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Alimento sem agrotóxicos já conquista 20% dos brasileiros

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Comida orgânica ganha mais gôndolas e público bem mais heterogêneo do que aquele estereótipo hippie, até hoje colado ao mercado dito "natural".

Natural que seja assim: no topo das neuroses contemporâneas, a saúde é a principal motivação de 54% dos consumidores brasileiros de alimentos orgânicos, segundo pesquisa da Latin Painel feitas nas principais regiões metropolitanas.

É o caso da aposentada Marlene Fonseca, 63, freqüentadora da feira do Parque da Água Branca, em São Paulo. "Eu deixo de gastar na farmácia para gastar aqui", afirma.

Ótimo. Ainda que a escolha agora venha da autopreservação, quem consome orgânicos apóia plantações sem agrotóxicos, uso racional da água e métodos agrícolas que permitem ao solo criar sua própria defesa.

De acordo com a pesquisa da Latin Painel, 20% da população brasileira já se rendeu ao charme dos orgânicos, e a fatia só aumenta. Desde o início dos 90, o crescimento desse setor no Pão de Açúcar é de 21% em média, a cada ano. A rede Carrefour aumentou as vendas de orgânicos em 40% no ano passado. A Native, no nicho dos orgânicos industrializados, aumentou seu faturamento em 38%.

O negócio é tão promissor que Carrefour e Pão de Açúcar já lançaram suas linhas. "Queremos construir hábitos de consumo com valor agregado maior", diz Leonardo Miyao, 44, diretor do Pão de Açúcar. Põe "valor agregado" nisso.

Legumes de má fama

No supermercado, um orgânico pode ser até quatro vezes mais caro do que um convencional. Caso do agrião: R$ 6,09 versus R$ 1,49 o maço.

Mas a idéia arraigada de que orgânicos são sempre mais caros é uma meia-verdade.

Quando o consumidor sai dos supermercados e vai para as feiras, alguns itens custam o mesmo que os convencionais. Caso de vegetais folhosos, palmitos e queijos. Uma couve-manteiga, R$ 1,55 no súper, na feira orgânica sai por R$ 1,50.

Já os legumes e o trigo são mesmo mais caros. "A farinha orgânica custa três vezes mais", conta Celso Gelman, 40, produtor de pães.

Essa diferença de preço tem vários motivos. "O volume de alimentos orgânicos produzidos é bem inferior, e a baixa escala traz problemas na logística, o que encarece o preço final", diz Moacir Roberto Darolt, 41, agrônomo do Instituto Agronômico do Paraná.

Mas não é só isso: "Os supermercados vendem os orgânicos como um produto diferenciado e colocam uma margem de lucro alta", diz Darolt. Cláudio Iriê, 37, diretor do Carrefour, contesta: "A margem de lucro nos orgânicos é mais baixa".

Estudo do Ministério da Agricultura de janeiro de 2007 revela que a diferença média entre o que recebe o produtor e o que o consumidor paga por um orgânico num supermercado subiu de 178%, em 99, para 250%, em 2003, na cidade de Rio de Janeiro. "Se você pega só as duas pontas, não vê os custos de distribuição que existem entre elas", rebate Miyao.

Feiras orgânicas, franquias e serviços de entrega de orgânicos se espalham pelas capitais. "O orgânico deixou o estigma de ser um produto sofisticado para se tornar comum", diz José Roberto Graziano, 56, supervisor geral de abastecimento da Prefeitura de São Paulo.

Fonte: Folha de São Paulo em 27-11-2007

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