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Plantando e colhendo dinheiro

 

Mais cara que o mogno, madeira da teca indiana começa a dar sua primeira colheita em terras acreanas

Juracy Xangai

Nativa das florestas tropicais da Índia e Tailândia, a teca (Tectona grandis) atinge de 25 a 30 metros de altura com troncos de até 2,5 metros de diâmetro com sua madeira mais valorizada que o mogno, sendo comercializada a preços que variam de 400 a 3 mil dólares o metro cúbico colocada nos portos de exportação brasileiros. Em países consumidores como China e Japão, o metro cúbico é comercializado a preços que variam de oito a dez mil dólares.

No Acre, os primeiros 500 metros cúbicos dessa madeira reflorestada começaram a ser colhidas entre as 15 mil árvores plantadas, há oito anos, na colônia de Jandir Moscowisky, no Ramal do Bigode, para onde se entra pelo lado direito da BR-364, no projeto de colonização Peixoto.

Este primeiro lote de madeira reflorestada que está sendo colhido no Acre foi comprado pela Cooperativa de Produção dos Moveleiros do Estado do Acre (Coopermóveis), que conta com 32 marcenarias associadas.

“Essas árvores foram plantadas há oito anos, então a madeira é resultado do primeiro desbaste em que estão sendo tiradas as árvores mais fracas para abrir espaço e permitir que as mais fortes engrossem o tronco. Daqui a 12 anos será feito o segundo desbaste tirando o primeiro lote de toras que irá para exportação; o terceiro corte, com as toras maiores, só acontecerá quando elas completarem 30 anos”, explicou Domingos Sávio Diógenes Fernandes, presidente da Cooperativa dos Moveleiros.

As madeiras compradas agora têm espessura que varia entre 15 e 25 centímetros de diâmetro. “É uma madeira fina, mas que serve muito bem para as nossas necessidades. Da teca a única coisa que se perde é a casca, pois toda ela é feita de madeira dura com uma variação de cores muito bonita. Ela é clara com manchas avermelhadas.”

Foi justamente a dureza e a beleza da madeira que levaram os moveleiros acreanos a conseguir negociar com a rede de hipermercados Carrefour a venda de 18 mil jogos de mesa e cadeiras. “Eles gostaram tanto dessa madeira que pediram para a gente não usar nenhum tipo de selador ou verniz, ou seja, querem as peças apenas lixadas e polidas para que as pessoas possam sentir sua textura natural.”

Queremos mais

Sávio esclareceu que o resultado do desbaste iria ser vendido como lenha para padarias e cerâmicas de Rio Branco ao preço de R$ 30 o metro cúbico, que acabaram comprados pelos moveleiros a R$ 100 o metro. “Considerando que para cada três metros dessas toras teremos um metro cúbico de madeira serrada, esses 500 metros cúbicos só vão ser suficientes para trabalharmos durante quatro meses, por isso estamos interessados em comprar a madeira que esteja sendo retirada do desbaste de outras plantações de teca existentes no Acre”, afirmou.

Com um peso médio de 650 quilos por metros cúbico e uma produção que varia de 250 a 350 metros cúbicos por hectare, a teca é uma das madeiras mais valorizadas do mundo, superando o próprio mogno.

Organização cooperativa

Para conseguir atender à encomenda do Carrefour, as marcenarias vão ter de agir cooperativamente para conseguir realizar, pela primeira vez no Acre, a produção de móveis em série. Isso está fazendo com que a cooperativa alugue um galpão onde suas máquinas serão organizadas de modo a formar uma linha de produção principal das peças, enquanto detalhes e acabamentos serão feitos em outros locais.

Tudo acontecerá de maneira organizada e programada, porque as peças serão enviadas do Acre para São Paulo, onde uma empresa terceirizada fará a montagem das mesas e cadeiras conforme a necessidade das lojas, num sistema igual ao usado pelas indústrias de móveis do Centro-Sul.

“Esse contrato será uma grande lição prática de trabalho cooperativo para cada um de nós. O grande objetivo é que, a partir de contratos como esse, nós consigamos os recursos necessários para retirar da periferia para á-reas mais adequadas à produção as nossas marcenarias, que assim poderão produzir mais, com melhor qualidade melhorando a qualidade de vida para todos.”

Parceiros

O projeto está sendo tocado pela cooperativa que integra o Arranjo Produtivo Local Moveleiro do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-AC) em parceria com a prefeitura de Rio Branco, que cuida do financiamento liberado pela Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA) com dinheiro do Fundo para a Agricultura e Alimentação da Organização das Nações Unidas (FAO). Também integram essa parceria o Banco da Amazônia, o Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (Senai), através de seu Centro de Desenvolvimento de Tecnologia em Madeira (Cetem), e a Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac).

Investimento social

O financiamento de R$ 200 mil vem ajudar na qualificação da mão-de-obra que estará trabalhando na produção de móveis em escala industrial. Primeiro foram treinados os donos de marcenaria e seus mestres com técnicas mais modernas, além de noções de como administrar melhor o negócio desde a compra da matéria-prima, a linha de produção até o mercado onde será comercializado.

“Agora estamos iniciando o treinamento com 48 jovens que já trabalham em nossas marcenarias, o que vem resolver um problema muito sério, que é o preparo de mão-de-obra qualificada para atender as exigências do mercado. Já a compra da teca nos ajuda a solucionar parte do problema da compra da matéria-prima porque, sendo pequenas, nossas marcenarias não têm projetos de manejo de floresta e as grandes empresas preferem vender sua madeira para a exportação”, explicou Raimundo Nonato de Souza, o “Neguinho”, diretor financeiro da cooperativa.

Já a gerente de educação da Coordenadoria de Economia Solidária da Prefeitura de Rio Branco, Ronimar Pereira de Matos, o APL - Móveis gera expectativas muito positivas, do ponto de vista financeiro, comercial e social. “Estamos iniciando o treinamento de 48 jovens que estarão trabalhando na linha de produção das peças, mas outras 15 mulheres do bairro Mocinha Magalhães também estarão participando desse processo produtivo incluindo sementes e outros produtos alternativos, ou dando o toque feminino no acabamento final dos móveis.”

Além das mesas e cadeiras, dos quais o Carrefour estaria querendo pelo menos mil a três mil jogos por mês, também as aparas de madeira serão utilizadas para a produção de brinquedos pedagógicos e pequenos objetos decorativos ou utilitários.

Animada com as perspectivas, Ronimar Pereira já faz planos para o futuro. “Nesse momento estamos iniciando um trabalho em parceria com o Núcleo de Design em Artesanato e Madeira para que possamos desenvolver novos produtos que agreguem mais valor à matéria-prima local. Isso será feito de restos de madeira que, embora sejam muito bonitas, ainda são pouco conhecidas pelo mercado. Além do mais, temos uma imensa variedade de matérias-primas não-madeireiras que ainda estão sendo pouco utilizadas. Com isso, estaremos estimulando o espírito produtivo nas pessoas que, assim, estarão ocupadas e conseguindo gerar sua própria renda com dignidade”, destacou.

Fonte: http://www2.uol.com.br/pagina20/05012007/fotos/cot03.jpg

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