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Plantas alimentícias não convencionais se popularizam no paladar de moradores da região

Parece mato, mas não é. No jardim da vizinha, no caminho para o trabalho, na horta urbana ou até mesmo em um vaso dentro de casa, muita gente já deve ter tido contato com as Pancs (Plantas Alimentícias Não Convencionais), mas não sabe o que elas representam. A sigla é autoexplicativa: alimento incomum e ainda pouco explorado pelos brasileiros, já que o uso de produtos industrializados e processados ganharam protagonismo nos cardápios ao longo das últimas décadas. No entanto, movimento que tenta reinserir a cultura da alimentação natural já tem reunido adeptos em todo o País, inclusive no Grande ABC.

A designer de sapatos Monique Brasil, 28 anos, usou a sacada do apartamento, no Parque Santo Antônio, em São Bernardo, para montar horta. “Tem guabiroba do mato, ora-pro-nóbis, trevos, boldo, peixinho de horta, erva cidreira, babosa, manjericão, orégano e salsinha. Tudo direto da terra”, orgulha-se. Faz cerca de um ano e meio que ela aderiu ao veganismo (modo de vida que busca eliminar a exploração animal) e se encantou pelas Pancs. “No geral, são muito baratas (ora-pro-nóbis custou R$ 6)”, destaca sobre as mudas vegetais, compradas em hortas urbanas.

Além das plantas incomuns, as partes não convencionais de alimentos, como a rama da cenoura e a casca da banana, também são Pancs. “Se alimentar bem é um caminho sem volta. Você se torna uma pessoa mais consciente”, destaca Monique, que, inclusive, recebeu a equipe do Diário com refeição composta por plantas alimentícias não convencionais: salada de folhas e talos de beterraba ao molho pesto de trevos; casca de banana refogada; além de temaki de tofu com maionese de abacate e ora-pro-nóbis.

Com a intenção de compartilhar as descobertas a respeito do universo vegetal, Monique criou a página Revolução Panc no Facebook. “A intenção é trazer consciência alimentar para as pessoas e fazê-las entender que comida saudável só é saudável se for para todos: para nós, para os trabalhadores, para o meio ambiente.”

CAÇADOR DE PLANTAS

O cozinheiro Flávio Vitorino Pereira, 37, morador do Jardim Hollywood, São Bernardo, costuma caçar Pancs pelas ruas da cidade. “Ao encontrar alguma, levo para casa e planto”, contou. A horta feita em casa também é o orgulho do cozinheiro e conta com seis tipos de vegetais comestíveis. “As que mais uso são o peixinho, a monstera deliciosa e a beldroega.”

Vale lembrar que é necessário certo conhecimento antes de se aventurar pelo mundo das Pancs, já que algumas possuem aparência próxima das plantas venenosas, como é o caso da taioba, que só pode ser consumida após seu cozimento. “A monstera deliciosa, por exemplo, se for provada na época errada da maturação do fruto pode até asfixiar a pessoa”, comentou Pereira.

Vegetais trazem benefícios para a digestão com baixa caloria

Segundo a nutricionista mauaense Patrícia Izabel Lima Sena, 29 anos, os principais benefícios das Pancs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) são a leveza na digestão, auxílio na saciedade e no bom funcionamento do intestino, além da pouca quantidade de calorias. “Basta verificar a origem, e fazer a higienização. Os agricultores familiares podem ajudar na identificação”, explica. Uma dica, conforme a especialista, é observar se as plantas possuem moscas, insetos e até pássaros ao seu redor, pois os vegetais tóxicos geralmente costumam espantá-los. 

“Consumo (Pancs) diariamente e indico. É uma boa forma de consumir vitaminas e nutrientes de forma prática e barata”, disse a vigilante Viviane Borges Vilela, 30, moradora do bairro Jardim, em Santo André. Ela conheceu as Pancs em grupos de Facebook e, após adquirir conhecimento, decidiu criar página própria. Até mesmo encontros para a troca de sementes e de plantas foram promovidos. O Trokinhas possui 4.716 participantes. 

CURIOSIDADE

O termo Pancs completa dez anos de existência em 2018. Ele nasceu com a pesquisa do biólogo Valdely Ferreira Kinupp, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Estima-se que hoje existam pelo menos 10 mil exemplares no Brasil.

Fonte:Diário do ABC em 11-11-2018


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