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Economia circular: o que é e como pode alavancar agricultura sustentável

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Veja por que inciativas como reaproveitamento de resíduos para geração de energia e fabricação de adubos carecem de assistência técnica e investimento, segundo os especialistas


Resíduos da cana-de-açúcar destinados ao processamento e filtragem até se tornar biogás, hidrogênio verde e, então, fertilizante orgânico usado novamente no canavial. Isso é economia circular. Início, meio e fim se retroalimentam gerando equilíbrio. Um conceito que partiu do próprio meio ambiente, e está diretamente ligado ao uso racional dos recursos juntamente ao desenvolvimento econômico.

 

André Ferretti, gerente sênior de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, cita como exemplos de economia circular a reutilização da palhada do milho para proteção do solo, o próprio sistema de plantio direto, sistemas agroflorestais e a integração lavoura-pecuária-floresta.

 

“São todas práticas que pretendem ser mais eficientes no uso da matéria-prima, tirando proveito máximo dos recursos e tendo impacto positivo no ambiental, econômico e social, que é do que se trata a economia circular”, diz Ferretti, que também é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN).

 

Praticar a economia circular também contribui para desacelerar as mudanças do clima e dar um destino útil a resíduos que antes apenas emitiam gases de efeito estufa, contribuindo para o aquecimento global. Mas para que o esterco se torne biogás, é necessário investimento.

 

Assistência técnica


Segundo Ferretti, são urgentes as melhorias na presença da assistência técnica e extensão rural por meio das secretarias de agricultura do Estado, pois, a desistência da adoção de novas tecnologias, muitas vezes, se deve à falta de acesso ao conhecimento.

 

“Mudanças tecnológicas precisam de acompanhamento técnico próximo. Às vezes, o produtor volta a fazer como era antigamente porque já conhecia, e deixa de aprender algo que inclusive pode ser mais benéfico e rentável por falta de apoio técnico”, comenta.

 

Seja governamental ou via financiamento privado, Ricardo Young, presidente do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), defende que o produtor rural precisa ter incentivo para adotar a práticas que estejam de acordo com a economia circular.

 

Para ele, “a aprovação da lei do pagamento por serviços ambientais e o decreto que regulamenta o mercado de carbono vão trazer o produtor para a realidade da economia circular”.

 

“A partir do momento em que existe um incentivo à conservação da natureza, vem a melhoria da fauna e flora. Aí, com melhoria do meio ambiente, transformamos uma região pobre para conseguir melhorar a condição social, novas fontes de renda com bioeconomia, capacitação de pessoas e daí por diante”, ele complementa.

Bons exemplos


José Augusto Sousa Júnior, CEO da Mata Nativa Br, consultoria em projetos de meio ambiente, acredita que o agronegócio brasileiro está pronto para a economia circular, pois já tem exemplos bem difundidos em áreas de pequena, média e larga escala. E quem aderiu a este modelo de negócio, vê vantagens.

 

“Temos um caso de limão orgânico produzido em Paraguaçu (MG) e exportado para a Europa, em que é feita a reutilização da poda do limão para adubo natural, tirando o uso do agrotóxico. Diminuiu o custo de produção e ainda agregou valor para a exportação praticando a economia circular”, conta.


No Vale do Paraíba (SP), os exemplos de resíduos que voltam como benefício à natureza são lama de cal e cinza de caldeira, provenientes da fabricação de celulose. Com o reaproveitamento, o que teve origem no eucalipto volta a ser usado como adubo para correção da acidez do solo, tanto na silvicultura quanto para outros cultivos.

A fabricante Veolia produz três mil quilos do corretivo de solo por mês e o produto final chega a ser 50% mais barato do que as soluções sintéticas existentes do mercado, de acordo com Renata de Paula, engenheira agrônoma da empresa.

 

Como lembrou José Augusto, da Mata Nativa Br, o Conselho Empresarial Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) chegou a estimar que o Brasil é capaz de gerar US$ 17 bilhões a partir de negócios com base na natureza até 2030.

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Fonte:Globo Rural em 19-06-2022 por Mariana Grilli

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