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Comida envenenada

A recente informação divulgada pela ANVISA, dos alimentos contaminados por agrotóxicos, é a ponta do problema enfrentado pela população, da ingestão continuada de alimentos contaminados, com grandes evidências de efeitos negativos sobre a saúde humana. O tomate e o pimentão são os campeões do veneno, mas também tem perigo, o nosso diário arroz e feijão.

Na verdade, isso não é um problema novo, ele vem de longe. Quem acompanha minimamente a agricultura sabe do tamanho da descarregada de veneno sobre as plantas em cada ciclo produtivo, criando plantas cada vez mais resistentes que exigem mais veneno e o ciclo se renova aumentando, cada vez mais doses e mais agrotóxicos nos alimentos e no meio ambiente, a exemplo do que ocorre nas hortaliças, algodão, soja, fumo, etc. Imaginem o significado disso no Rio Grande do Sul, onde o uso de um único herbicida está em mais de 90% da soja plantada. O Rio Grande hoje consome perto de 25 milhões de litros desse herbicida, ou 2,5 litros para cada habitante/ano. Nessa mesma direção vai o Brasil que é o campeão mundial de consumo de agrotóxicos regulares e irregulares. Isso funciona assim: Quanto mais desequilibrado estiver o meio ambiente, maior será a ocorrência de pragas e doenças nas lavouras e aí, mais veneno para salvar as plantações, que agrava o desequilíbrio e o ciclo se renova, com mais desequilíbrio, mais veneno, menos lucro para os agricultores e menos saúde para a população. Pobre do nosso meio ambiente e da nossa saúde.

Esse problema está no centro da saúde da população, por se tratar de um componente perigoso e que nos acompanha diariamente. Lembremos o debate dos anos 90, sobre a qualidade da água do Rio Dourados, chegando aos lares douradenses, carregada por venenos das lavouras a montante da estação de captação, principalmente da Ex-Fazenda Itamarati. Era o prenúncio de um grande problema futuro. O problema aumentou, o câncer aumentou, entre outras ocorrências graves que, comprovadamente, tem relações com a contaminação por agrotóxicos.

Quando li "o homem não tem mais jeito e vai se destruir pela própria criação" fiquei desconfortado, reconhecendo a autofagia do instinto humano. Neste caso, alimento contaminado é sinônimo de uso exagerado de agrotóxicos e de meio ambiente desequilibrado. Contudo, a população mantém uma grande indiferença com o problema, por desconhecimento, ou porque a preocupação maior é com o bem estar diário. A propósito, pesquisa feita na Grande Porto Alegre em 2.009, mostrou que o ambiente não é visto como prioridade no bem-estar social. Na pesquisa, a questão ambiental ficou em penúltimo lugar, indicando que meio ambiente só é prioridade quando a enchente leva a casa ou a família intoxica por comida envenenada. Ou seja, faltam consciência e responsabilidade social e, assim, realmente o homem não tem jeito, vai se matar, com as suas criações.

Agrotóxico é uma invenção genocida do homem, de intervenção simplista no meio ambiente, própria de uma ação insustentável de sobrevivência. A simplificação produtiva de monoculturas está na origem do problema e submete a todos aos efeitos de ambientes sujos e apropriados a males imprevisíveis. Infelizmente não temos registros confiáveis sobre intoxicações humanas por agrotóxicos e, por isso, não se sabe com precisão qual é o tamanho do problema. Não há dúvidas que, por desconhecimento, morre gente por decorrência da inocuidade dos alimentos, pensando em outro problema. O problema, sem dúvidas, é grande!

Assim, discutir desenvolvimento sustentável é, também, discutir a dose diária de veneno que suportamos consumir. É incorporar um novo paradigma de indignação do consumidor com a comida envenenada que leva à mesa diariamente e do direito social a alimentos saudáveis. Pensem nisso.

Fonte; Jornal Progresso de Dourados em 20.Ago.2010 por Engo. Agro, consultor titular da Seiva consultoria e Projetos.

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