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Arroz orgânico de assentamentos já está nos supermercados

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Produto precisa de maior aceitacão; principal diferença é que o arroz é produzido sem nenhum produto tóxico em todas as etapas da produção

Porto Alegre – Durante a Rio+20, no mês de junho, celebrou-se a compra pelo Grupo Pão de Açúcar de 15 toneladas de arroz orgânico, produzido por cooperativas de assentamentos gaúchos. O produto está desde então nas prateleiras de supermercados das redes Pão de Açúcar e Extra do Centro-Oeste do país. “A importância é por entrarmos no mercado. O produto ainda não é conhecido, e o consumidor olha muito a marca”, afirma Airton Luiz Rubenich, integrante da direção da Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), que fica no Assentamento Capela, em Nova Santa Rita.

“Vamos continuar comprando e expandindo, na medida de sua aceitação pelos clientes”, afirma o diretor de relações institucionais do grupo, Paulo Pompílio. A compra foi definida após um compromisso firmado pelo Pão de Açúcar com o governo federal, em 2011, como parte do Brasil Sem Miséria. “O Ministério do Desenvolvimento Agrário articulou reuniões com Pão de Açúcar e Wal Mart”, recorda Airton Rubenich. O Wal Mart, contudo, ainda não comprou o produto.

O Grupo Pão de Açúcar se comprometeu com o Planalto a comprar produtos da agricultura familiar e assentamentos para combater a pobreza extrema no campo e a capacitar trabalhadores que recebem benefícios sociais do governo federal no meio urbano, para que, posteriormente, sejam contratados pela companhia. “O varejo tem um papel muito importante a contribuir com o desenvolvimento do país”, afirma Pompílio.

Airton Luiz Rubenich conta que há cerca de dez anos um grupo de cooperativas de assentados da Grande Porto Alegre, que forma o Grupo de Produção de Arroz Agroecológico, começou a converter sua produção de arroz para arroz orgânico. “A principal diferença é que o arroz é produzido sem nenhum produto tóxico em todas as etapas da produção”, explica o agricultor.

A produção de arroz orgânico dos assentamentos é de cerca de 200 mil sacas/ano (ou 10 mil toneladas). Boa parte é vendida para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do governo federal. O governo do estado orienta delegacias regionais de educação a comprarem o produto para as escolas. O arroz orgânico também está disponível na loja da reforma agrária, no Mercado Público, em Porto Alegre, além, é claro, das lojas Extra e Pão de Açúcar do Centro-Oeste.

Ao longo dos anos de produção, os assentados foram adquirindo tecnologia, como máquinas de secagem e beneficiamento de arroz. Hoje, eles têm até tecnologia de embalagem a vácuo, o que faz com que a validade do produto seja de um ano. “Encontramos no MST um produto diferenciado, de qualidade”, destaca Paulo Pompílio.

Ele afirma, contudo, que para muitos consumidores começarem a optar pelo arroz orgânico dos assentamentos é um “processo lento”. Mas a procura dos consumidores por produtos orgânicos tem aumentado. “Percebemos que os orgânicos possuem excelente aceitação entre os clientes, principalmente aqueles com uma preocupação real com a qualidade da alimentação e a origem dos alimentos”, afirma Sandra Caires, gerente comercial de orgânicos da Pão de Açúcar.

Caires cita uma pesquisa do Ministério do Meio Ambiente, divulgada em agosto deste ano, na qual 85% dos 2.201 consumidores entrevistados se declararam mais propensos à compra de produtos se forem fabricados sem agredir o meio ambiente, como é o caso dos orgânicos. Outros 81% afirmaram ter maior interesse em um produto cultivado organicamente.

Além disso, outra pesquisa, esta da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), revelou que em 2011 a comercialização de produtos orgânicos nos supermercados do país cresceu 8%. “Apenas no Pão de Açúcar, a venda de orgânicos cresce anualmente cerca de 30%. Portanto, é um mercado ainda iniciante no Brasil e que merece atenção. Analisando os mercados norte-americano e europeu, a empresa percebeu que as demandas por orgânicos crescem muito rápido”, afirma Sandra Caires. Segundo ela, faltam estímulos para um crescimento maior no Brasil, o que a rede tem tentado fazer. “Os esforços em aumento de sortimento e comunicação nas lojas intensificaram-se nos últimos 5 anos por meio do desenvolvimento de fornecedores e produtos, além de ancorar os conceitos e exposição dentro de nossas lojas.”

Para Claudio Pereira, presidente do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), a crise do arroz, que há anos vem sendo propalada, é, na verdade, a crise da produção convencional. “Para nós a crise do arroz é a crise de um modelo no qual o produtor depende de insumos externos. Na produção orgânica, o produtor tem que tirar os insumos de sua propriedade”, afirma. Segundo Pereira, o instituto tem estimulado a produção orgânica desde a capacitação, a pesquisa até a procura de mercados. “Apoiamos desde a base até a comercialização”.

Em outubro do ano passado, foi inaugurada a primeira Unidade de Beneficiamento de Sementes de Arroz, em Eldorado do Sul. Uma parceria entre Cooperativa Central dos Assentamentos do Rio Grande do Sul (Cooceargs) e o Irga, que disponibilizou a unidade em comodato. Com capacidade de selecionar 40 sacos por hora e armazenar 10 mil sacos, a unidade permite maior autonomia dos produtores e maior qualidade dos produtos.

Claudio Pereira também destaca que o Irga tem capacitado seus técnicos para trabalhar com o arroz orgânico. “Tradicionalmente, o Irga apoiou a produção do arroz convencional”, diz. O instituto também apoiou a realização de um seminário de agricultura biodinâmica na Coopan, um sistema que visa reduzir ao máximo a necessidade de insumos externos. Além disso, na última Expodireto o Irga bancou a vinda de compradores de fora do país e articulou encontros, conseguindo, por exemplo, a venda de arroz orgânico para o Canadá.

Para Claudio Pereira, a produção agroecológica é melhor para a saúde do consumidor, do produtor e do meio-ambiente. Traz também benefícios econômicos e sociais. “Queremos viver um novo momento. Ampliando, e muito, a produção de arroz orgânico no Estado”, afirma.

Por meio do Badesul, o governo do estado repassou R$ 4 milhões à Cooperativa Central dos Assentamentos do Rio Grande do Sul (Coceargs), que congrega 13 cooperativas e associações ligadas a assentamentos gaúchos. O repasse faz parte do Projeto Monitorado de Qualificação da Infraestrutura Básica e Produtiva dos Assentamentos. Segundo a diretora do Departamento de Desenvolvimento Agrário da Secretaria Estadual do Desenvolvimento Rural (SDR), Adriane Siqueira, os recursos do Plano Safra resultaram na melhoria da qualidade de energia elétrica no Assentamento Capela, em Nova Santa Rita.

“Proporcionará maior rendimento operacional na demanda para beneficiar o arroz das famílias dos assentamentos que produzem arroz agroecológico e fornecer um volume maior e de melhor qualidade de alimento. Isto impactará de forma positiva na qualidade de vida das 465 famílias de agricultores da região metropolitana de Porto Alegre”, afirma a diretora. A região de Nova Santa Rita também recebeu recursos acessados pela cooperativa Coperterralivre no Plano Safra 2011/2012. Os recursos serão aplicados na ampliação física do setor de embalagem e de uma unidade de beneficiamento de arroz agroecológico no Assentamento Capela.

Além disso, a produção de arroz agroecológico está sendo beneficiada pelo Departamento de Agricultura Familiar da SDR, através do Programa de Financiamento de Sementes para Arroz, que disponibiliza linha de crédito para aquisição de sementes por meio do Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento dos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Feaper). As cooperativas vinculadas ao Grupo de Produção de Arroz Agroecológico (Coopan, Cooperterralivre, Cootap e Sete de Julho) foi de R$ 410 mil na safra 2012.

Segundo Adriane Siqueira, estão previstos investimentos na cadeia produtiva do arroz ecológico, por meio do BNDES, em municípios como Tapes, Viamão, Eldorado do Sul, Guaíba e Nova Santa Rita, que permitirão a consolidação desta atividade produtiva nestes locais, mais próximos da Capital, e sua expansão para vários cantos do Estado. “Esse novo investimento proporcionará a expansão para outras regiões do estado como São Gabriel, Manoel Viana, Santana do Livramento , Candiota , Hulha Negra e Aceguá”, revela Adriane.

“A gente busca apoiar tanto politicamente quanto financeiramente que os assentamentos se desenvolvam, se qualifiquem. O Estado acredita muito nisso”, afirma a diretora do Departamento de Desenvolvimento Agrário. “Quando se trata de produção agroecológica, é importante ressaltar que boa parte da produção vai para os mercados institucionais, por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), ou do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Então, os mais carentes acabam acessando alimentos de qualidade, é importante até mesmo para a saúde pública. Este nicho antes já foi apenas para os mais abonados”, afirma Adriane Siqueira.

Fonte:Sul 21 em 10/10/2012 por Felipe Prestes

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