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Um pequeno mundo orgânico

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Sítio Solo Rico, em Ipiguá, tem uma horta orgânica em que não há qualquer tipo de erva daninha; todas as plantas são consideradas companheiras e a produção de hortaliças é de encher os olhos - José Carlos Pontes

Produtora Ceci Bonito Ela conta que, como no plantio consorciado existem várias espécies num mesmo canteiro, há uma seleção natural que controla as pragas
Imagine um lugar onde não existem ervas daninhas. Não, não é um deserto ou área asfaltada, é o Sítio Solo Rico, em Ipiguá, onde Ceci Bonito e o seu marido, Reinaldo Paulino do Prado, coordenam uma horta orgânica instalada em um hectare. Ceci não aceita a ideia de que haja alguma coisa que saia da terra que seja "daninha". É por isso que ela chama de plantas companheiras o que nós chamamos de mato ou erva daninha. Para ela, tudo tem o seu papel e sua importância.

A Horta Mandalla, como é chamada, tem de tudo, menos produtos químicos. Agrotóxico zero. A adubação é feita com uma compostagem orgânica, preparada com esterco e restos de galhos e folhas triturados, e, depois do plantio, os canteiros são cobertos com palhas de capim braquiária.

Como fazer para acabar com os devoradores de folhas? Nada. Isso mesmo, nada. Ali não há a menor preocupação com os insetos que sobrevoam a horta. Ceci explica o que acontece: "Como nós fazemos o plantio consorciado, ou seja, existem várias espécies num mesmo canteiro, já há uma seleção natural que controla as pragas, com predadores naturais que fazem o trabalho dos inseticidas. Você pode ver os insetos, as borboletas, os grilos, mas as plantas estão intactas".

Passando pelos canteiros parece à primeira vista que está tudo misturado. É mostarda com alface roxa, alface crespa, feijão, almeirão, brócolis, etc. Realmente estão misturados, mas dentro de um critério para que haja o sucesso da plantação. É assim que funciona, segundo Ceci. "Cada planta necessita de um tipo de sais minerais, e no plantio consorciado há a combinação de várias plantas no mesmo canteiro, o que permite uma diversidade e acarreta uma simbiose de raízes que faz a troca desses minérios. É assim: uma planta necessita mais de fósforo, por exemplo, já a outra que está ao seu lado elimina muito fósforo, então há o compartilhamento entre elas. Assim é com toda alimentação de que as verduras e os legumes precisam para crescerem saudáveis".

Ela diz também que com a variedade de plantas num mesmo lugar, há a atração de mais tipos de insetos que fazem o controle biológico. Um exemplo é a vespa, que é atraída e se alimenta de larvas.

Pode-se observar no local várias flores que também têm o seu papel. As cores das flores atraem os insetos, como borboletas, que preferem colocar ali os seus ovos, deixando as verduras em paz. É tudo de acordo com a natureza, com o vento, com a lua, com o que há ao nosso redor. Para isso, na Horta Mandalla é utilizado o Calendário Biodinâmico, que define o que plantar e quando fazer o plantio de cada espécie. Toda semana planta-se alguma coisa, dentro do calendário.

Para evitar pragas vindas de fora, a horta tem barreiras naturais. De um lado há uma mata que faz uma grande proteção. Mas já foram plantados pés de banana, que, além de dar frutos, também servirão como barreira natural. Já está pronto o projeto para o plantio de árvores nativas como ipê, paineira, jacundá e outras.

Na Horta Mandalla cultiva-se alface (cinco variedades), almeirão (duas variedades), rúcula, escarola, acelga, espinafre, salsa, cebolinha, coentro, mostarda, cebola de cabeça, couve, couve-flor, repolho, brócolis (duas variedades), tomate, abóbora (duas variedades), pepino caipira, pimenta doce, pimenta ardida (duas variedades), pimentão, tomate cereja, feijão, quiabo, beterraba e rabanete.

Propriedade rural tem ervas, frutas e até pancs

Ceci e Reinaldo sempre foram da roça. Mas, mesmo quando trabalhavam como empregados, não se conformavam com a quantidade de veneno que os patrões colocavam nas suas hortas para produzir. Um dia conheceram o sistema orgânico. Era o que faltava para o casal. Foram em frente, estudaram muito (e ainda estudam) e colocaram em prática o sonho de produzir comida saudável.

Primeiro começaram com um parceiro, mas foi por pouco tempo, e aí partiram para uma propriedade própria, e em um hectare começaram a desenvolver a Horta Mandalla. Isso era 2014 e o projeto muito acanhado. Mas, sob a orientação do mestre em produtos orgânicos, Marcelo Sambiasi, fizeram a primeira horta em forma de mandala em suas terras. E viram que podia dar certo.

A Horta Mandalla virou referência e eles juntaram-se a outros produtores para fazer a parte comercial, entregando os produtos em domicílio. Foi difícil, mas ganharam a confiança dos clientes. E como tudo que se faz com afinco se consegue bons resultados, não foi diferente com Ceci e Reinaldo.

Em setembro do ano passado veio um convite ousado. O empresário Erasmo Gerolim, que sempre gostou de coisas saudáveis, propôs uma parceria em seu sítio. Veio o medo, o receio de ser algo muito grande, de dar o passo maior que as pernas. Novamente Marcelo Sambiasi foi fundamental na decisão do casal. Ceci lembra: "Falamos com o Marcelo e ele deu a sugestão de a gente falar no Sindicato Rural para se fazer cursos aqui no sítio. Assim o Marcelo estaria constantemente conosco, dando uma segurança maior. Deu certo e hoje o Marcelo ministra cursos orgânicos para mais de 60 produtores".

A horta no Sítio Solo Rico não tem o formato de mandala, como a outra, mas o sistema é o mesmo, a filosofia é a mesma e os produtos têm a mesma qualidade. Na primeira horta, onde o casal mora, agora produzem-se ervas aromáticas, banana, temperos e pancs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) como beldroega, caruru, hibisco, trapoerava e moringa. Em breve, retomarão as verduras e legumes também lá.

Agora o projeto é o plantio de frutas. Já está programado para breve plantar abacate, manga, jabuticaba, mamão, caqui, figo, uva, pera e maçã. Outro projeto prestes a ser colocado em prática será o plantio de citros. Outro desafio. (JCP)

Cliente há um bom tempo

Luiz Fernando Moreira chega à tarde na horta, estaciona o seu carro e vai acompanhar a colheita dos produtos de que necessita. Enquanto a sua encomenda é preparada, ele conta que sempre comprou da Ceci, desde quando tinha a outra horta. Compra toda semana.

Com um sorriso no rosto, ele fala que "o gosto é diferente. Depois que comecei a comer verduras orgânicas, as outras parecem sem gosto. E a gente sabe que é saudável. Eu levo de tudo porque tudo é bom".

A Horta Mandalla tem três tipos de "cestas", variando de acordo com o tamanho. A menor custa R$ 30, a média sai por R$ 45 e a maior pode ser comprada por R$ 60. Se a pessoa quiser que a entrega seja feita em casa, tem um custo extra de R$ 7.

Para fazer a encomenda, os clientes visitam o site e lá está o que pode ser adquirido, fazendo assim o seu pedido. A entrega é feita duas vezes por semana. Segundo Ceci, hoje são mais de 50 clientes que recebem semanalmente os seus produtos. (JCP)

Fonte: Diario da Região em 20/07/2018

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