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Água comprometida no DF

RECURSOS HÍDRICOS - Água comprometida no DF

09h18 - As bacias hidrográficas do Distrito Federal estão em estado de alerta. A densidade populacional e a ocupação desordenada do solo comprometem rios e córregos e ameaçam o abastecimento de água. A análise é da organização não-governamental WWF-Brasil, que realizou uma pesquisa sobre a integridade ambiental dos recursos hídricos do DF. ‘‘É como se tivesse uma luz amarela piscando, sinal de que é preciso cuidado e de que a situação não é tão boa assim’’, explica o coordenador do programa de água da WWF, Samuel Barreto.

Segundo a pesquisa, o sinal amarelo está nas alterações ecológicas e terrestres das unidades hidrográficas. Nas bacias do Paranoá e do Descoberto, há problemas com o desmatamento e o lixo jogado nos mananciais, e é preciso melhorar a coleta e o tratamento de esgoto dos núcleos urbanos. Na Bacia do Rio Preto, a WWF aponta o uso desregulado da água, com a irrigação por pivôs centrais, associado ao desmatamento.

Um plano de monitoramento ambiental encomendado pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) à Universidade de Brasília (UnB) e apresentado ao governo em setembro do ano passado também expõe a situação de risco dos córregos e rios do Distrito Federal. Em todas as bacias há comprometimento de mananciais. Na do Maranhão, cujos rios apresentam melhores condições por estar em terras acidentadas, o que reduz o interesse para a ocupação humana, o Ribeirão da Contagem registra baixa qualidade das águas. Com a instalação de uma fábrica de cimento e outra de asfalto na região, as áreas que margeiam o ribeirão foram desmatadas e sedimentos das terras correm para a água.

Áreas protegidas
Na Bacia do Paranoá, os mananciais em melhor estado são os que ficam em áreas protegidas por lei. O Lago Paranoá encontra-se em condição de sensibilidade ambiental, com as quatro estações de tratamento de esgotos (ETEs Sul e Norte, do Torto e do Riacho Fundo) no limite.

A situação é pior na Bacia do Descoberto, responsável por 65% do abastecimento de água no DF: um de seus ribeirões, o Melchior, é considerado morto. Para cada parte de água, ele tem quatro de esgoto. Isso porque as cidades de Taguatinga e Ceilândia despejam seus efluentes direto no Melchior. De acordo com a Companhia de Saneamento do Distrito Federal (Caesb), o ribeirão será despoluído assim que a ETE Melchior entrar em operação, no segundo semestre deste ano. A obra está orçada em R$ 58 milhões.

Na Bacia do Corumbá, o Ribeirão Santa Maria exporta sujeira para o Novo Gama e Cidade Ocidental, em Goiás. A área está repleta de cascalheiras, que assoreiam o córrego, responsável pelo abastecimento das cidades. ‘‘Não podemos dizer que vai faltar água, mas em algum momento, se a coisa continuar assim, haverá falta de água de qualidade’’, alerta José Elói Campos, professor de Hidrogeologia da UnB.

Os peixes são os primeiros a desaparecer dos córregos comprometidos. A presença deles é sinal de saúde dos mananciais. As bacias com maior quantidade de espécies únicas — o que indica bom índice de integridade biótica — são as do Maranhão, São Bartolomeu e Preto. Nas do Descoberto e Corumbá há apenas 9% de espécies únicas encontradas.

As pesquisas deixam claro que, onde há ocupação humana, todo o ecossistema é prejudicado. No DF, a densidade populacional e os parcelamentos irregulares agravaram a situação. Segundo o IBGE, o DF tem 353 habitantes por km², contra 328 do Rio de Janeiro. ‘‘E a principal questão é que a explosão populacional ainda não acabou. Brasília já não é mais um paraíso, é só dar uma olhada para o seu entorno’’, diz o coordenador da WWF, Samuel Barreto.

Nas áreas preservadas — como o Parque Nacional, as reservas da UnB e os parques — os mananciais estão em bom estado. ‘‘A água não é infinita. Qualquer área de proteção ambiental hoje é muito mais para proteger os mananciais’’, diz o secretário adjunto da Secretaria de Parques, Álvaro Pinto.‘‘A água é demasiado importante para pensarmos que é algo individual. Todo mundo tem de cuidar’’, ensina o chacareiro Carlos Domingues, que adotou uma nascente no Núcleo Rural do Torto.

fonte - por Aline Fonseca para o Correio Braziliense em 22/05/2004

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