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Trabalhadores rurais não compreendem informações contidas nos rótulos de inseticidas


Pesquisa mostra que agricultores não conseguem entender o significado das palavras que se referem à classe e ao ingrediente ativo do produto.

As empresas que fabricam os agrotóxicos devem cumprir uma série de exigências estabelecidas por lei. Os rótulos, por exemplo, devem conter todas as informações necessárias para que os produtos sejam utilizados adequadamente, como grau de periculosidade, equipamentos de proteção individual necessários para o manuseio e aplicação do produto, ingredientes e grupo químico a que o inseticida pertence. No entanto, não adianta os agrotóxicos conterem todas as informações necessárias, se os agricultores ou trabalhadores rurais responsáveis pela sua aplicação não conseguem compreender seu significado. É o que mostra uma pesquisa realizada por Marina Castelo Branco da Embrapa Hortaliças.

De acordo com artigo publicado na revista Horticultura Brasileira, na edição de julho/setembro de 2003, “estudos visando avaliar o grau de compreensão dos rótulos dos inseticidas por parte de agricultores são importantes para que diretrizes possam ser traçadas a fim de viabilizar programas de redução de intoxicações e programas de manejo de resistência a inseticidas, onde é recomendada a rotação de produtos que pertençam a grupos químicos diferentes”.

Diante disso, Marina Branco resolveu entrevistar agricultores do Núcleo Rural da Vargem Bonita, localizado a 20 km de Brasília. O Núcleo é uma área de produção intensiva de hortaliças que abastece parte do mercado consumidor do Distrito Federal. Foram entrevistados 17 agricultores, correspondendo a 25% do total da região.

Segundo a pesquisadora, “a maioria dos responsáveis pelas aplicações de inseticidas eram trabalhadores rurais com carteira assinada (58%) e sem este documento (18%), seguidos de arrendatários (12%) e meeiros (12%), com baixo nível educacional”. O salário dos entrevistados variava de um a 2,2 salários-mínimos e a maior parte das propriedades praticava o policultivo, ou seja, o cultivo de mais de um produto, sendo o principal a alface. Marina explica que do ponto de vista econômico, a diversificação de culturas é vantajosa, pois como os preços das hortaliças variam no decorrer do ano, os riscos de perdas econômicas são diminuídos: “do ponto de vista do controle de pragas, o policultivo também é vantajoso, pois os riscos de perdas por danos de insetos é também diminuído”.

O agrotóxico mais utilizado pelos agricultores era, segundo a pesquisadora, o organofosforado metamidofós, usado em todas as culturas da região e aplicado no início do ciclo. “Alguns fatores podem contribuir para a grande popularidade deste organofosforado classe II altamente tóxico, entre eles o baixo custo quando comparado a outros produtos disponíveis no mercado e a tradição do uso do produto pelos agricultores”, explica no artigo.

Em relação aos rótulos dos produtos, 12% dos entrevistados afirmaram nunca lê-los. “Dos 88% dos agricultores de Vargem Bonita que liam os rótulos dos inseticidas, as seguintes informações eram buscadas: pragas controladas (6%), período de carência (18%), dosagem do produto (29%) e equipamentos de proteção individual necessários para aplicação do inseticida (41%), sendo que, neste caso, muitos olhavam apenas as figuras que indicam o equipamento adequado”, relata Marina. Mesmo assim, ela verificou que a maior parte deles utilizava o equipamento de proteção incompleto, o que é perigoso, à medida que pode causar intoxicação.

Além disso, ela constatou que nenhum trabalhador compreendia o significado das palavras que indicam a classe ou o ingrediente ativo do inseticida. Segundo ela, esse conhecimento é importante, para que eles possam entender as publicações sobre o produto ou os testes de inseticidas e para que eles possam escolher o inseticida de melhor preço dentre aqueles de mesmo ingrediente ativo. “A compreensão das informações também é fundamental para que programas de manejo de resistência a inseticidas possam ser executados, onde é recomendado o uso em rotação de produtos de classes diferentes”, explica.

fonte: www.notisa.com.br em 2003

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