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Agência de Proteção Ambiental dos EUA é acusada de ocultar informações da toxidade de pesticidas nas abelhas

A ONG Natural Resources Defense Council, NRDC, aciona judicialmente o governo norte-americano, para que publique estudos que associam um novo agrotóxico ao desaparecimento das abelhas, pela "desordem de colapso das colônias (Colony Collapse Disorder, CCD). Por Henrique Cortez*, do EcoDebate.

A Agência de Proteção Ambiental (U.S. Environmental Protection Agency, EPA) avaliou o pesticida clothianidin, da Bayer CropScience, em 2003, durante o processo de registro e licenciamento do produto. A NRDC acredita que a EPA possui evidências da conexão entre pesticidas e a morte de colônias de abelhas em razão da CCD e que não tornou públicas as informações.

A ONG acredita que seja importante documentar e comprovar a conexão entre pesticidas e a CCD, considerando que as abelhas são responsáveis por 90% da polinização dos campos agrícolas dos EUA, um serviço avaliado em US$ 15 bilhões. Maçãs, pêssegos, peras, abóboras, pepinos, cerejas, pimentas, soja, milho, amêndoas e girassóis são especialmente dependentes dos serviços de polinização realizados pelas abelhas.

O NRDC, com base na legislação de livre acesso à informação (Freedom of Information Act) solicitou os registros da avaliação realizada pela EPA, mas não foi atendida, razão da ação judicial para obtenção de um mandado de acesso à informação.

A ONG afirma que os pesticidas, recentemente aprovados, podem estar ligados às mortes das abelhas, mas, a EPA não liberou as informações e, aparentemente, não avaliou o impacto dos pesticidas nos insetos polinizadores.

A EPA, em informação pública, apenas reconhece que o clothianidin, de uma nova geração de inseticidas conhecidos como neonicotinoides , possui impacto no sistema nervoso central dos insetos. Pesquisadores citados pela NRDC, dizem que o imidacloprid e o clothianidin são altamente tóxicos para abelhas.

A preocupação é valida porque o clothianidin e outros neonicotinoides são usados intensamente nos EUA e o seu uso continua em expansão. Estes inseticidas são usados no milho, algodão, canola, girassóis, além de frutas e jardins. Sua área de utilização se sobrepõe sobre a área de atuação das abelhas polinizadoras, o que justifica a preocupação de que estes inseticidas e a CCD estejam associados.

A nota da EPA informa que o clothianidin, "Tem o potencial tóxico para a exposição crônica às abelhas do mel, assim como outros polinizadores, pela fixação do clothianidin no néctar e no pólen. Em abelhas melíferas, as influências, desta exposição crônica tóxica, podem incluir efeitos letais e/ou sub-letais nas larvas, além de efeitos reprodutivos na rainha."

Desde 2006, quando foi identificada, a CCD já matou mais de 1/3 das abelhas nos EUA e o índice continua aumentando, passando para 36% no período de setembro/2007 a maio/2008, contra 31% no mesmo período no ano anterior.

Um inseticida, com nome comercial de "Poncho", da Bayer AG, foi, a partir de maio/2008, proibido na Alemanha, que, aliás, proibiu toda a classe de inseticidas neonicotinoides.

Outro neonicotinoide da Bayer, o imidacloprid, foi proibido, na França, para aplicação em girassóis, sob a alegação de ser um fator indutor da CCD.

Pesquisadores ainda não identificaram a causa exata da CCD, mas, muitos, acreditam que, pelo menos em parte, esteja associada a pesticidas. Pesquisa da universidade Penn State http://www.psu.edu/ documentou mais de 70 pesticidas no polem e nas abelhas.

"Nós não sabemos se estes produtos químicos têm qualquer coisa relacionada com a desordem do colapso da colônia, mas são, definitivamente, fatores que impactam no repouso e nas fontes do alimento das abelhas, " diz o cientista Dr. James Frazier, que coordenou a pesquisa da Penn State. "Os inseticidas sozinhos não provaram que são a causa do CCD. Nós acreditamos que é uma combinação de uma variedade de fatores, incluindo possivelmente ácaros, vírus e pesticidas."

Enquanto isto, os advogados do NRDC solicitarão ao tribunal que determine à EPA a liberação dos estudos e pesquisas sobre os pesticidas e sua toxidade sobre as abelhas.

[EcoDebate, 26/08/2008]

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