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Produção familiar facilita transição para a agroecologia

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Rede de incentivo à produção de orgânicos já transformou mais de 32 mil lavouras no estado com capacitação e investimentos superiores a R$ 68 mi

Cestas montadas com orgânicos são uma das estratégias de vendas dos agricultores do noroeste do RJ

Rio de Janeiro – Com um estado sem vocação para o agronegócio, o Rio tem nas pequenas propriedades a sua base agrícola. Essa predominância de produtores familiares, porém, se tornou cenário propício para a disseminação de práticas sustentáveis no campo.

Foi daí que nasceu, em 2012, a Rede de Pesquisa, Inovação, Tecnologia e Serviços Sustentáveis. Mais conhecida como Rede de Agroecologia, ela reúne vários órgãos que trabalham com produção orgânica e tem como objetivo transformar as técnicas de lavoura em práticas sustentáveis.

Nestes quatro anos, o projeto já implantou mais de 32 mil projetos econômicos e ambientais sustentáveis, e beneficiou mais de 11 mil produtores rurais fluminenses. A Rede é coordenada pela Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado (Pesagro-Rio), com recursos do projeto Rio Rural, da Secretaria estadual de Agricultura.

"Trabalhar a transição para a agroecologia com agricultura familiar é mais fácil. É um setor carente de apoio, ao contrário do agronegócio. O produtor dá mais importância a essas mudanças e incentivos", diz o engenheiro agrônomo e consultor da Rede, Eiser da Costa Felippe.

Parcerias

O programa também tem a participação de outros órgãos, como Sebrae/RJ, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-Rio), Embrapa e Ministério da Agricultura. Normalmente, os escritórios regionais da Emater detectam as demandas de produtores nas regiões do estado e as entidades envolvidas formam grupos periódicos de trabalho. Os agricultores, então, recebem capacitação e apoio para a transição para a plantação sustentável.

A principal mudança é o abandono dos agrotóxicos, mas há outras técnicas de manejo do solo e plantação de árvores para aumentar a biodiversidade da área. Eiser explica que a transição demora e que há uma queda natural de colheita. Mas ressalta que, os produtos orgânicos têm maior valor agregado.

"Quando se tem agricultura viciada em agroquímicos e se retira isso, ocorre uma queda na produção até alcançar o equilíbrio do cultivo. Por isso, é importante essa venda diferenciada", pondera.

Os benefícios ambientais também melhoram a produtividade e reduzem custos com o passar do tempo. Além da policultura, as produções orgânicas são mais resistentes a mudanças climáticas.

Exemplo de sucesso é encontrado no noroeste fluminense. A região concentra 60 produtores e deve chegar a 90 com o convênio firmado entre o a Fundação Banco do Brasil, o Sebrae e a Associação Central dos Produtores de Leite de Pádua (Aceprol), que investiu R$ 200 mil no Sistema Agroflorestal (SAF).

Os agricultores receberam maquinário, como trituradores de galhos e troncos, e motosserras. Com o método chamado de Horta Floresta, legumes, frutas e verduras são cultivados ao lado de árvores de grande porte. O clima ameno criado pela sombra destas árvores retém a umidade do solo, o que gerou economia de 80% de água utilizada para irrigar as lavouras.

Além disso, o sistema permite um rodízio da colheita. A consequência direta é a extensão do período de safra em seis meses. Antes, o clima seco e as temperaturas mais altas não permitiam a colheita entre outubro e março. "O microclima criado pelo SAF e a natural retenção de umidade do solo favorecem o crescimento de espécies o ano inteiro", conta Eiser.

O agricultor e presidente da Aproban, Washington de Oliveira, conta que os incentivos foram distribuídos a outras três associações de produtores locais. "Vamos trabalhar juntos para que todos consigam progredir, preservando a natureza e expandindo o mercado da região", garante.

Crise

Ao todo, o Rio Rural já investiu R$ 68 milhões na Rede de Agroecologia e mantém, atualmente, mais de 1 mil produtores. Porém, os recursos, captados através do Banco Mundial, foram interrompidos em dezembro devido à crise no estado e aos constantes bloqueios nas contas do governo do Rio de Janeiro. Apesar de relatos de interrupção nas transições de várias propriedades, o Rio Rural acredita que os aportes voltem à normalidade a partir de março.

Fernando Miragaya

Fonte: DCI em 006-02-2017

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