logomarca

Aplicativo ajuda agricultores a encontrar abelha ideal para polinizar lavouras

Startup conecta apicultores e produtores rurais em busca de melhor resultado nas propriedades

 

Padronização. Este foi um dos principais ganhos percebidos pelo produtor de morangos Caio Coluci ao adotar a polinização assistida em sua fazenda, em Bom Repouso (MG). “Hoje, a gente nota uma uniformidade, um padrão no fruto e na lavoura onde há a presença das abelhas”, observa Caio.

 

Após algumas experiências frustradas, o produtor decidiu investir em um estudo aprofundado da cultura e da região onde fica localizada sua plantação, para, assim, encontrar a abelha perfeita. “O resultado foram frutos mais bonitos, mais cheios, mais pesados e mais doces. O fruto se formou melhor e ganhou mais peso – e todo o mercado é peso”, comemora Caio.

 

A presença das abelhas resultou em frutos 13% mais pesados, com 77% menos deformações e 20% mais açúcar (Brix). Caio explica que só voltou a investir na polinização por abelhas depois de ouvir falar dos resultados obtidos pela AgroBee, startup de tecnologia criada em 2017.

 

A empresa desenvolveu um aplicativo no qual apicultores e agricultores podem se cadastrar e, assim, encontrar abelhas e culturas que atendam às necessidades de ambos. “Não basta só deixar as abelhas passeando pelas flores, porque as culturas são diferentes e as abelhas também”, afirma Andresa Berretta, uma das fundadoras da AgroBee.

 

A equipe de campo conta com quatro biólogos e um engenheiro florestal, a maior parte especialista em entomologia, ciência que estuda os insetos. Andresa explica que a análise permite trabalhar com o conceito de “saturação” de abelhas na propriedade.

 

"A gente dimensiona uma quantidade alta de abelhas para não ter ou minimizar o risco de que parte da

]propriedade não seja polinizada"

 

Proteção ao café orgânico

 

Com 30 mil colmeias cadastradas e 5 mil hectares atendidos, a empresa tem obtido seus melhores resultados justamente nas regiões onde constatou maior ausência de polinizadores no entorno.

 

Foi o caso de Alexandre Leonel, que produz café orgânico em 110 hectares em Franca, interior de São Paulo. Em um hectare onde foi realizada a demonstração da polinização assistida, o resultado foi um pegamento de florada 50% maior durante a safra 2018/2019.

 

“Não tinha nenhuma dúvida dos benefícios da polinização por abelhas, apenas não conhecia um modelo que de fato funcionasse ou que tivesse uma metodologia replicável, que fosse capaz de ser mensurada”, explica ele.

Para a safra 2019/2020, o produtor pretende aumentar para 3,5 hectares a polinização das abelhas, com projeto de cobertura total da fazenda nos próximos anos.

 

Boas práticas para proteger animais

 

Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), os insetos polinizadores são responsáveis por cerca de 87% de toda a produção mundial de alimentos, realizando um serviço avaliado em até US$ 577 bilhões.

 

Ainda assim, a taxa de extinção desses animais cresce até 1.000 vezes acima do normal devido ao mau uso de pesticidas e ao desmatamento da vegetação nativa.


No Brasil, um grupo de 14 empresas, sob coordenação do Sindicato Nacional das Indústrias de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), lançou, em 2018, um plano nacional de boas práticas visando à preservação das abelhas.

 

A iniciativa, batizada de Colmeia Viva, visitou 88 fazendas em São Paulo, onde constatou 59 casos de mortes de abelhas por resíduos de defensivos.

 

Por essa razão, a AgroBee exige que os agricultores façam ajustes no uso de agrotóxicos durante o período de polinização. “O melhor cenário seria uma cultura não transgênica, sem uso de herbicidas. Só que, em alguns casos, é possível consorciar a aplicação à polinização desde que a equipe da fazenda siga algumas instruções técnicas”, explica Andressa.

 

Raio de 3 quilômetros por abelha

 

De acordo com a Colmeia Viva, o raio de ação de uma abelha pode se estender por até 3 quilômetros. Por isso, o movimento tem somado esforços para levar orientação técnica ao campo, conectando agricultores e apicultores, para evitar que a aplicação de produtos químicos e a soltura das abelhas coincidam.

 

“A gente tinha noção de quanto a abelha era importante para nossa cultura, mas não conseguia encontrar a forma de realocar as colmeias de forma profissional”, explica Caio.

 

Com os ganhos econômicos e ambientais bem definidos, o produtor estuda como incluir essa informação na rastreabilidade do produto, certificando a sua produção como parceira das abelhas.

 

"Para nós, que buscamos o equilíbrio da lavoura, com padronização e produtividade em larga escala para atingir todos os mercados com a mesma fruta, a abelha é essencial"

Caio Colucci, produtor de morangos em Bom Repouso (MG)


Fonte; Globo Rural fevereiro de 2020

Leia Mais: