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Cervejarias alemãs apostam no nicho orgânico

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Herbicida glifosato foi encontrado em várias marcas de cerveja na Alemanha justamente nos 500 anos da Lei da Pureza. Mas cada vez mais cervejeiros rejeitam pesticidas para garantir um produto verdadeiramente puro.

Lúpulo, malte, fermento e água são os quatro ingredientes permitidos na cerveja alemã, segundo a famosa Lei da Pureza da Cerveja (Reinheitsgebot, em alemão), datada de 23 de abril de 1516. Mas justamente no ano em que se comemora o 500º aniversário da lei, o Instituto Ambiental de Munique anunciou ter encontrado um quinto ingrediente: o glifosato – herbicida mais usado no mundo e amplamente difundido também no Brasil, principalmente em lavouras de soja.

Em março do ano passado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou o pesticida como "provavelmente cancerígeno para humanos". Estimativas do Instituto Federal Alemão de Avaliação de Riscos (BfR) apontam que um adulto teria de beber mil litros de cerveja por dia para temer por sua saúde devido ao glifosato. Mesmo assim, Sophia Guttenberger, coautora do estudo do Instituto Ambiental de Munique sobre a presença do herbicida na cerveja, se preocupa.

"Não se pode mais, de fato, classificar a cerveja de pura, pois a pureza sugerida ao consumidor pela lei não existe", afirma. A bióloga exige agora que as cervejarias alemãs garantam que pesticidas não sejam mais utilizados no plantio de cevada e lúpulo.

Pura não significa orgânica Para algumas cervejarias do país, isso já é uma realidade. A Neumarkter Lammsbräu afirma seguir uma "lei da pureza orgânica" há mais de 30 anos, recebendo seus grãos diretamente de 160 agricultores orgânicos.

Nos campos cultivados por esses agricultores, crescem entre os cereais ervas selvagens, importantes para a sobrevivência de abelhas e de outros insetos. Fungicidas e herbicidas são tabus. A água para a cerveja vem de uma fonte própria, localizada tão abaixo da terra que, segundo a cervejaria, ela está protegida da contaminação pela agricultura e indústria.

"Queremos beneficiar a natureza e os seres humanos", afirma Susanne Horn, diretora-executiva da cervejaria. "Estamos convencidos de que isso só é possível através do cultivo orgânico. Caso contrário, tira-se da natureza todos os anos uma boa parcela de diversidade e qualidade do solo, que nunca mais poderão ser repostos."

Mercado em expansão

Segundo o instituto de pesquisa Biovista, a receita proveniente da venda de cerveja orgânica aumentou 14% na Alemanha entre 2013 e 2015. Como líder de mercado no setor, a Neumarkter Lammsbräu terminou 2015 com um aumento de vendas de 6%, totalizando 85.698 hectolitros de cerveja.

Apesar disso, mesmo entre as pessoas que valorizam a alimentação orgânica, a cerveja orgânica ainda costuma ser ignorada, diz Horn. Segundo a diretora-executiva da cervejaria, muitos consumidores acreditam que a Lei da Pureza já garante a qualidade orgânica. "Nesse ponto ainda temos de fazer muito trabalho de esclarecimento", afirma.

Grandes fabricantes entram no nicho

Marc-Oliver Huhnholz, porta-voz da Federação dos Cervejeiros Alemães, disse não ver uma verdadeira tendência com vista a um consumo maior de cerveja orgânica. Mesmo que a demanda seja identificável, a bebida continua sendo um produto de nicho, afirma.

Um nicho, no entanto, em que cada vez mais cervejarias convencionais estão se posicionando com suas próprias versões. "Vemos que a gama de ofertas de muitas cervejarias foi ampliada, também para atender a esse segmento", afirmou o porta-voz.

Para a grande maioria dos fabricantes, no entanto, a pureza orgânica não é um problema. "Do nosso ponto de vista, a cerveja alemã já é pura, de qualquer forma. Os registros [de contaminação] por meio de pesticidas ou substâncias semelhantes são – se existem – muito baixos e constantemente monitorados", comentou Huhnholz. Guinada agrícola necessária

Desde que o Instituto Ambiental de Munique anunciou ter encontrado em todas as 14 cervejas mais populares da Alemanha resíduos de glifosato, a confiança da população na Lei da Pureza foi abalada. "Nossos clientes dizem que, desde então, um número muito maior de pessoas recorrem a nossos produtos", afirmou Horn.

Na vida privada, a empresária também aposta em produtos orgânicos. "Não quero adicionar ao meu corpo nenhum pesticida nem fungicida. Não existe nenhum estudo de longo prazo sobre os prejuízos disso para a saúde. E também não quero que o emprego dessas substâncias leve à perda de diversidade e à contaminação de nossa água.


De acordo com Guttenberger, a agricultura convencional criou um sistema que vai se autodestruir em algum ponto. Para reduzir a utilização de pesticidas, o Departamento Federal do Meio Ambiente da Alemanha lançou recentemente um programa de cinco pontos para uma proteção sustentável de culturas. Trata-se de uma questão que afeta toda a agricultura convencional – não apenas a cerveja.

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