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Para evitar os transgênicos, Sakura 'ajusta' milenar produção de shoyu

Cibelle Bouças De São Paulo

Ele foi criado há 2.500 anos por monges budistas e ainda é produzido segundo a tradição milenar, que demanda nove meses desde a mistura da soja com outro grão e com salmoura para fermentação até o envase. Mas, desde a liberação do plantio de soja transgênica no país, uma nova etapa foi incluída ao processo de fabricação do shoyu, o tradicional molho de soja da culinária oriental: a produção integrada, para garantir a rastreabilidade da matéria-prima.

Líder no segmento de molhos no Brasil, a Sakura Nakaya Alimentos adotou a produção integrada para garantir a qualidade da soja que utiliza em seus molhos. Paulo Takahashi, diretor industrial, diz que durante seis anos a empresa pesquisou bancos de germoplasma da Embrapa, da Fundação MT e de grupos privados até selecionar as variedades mais adequadas.

"O passo seguinte foi escolher produtores em regiões próximas às fábricas e que não plantassem transgênicos", afirma Takahashi. Dois produtores, em Iaras (SP) e Uberaba (MG), plantaram juntos 700 hectares. O primeiro teste foi feito em 2005, com a produção de 1,1 mil toneladas de soja. Este ano, os produtores fornecerão entre 1,6 mil e 1,8 mil toneladas, substituindo todo o volume que a empresa antes comprava de tradings.

"O processo de produção integrada permitiu ter um controle mais efetivo dos grãos e melhorou a fermentação dos molhos, com o uso da variedade mais adequada de soja", afirma Roberto Ohara, diretor de projetos da Sakura.

Ele diz que o controle dos grãos foi reforçado para atender às exigências de clientes internacionais e de empresas para as quais produz com marca própria no Brasil, como Carrefour, Wal-Mart e Masterfoods. O próximo passo será a adoção do mesmo sistema de produção para o milho. Hoje a demanda de milho da empresa é de 1,4 mil toneladas por ano. "Estamos pesquisando variedades de milho para definir a melhor a ser adotada", afirma.

Roberto Ohara - que como Paulo é neto do fundador da Sakura - observa que, graças à adoção desse sistema, a empresa negocia com grupos da Ásia a venda de soja convencional para a fabricação de produtos como queijo (tofu) e molhos de soja. Hoje, a Sakura produz 30 mil toneladas de molhos por ano e exporta 2% desse volume para a América do Sul (exceto Peru e Equador). A empresa brasileira iniciou recentemente embarques para Colômbia, Venezuela e Panamá. Sua meta é elevar esse volume para 10% das vendas totais em cinco anos. Um dos mercados-alvos, conforme Ohara, é o asiático.

"Enviamos volumes irrisórios de shoyu para o Japão, mas lá não consideram nosso molho shoyu, porque não leva trigo", diz Ohara. Na década de 1940, quando a empresa foi fundada, a oferta de trigo no país era escassa e a família Takashi substituiu o cereal pelo milho. "Graças a esse diferencial entramos no mercado japonês, concorrendo com empresas de lá".

Para atender ao crescimento da demanda por molho de soja, a empresa comprará este ano equipamentos para dobrar a capacidade de produção. O valor do investimento é mantido em sigilo. Os molhos de soja são fabricados nas unidades de São Paulo e Boituva (SP).

A Sakura também produz molhos à base de pimenta e alho e temperos para saladas sob a marca Kenko, fabricados em Ouvidor (GO). Em média, são 5 mil toneladas de produtos à base de pimenta por ano. A fábrica é abastecida por produtores locais que mantêm contrato de fornecimento. Nos últimos quatro anos, a Sakura aplicou R$ 250 mil em pesquisa com a Embrapa Hortaliças para desenvolver variedades de pimenta mais adequadas a seus molhos.

Na área de bebidas, a Sakura produz o saquê Daiti, o licor de umê (cereja japonesa) e o vinho II Vino Venerabile. A empresa não quis informar dados de faturamento, mas disse que 45% do total vem das linhas à base de soja. Em 2005, o grupo cresceu 17%.

Fonte:Jornal Valor Econômico, 1° Caderno

 

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