Custo, apurado pelo Governo, equivale a três mil euros por cada hectare ardido
elsa costa e silva
"Arderam povoamentos antigos e ordenados, que, se não fossem as extremas condições meteorológicas, não teriam sido atingidos." Os incêndios florestais causaram um prejuízo avaliado em quase 500 milhões de euros. Este é o número apurado pelo Ministério da Agricultura para as espécies florestais que foram consumidas pelas chamas até 17 de Outubro. Por cada hectare de área ardida, o país perdeu mais de três mil euros. Os números não revelam toda a dimensão da tragédia, mas dão já conta dos danos causados pelas chamas, que devastaram perto de 300 mil hectares neste Verão.
Ainda que o total da área ardida deste ano seja inferior ao de 2003 (com quase 430 mil hectares e danos avaliados em 400 milhões de euros), o custo económico será superior, já que a madeira ardida era de melhor qualidade, nomeadamente a nível do pinho e da matéria-prima para as celuloses. "Arderam povoamentos antigos e ordenados, que, se não fossem as extremas condições meteorológicas, não teriam sido atingidos", explicou ao DN Maria do Loreto Monteiro, subdirectora dos Recursos Florestais. Assim, o que esteve em causa este ano foi "material novo e de maiores dimensões".
As condições excepcionais são ainda demonstradas pelo facto de ter havido aumentos exponenciais de área ardida em certas zonas, anteriormente pouco atingidas. "Temos uma relação entre as características meteorológicas e o número de ocorrências que nunca tinha sido registada em determinados distritos, nomeadamente do litoral", adianta ainda Maria do Loreto Monteiro.
Estes números avançados não são suficientes por si sós para accionar o fundo de solidariedade comunitário. Em 2003 - ano em que o Governo português recebeu perto de 49 milhões de euros - os prejuízos globais ascenderam a 1,2 mil milhões de euros. E embora as perdas florestais tenham rondado apenas os 400 milhões, esse foi o ano em que houve mais custos sociais, com a destruição de 117 primeiras habitações (e 190 desalojados) e a morte de 20 pessoas.
Para poder accionar o fundo de solidariedade, os custos finais têm que atingir o montante de três mil milhões ou 0,6% do rendimento nacional bruto. O que, nas contas que o ministro da Agricultura apresentou no Parlamento Europeu em Setembro, significa um valor próximo dos 760 milhões de euros. Mas ainda não estão apurados os prejuízos finais. Para um custo total, falta a avaliação do Ministério da Administração Interna, que diz respeito a habitações e instalações comerciais ou industriais.
De acordo com os números provisórios apurados pela Direcção- -Geral de Recursos Florestais, o distrito mais penalizado pela época de incêndios foi Coimbra, onde as perdas já determinadas ascendem a quase 80 milhões de euros. Na contabilização dos que mais sofreram, seguem-se Leiria (com mais de 40 milhões), Viana do Castelo (com 35 milhões) e Santarém (com 30 milhões). O total dos prejuízos já determinados aponta para um valor muito próximo dos 250 milhões de euros, mas só dizem respeito a perto de metade da área ardida neste Verão. A estimativa da DGRF para a situação global é assim de 482,56 milhões de euros.
Tendo em conta os cálculos da equipa técnica que realizou o Plano Nacional contra Incêndios (em 7750 milhões de euros), estes custos representam 6,5% do valor global da floresta portuguesa. E é um valor muito superior ao que tem sido a média do último quinquénio (2000-2004). Ainda de acordo com o documento técnico, a superfície florestal ardeu à taxa de 2,7% ao ano, "assumindo custos sociais anuais médios superiores a 300 milhões de euros, tendo em conta apenas as perdas directas associadas à produção primária".
Esta contabilização da área ardida efectuada pela DGRF conta já com os povoamentos tutelados pelo Ministério do Ambiente, ou seja, da Rede Natura e dos parques e áreas protegidas, onde terão ardido cerca de 58 mil hectares. As direcções dos parques deverão fazer, até final do mês, um levantamento das perdas em termos de infra-estruturas, espécies e habitats, mas poderá não haver uma contabilização monetária, já que estas são áreas sem valores comerciais atribuídos.
Quanto às espécies florestais atingidas, o pinheiro-bravo regista a maior área ardida (mais de 75 mil hectares), seguido do eucalipto (com cerca de 50 mil hectares). O tipo de terras mais atingidas foram, contudo, os terrenos incultos ou matos (com perto de cem mil hectares).
Fonte: Diário de Notícias -
Portugal
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