Com o objetivo de definir estratégias para a defesa ambiental, a Fundação Procon, órgão vinculado à Secretaria da Justiça, realizou, no final do ano passado, a pesquisa "Consumidor e Meio Ambiente". O levantamento atingiu 415 pessoas da capital paulista e constatou que a população reconhece a necessidade de um consumo sustentável, mas por falta de conhecimento e canais de participação, não são tomadas atitudes mais concretas.
O levantamento procurou conhecer, junto a moradores de São Paulo, percepções,
grau de sensibilização e conscientização sobre a questão ambiental da
cidade, bem como detectar de que forma os entrevistados identificam-se no seu
dia-a-dia como agentes de transformação e até que ponto associam o ato de
consumir à degradação ambiental.
A análise dos dados foi dividida em alguns tópicos: o consumidor paulistano face aos problemas ambientais da cidade (consumo de energia elétrica, poluição do ar e uso do veículo particular, consumo de água, lixo e outros tipos de poluição); o consumo de produtos (ecológicos, recicláveis/reciclados e critérios e preocupações na compra); o consumo e o meio ambiente (consumismo e consumo individual e degradação ambiental) e consumo sustentável: pressupostos (fim de água potável, relação homem - natureza, imagem dos ambientalistas e vínculos com o futuro).
Consumidor e problemas ambientais da cidade
Na abordagem
dos problemas ambientais, poucas foram as menções espontâneas a causas e conseqüências
ligadas à degradação ambiental, tais como danos ambientais em decorrência da
poluição causada por automóveis e preocupação com contaminação ambiental
pelo lixo.
A percepção da correlação entre consumo e problemas ambientais foi
expressiva, mas as causas não diretamente vinculadas ao consumo tiveram
repercussão maior junto aos entrevistados. Por exemplo, a poluição do ar como
o maior problema decorrente do uso do automóvel, apontada por 72%; e 37%
indicou o desperdício no consumo doméstico de água como causador de sua
falta. Parcela significativa dos entrevistados apontou soluções que implicam
em mudanças de comportamento do consumidor para a resolução de problemas no
futuro.
O Poder Público é visto pelos paulistanos como o principal responsável pela
iniciativa para a solução dos problemas ambientais na cidade, já que a
maioria das sugestões depende de sua intervenção direta ou indireta para a
implentação.
O Conjunto de medidas apontadas indica que parte da população também começa
ter expectativas quanto a ações mais voltadas para a prevenção dos
problemas, como a reciclagem (principal solução indicada para o problema do
lixo), planejamento urbano e a ação ambiental (falta de água ) melhoria dos
transportes (poluição do ar).
Consumo de produtos
O poder de
escolha do consumidor é uma das formas de atuação no panorama atual de
degradação ambiental. Para a maioria dos entrevistados o produto ecológico é
aquele que vem diretamente da natureza (natural ou pode retornar rapidamente a
ela (biodegradável) além de reciclável e não prejudicial à saúde.
A maior parte das respostas considerou um aspecto dos produtos (origem, momento
da utilização ou descarte) não havendo indicação sobre os processos
produtivos ( não se considera o ciclo de vida total do produto). Grande parte
da amostra (85%) soube de alguma forma definir um produto reciclável, enquanto
58% informou que não fica sabendo se o produto será reciclado e 39% dos
entrevistados ( com repercussão em todas as classes sociais) baseia-se nos símbolos
de "material reciclável", presentes nos rótulos, no tipo de material
ou na presença de separação do lixo para inferir que o produto esteja
efetivamente sendo reciclado. Nenhum desses aspectos, porém, é garantia que o
material esteja sendo reciclado de fato.
Tal ato pressupõe infra-estrutura específica (seleção, coleta, comercialização
, processos industriais), sendo que em alguns países o símbolo é acompanhado
de alerta de que não é garantia de reciclagem, ou só é permitido seu uso
quando existem formas adequadas de coleta e destino disponíveis para o público.
Considerando-se a vulnerabilidade do consumidor ( incapacidade de conhecer os
impactos ambientais envolvidos em todo o ciclo de vida de um produto)
ressalta-se a importância de serem garantidas informações ambientais
verdadeiras e corretas. Com isso, não pode ser dada margem para que a rotulagem
ambiental seja usada como mero recurso de marketing, induzindo o consumidor em
erro.
Consumismo - Consumo individual e Degradação Ambiental
Quase a
totalidade dos entrevistados condenou uma conduta pautada ao consumo em excesso
e no desperdício. O consumidor, de forma mais ou menos elaborada, vê implicações
sociais e ambientais do consumo exagerado de alguns cidadãos.
Apenas 22% dos entrevistados restringiu a questão a implicações de caráter
individual. Embora a conduta consumista seja condenada, dois em cada três
paulistanos são da opinião que sua forma de consumir não contribui para a
degradação ambiental.
Consumo sustentável: pressupostos
Para cerca de
91% dos entrevistados deve existir uma preocupação com o futuro do planeta,
seja pelo dever ético com futuras gerações ( apontada por dois em cada três
entrevistados), pelos próprios descendentes ( um em cada três). Essas
respostas indicam uma predisposição favorável à questão ambiental que
exigem um sentido de responsabilidade para com o futuro do planeta e das futuras
gerações.
A pesquisa visou dar elementos que subsidiem projetos de educação para o
consumo, com base em dados reais. Tais informações poderão possibilitar
intervenções mais racionais e eficazes do Poder Público, para, inclusive,
mudar condutas de consumo, voltadas mais intensamente para um consumo
efetivamente sustentável.
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