a encomendar um inquérito epidemiológico para averiguar a questão. Passados seis anos, o estudo não foi adiante, e o problema, apesar de ter desaparecido da imprensa, continua.

Pesquisadores da Unisc (Universidade de Santa Cruz do Sul), da Unicamp e da UFRJ encontraram agora novos indícios que reforçam a tese, mas o vilão da história pode ser outro componente.

Em vez dos organofosforados, o estudo constatou que o manganês, presente em alguns fungicidas, pode provocar danos muito mais graves.

E concluiu: 'Pode-se aceitar como verdadeira a hipótese de que os agrotóxicos utilizados indiscriminadamente no cultivo do tabaco causam intoxicações e distúrbios neurocomportamentais nos membros das unidades familiares de produção'.'

As culturas de fumo são geralmente plantadas por pequenos produtores, assim como as de batata e morango.

Pesquisas consultadas pela reportagem da 'Galileu': (faça o download)

Estudo transversal sobre a saúde mental de agricultores da Serra Gaúcha (1999) Universidade Federal de Pelotas

Suicído e Doença Mental em Venâncio Aires - Conseqüência do Uso de Agrotóxicos Organofosforados (1996) Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul

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Pesquisas consultadas pela reportagem da GALILEU:

Impacto da Cultura do Tabaco no Ecossistema e na Saúde Humana na Região de Santa Cruz do Sul (2000)
Universidade de Santa Cruz do Sul (trechos)
http://galileu.globo.com/edic/133/agro1.doc

Estudo transversal sobre a saúde mental de agricultores da Serra Gaúcha (1999)
Universidade Federal de Pelotas
http://galileu.globo.com/edic/133/agro3.pdf

Suicído e Doença Mental em Venâncio Aires - Conseqüência do Uso de Agrotóxicos Organofosforados (1996)
Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul
http://galileu.globo.com/edic/133/agro2.doc

[A íntegra desta matéria está na revista 'Galileu' de agosto: http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT351671-1719,00.html
Ver também referências no final desta mensagem.]

fonte - Jornal da Ciência/SBPC, Terça-Feira, 30 de julho de 2002 http://200.177.98.79/jcemail/Detalhe.jsp?id=3790

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