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Florestgal quer financiar floresta de conservação com apoio de privados


A empresa pública Florestgal, criada em 2018, quer avançar este ano com os primeiros projetos de financiamento de floresta de conservação a partir do patrocínio de privados.


Aempresa, sediada em Figueiró dos Vinhos, um dos concelhos afetados pelo grande incêndio de junho de 2017, vai avançar já este ano com projetos de "forest sponsoring" (patrocínio de floresta), disse à agência Lusa o presidente da Florestgal, José Miguel Medeiros, antigo secretário de Estado da Proteção Civil e ex-deputado do PS.

 

Neste ano, a Florestgal perspetiva já financiar a criação e manutenção de florestas de conservação a partir de empresas que irão usar terrenos sob sua gestão para a instalação de parques fotovoltaicos.

"Uma empresa que tenha interesse em energia solar paga 'X' por utilizar 500 hectares, mas em paralelo será patrocinadora de outros 500 hectares. O que a reflorestação der é para a nossa empresa", exemplificou José Miguel Medeiros.

 

No entanto, a empresa pública pretende também avançar com o patrocínio de florestas de conservação como

medida para balançar a pegada ecológica das empresas.

 

"Hoje, assistimos a uma situação em que a pegada carbónica é exageradíssima e é preciso reduzi-la. Há um conjunto de empresas que vão continuar a emitir carbono, mas já não é possível fazer isso sem tomar algumas medidas para contrapor [as emissões]. Nós podemos ser a alternativa", vincou.

 

Segundo o responsável, a ideia passa por as empresas assegurarem o financiamento por períodos de 30 ou 40 anos de um povoamento de floresta de conservação e a sua manutenção, com o plano de gestão definido pela própria Florestgal.

 

"É uma forma que têm de ganhar reputação. Ficam bem na fotografia ambiental", notou José Miguel Medeiros.

Para além deste projeto, a empresa florestal tem em mãos outras iniciativas que ainda não estão finalizadas, nomeadamente em Penacova, numa parceria com a autarquia, e em baldios da Pampilhosa da Serra.

 

Para 2020, a Florestgal prevê ter receitas de cerca de quatro milhões de euros, sendo uma das principais fontes a venda de madeira.

 

Questionado pela agência Lusa sobre se um orçamento de quatro milhões de euros não limita a ação de uma empresa que se pretende que tenha uma ação em grande parte do território acima do Tejo, José Miguel Medeiros vincou que a empresa conta com um capital social de 24 milhões de euros ("herdado" da anterior empresa Lazer e Floresta) e que não tem qualquer dívida.

 

"Temos capacidade de endividamento e temos que ir ao mercado de capitais se for preciso", referiu.

No entanto, o responsável admite desafios nessa área.

 

"Estamos num setor em que apenas o mercado do eucalipto está minimamente desenvolvido. Se eu for ter com um proprietário, ele está habituado aos preços do arrendamento do eucalipto, que tem o primeiro corte ao fim de dez ou 12 anos, enquanto o pinheiro só dá rendimento ao fim de 30 anos. Eu não posso pagar o mesmo por hectare por ano pelo pinheiro. A mesma coisa com o sobreiro ou o carvalho", nota José Miguel Medeiros.

Questionado pela Lusa sobre como é que uma empresa que não tem qualquer transferência do Estado consegue competir com os preços praticados pelas celuloses, o responsável vinca que a Florestgal não é concorrente das celuloses ou de outras empresas do setor florestal.

 

Para José Miguel Medeiros, é "difícil o equilíbrio entre lei do mercado e o pensamento a longo prazo para a floresta", porém, considera que se não se tentar não se saberá se é possível fazê-lo.

 

José Miguel Medeiros salientou que a Florestgal "vai tentar responder ao mercado, como qualquer empresa que queira ser eficiente", se não, vinca, seria "um instituto público" e não uma empresa pública de direito privado.

 

A Florestgal foi criada a partir de uma empresa já existente, a Lazer e Floresta, 'herdando" os seus ativos, que neste momento são 12.831 hectares distribuídos por 86 propriedades em 26 concelhos de 13 distritos de Portugal Continental, para além de mais de mil hectares em arrendamento a longo prazo.

 

Fonte: Agência Lusa em 26/04/20

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