Agroecologia, Permacultura e sua Relação com Sistemas Agroflorestais para Uso direto no Combate a Fomes
Mauro Schorr – Instituto Anima – www.institutoanima.pop.com.br
Resumo: Temos uma realidade onde a agricultura nesta virada de milênio
recebe uma caracterização como sendo prioritária para
fonte de divisas para o país, onde os detalhes de suas funções
para suprir as demandas dos mercados internos, fixar os produtores no meio
rural e oferecer produtos de qualidade de maneira mais diversificada, parecem
que correm o risco de serem desprezados pelas políticas setoriais
e inclusive pela própria cultura majs priotavelmente urbana em nossa
sociedade. Este presente trabalho visa elucidar como poderemos integrar
sistemas sustentáveis de produção de alimentos introduzindo
consórcios agroecológicos e agroflorestais em áreas
estratégicas como escolas, hospitais, associações comunitárias,
agricultura familiar e empresarial, oportunizando uma maior produtividade
e oferta de diferentes produtos, melhorando a renda dos produtores ao longo
do ano. Há a necessidade em todo o pais da formação
de novas iniciativas e exemplos valiosos que integrem de forma mais holística
sistemas sustentáveis de produção e formação
de bancos genéticos que possam ser aproveitados na moderna educação
ambiental brasileira.
1.0. Introdução: Gerando Abundâncias e Vencendo a Fome
e a Exclusão Social: Rumo a Qualidade-total em Programas Socio-ambientais
Há um grande desafio na concepção de novos modelos
de desenvolvimento sustentável propostos na atualidade, onde com
algumas raras exceções a grande maioria das ações
ainda insiste em manter uma grande separatividade na relação
do homem e da sociedade com o meio ambiente, com seu ecossistema e a sustentabilidade
das atividades econômicas. O que se encontra de forma dominante é
a imposição de uma cultura materialista e financeirista, que
fragmenta e explora intensamente os processos vitais e naturais, chegando
em uma condição onde já não podemos unir partes,
conhecimentos e disciplinas que possuem uma proximidade óbvia, visível
e necessária para a fundamentação e viabilidade real
e notável do desenvolvimento sustentável e da interdisciplinaridade.
Como podemos educar em nossa extensão rural e educação
popular propostas de desenvolvimento visando somente mercados e receitas
econômicas, sem também incentivarmos uma mudança de
valores e a formação de uma nova cultura diversificada, harmônica
e sobretudo sustentável? Para isso outras disciplinas alem da agroecologia,
conservação de solos, sistemas agroflorestais, manejo integrado
de pragas e doenças são fundamentais, como a alimentação
e nutrição saudável, fitoterapia e medicina natural
e holística. Formam assim a base de um novo desenvolvimento sustentável
mais prático e eficiente, um novo paradigma sustentável ou
holístico, que pode representar um salto fundamental para aprimorar-se
os legados conquistados pelos paradigmas tradicionais e industriais que
estão considerados ultrapassados ou necessitando de profundas mudanças.
Possibilitar modelos educacionais mais cíclicos, amplos, onde as
partes que outrora estavam competindo entre si possam dialogar e se unir,
visando uma verdadeira nova epistemologia e educação ambiental
prática, que nos traga um ritmo-de-vida mais saudável é
a grande meta que nosso instituto, onde busca apresentar projetos estratégicos
em regiões de maior presença de lideranças ambientais,
articulando com suas principais ONGs de forma aberta, transparente e construtiva
Na realidade temos famílias e pessoas excluídas e de baixa
renda, muitos ainda dependentes químicos, com diversos problemas
sociais que a sociedade está a abandonar e necessitam obter acesso
a conhecimentos não somente ligados a agricultura, mas no campo da
alimentação e nutrição saudáveis, na
auto-suficiência na produção de alimentos, para fármacos
caseiros, uso adequado de ervas medicinais, que possam melhorar a saúde
dos trabalhadores sem causar e onerar grandes dependências a influência
de grupos macroindustriais ou valores muito artificiais.
Podemos desta forma levar uma cultura de sustentabilidade a inúmeras
regiões e lideranças de nosso pais, entendemos que uma das
formas de desenvolvimento seja a geração de riquezas promovendo
a preservação da biodiversidade, outra forma seja o impulsionamento
de uma cultura e economia ecológica, que não tenha tantos
custos e necessidades de recursos físicos e financeiros sendo utilizados
de forma tão intensa a exemplo do que acontece na Argentina e nas
feiras e redes de troca no Brasil;
Os resultados concretos desta linha de atuação se refletem
positivamente no sentido de que não apenas o ator mais ativo das
famílias atendidas através de nossos projetos é diretamente
beneficiado por nossas metas, que correspondem aos pais e os trabalhadores,
mas toda a sua família assimila as novidades, reaprendizados e resgates
dos conhecimentos tradicionais que costumamos apresentar e destacar. Assim
o papel da mulher também é valorizado e adquire uma grande
importância quando enfocamos a alimentação saudável,
que combate à fome, a miséria e a subnutrição,
ou as atividades artísticas, novas sementes, uso de instrumentos
da arte-educacão que são muito observadas pelas crianças.
Por isso que há uma atmosfera de alegria e de entusiasmo nas nossas
atividades práticas, na busca conjunta de soluções
para as comunidades.
Mas a questão técnica importante está na pesquisa
prática e experimental que estamos realizando ao longo de 20 anos
de estudo em nosso país. Quais espécies existem que podem
ser consorciadas com hortas orgânicas, lavouras de grãos, sistemas
diversificados de cultivo, e que tragam benefícios diretos na melhoria
da renda dos produtores, no impulsionamento da sua economia ecológica,
diminuindo o risco de pragas e doenças, ou da importação
de insumos em maior escala.
Temos já obtido uma valiosa experiência no manejo de solos,
canteiros, plantios, em escolas, postos de saúde, hospitais, prefeituras,
sítios, fazendas, condomínios e ecovilas. Queremos mostrar
as novidades de nosso sistema de plantio, que utilizam elementos técnicos
vindos da agroecologia, agricultura biodinâmica e permacultura, obviamente
que possuem também grande estudo e estima pelos sistemas agroflorestais
encontrados em nosso continente.
A agricultura nestas regiões pode ser ampliada em sua sustentabilidade
se adotar técnicas e métodos conservacionistas de manejo ecológico
de solos que possam minimizar o impacto das chuvas, insolação
direta do solo, perda de nitrogênio, matéria-orgânica,
reservas de biomassa e de produção biológica, entre
outras importantes necessidades de manutenção do mais importante
patrimônio que possui um produtor rural, a agregação
e a fertilidade natural dos seus solos. E se esta agricultura sulista desenvolver
SAFs com produtos de grande valor de mercado como frutas temperadas e madeira
de lei, pode equacionar muitos dos seus problemas climáticos, de
falta de obtenção de renda e fontes de energia mais renováveis
para suas inúmeras indústrias de porte médio a alto,
e grande e potencial malha de produção familiar.
Estas técnicas envolvem por exemplo, a continuidade dos projetos
de conservação de microbacias que iniciaram no Paraná
e estacionaram um pouco mais nestes últimos governos. Estes projetos
de microbacias analisavam quais as culturas e variedades agrícolas
poderiam ser mais integradas com a realidade dos solos, do meio-ambiente,
clima, épocas-de-plantio, manejo da agricultura e orientavam sobre
as variedades mais rústicas e menos dependentes de insumos químicos,
incentivavam o uso de consorciações com adubos verdes, montagem
de curvas-de-nível e terraços que ultrapassassem inclusive
as cercas das propriedades particulares, a curva era estudada via satélite,
acompanhada por especialistas em topografia, e era construída englobando
as lavouras do mini-ecossistema inteiro. O resultado é que se diminuíram
os níveis de erosão, o uso de agrotóxicos, herbicidas,
e estabilizaram as pragas e doenças.
O mais importante é que os produtores foram despertos e encontraram
uma cultura e um caminho de desenvolvimento mais sustentável. Hoje
são produtores mais responsáveis, conservacionistas e possuem
melhores técnicas, mercados, produções e necessitam
cada vez menos do auxílio dos governos.
Muitos destes produtores se tornaram orgânicos e biodinâmicos
e já cultivam e exportam Soja no Sudoeste do Paraná e encontram
até 40 ou 50 % a mais de preço final dos produtos no mercado
europeu. Assim as produções mais orgânicas de erva-mate,
açúcar, stevia, ervas, soja, farinha de milho, agro-industrialização
de frutas em compotas, doces, produtos apícolas como geléia
real, mel, pólen, podem ser exportados para estes mercados ecológicos
e em parte solucionam grandes problemas econômicos dos pequenos e
médios minifúndios produtivos de muitos locais de toda a região
Sul e Sudoeste do Brasil. Assim a expansão destas microbacias, das
técnicas de adubação orgânica e adubação
verde e o plantio-direto podem ser desenvolvidas acompanhadas de excelentes
SAFs como a combinação ordenada de plantios de espécies
como imbuia, peroba, araucária, bracatinga, mogno, aroeira, butiá,
guabiroba, jabuticaba, pêssego, frutíferas, consorciados com
o plantio de trigo, cevada, aveia, milho, sorgo, milheto, cana, pastagens
ou forrageiras como colonião, pensacola, galactria, chicharo, quicuio,
entre outras.
Estas entre outras ações pode trazer muita área verde
para os estados do Sul, e muita madeira que está fazendo falta para
suas indústrias de móveis, combustível, papel, construção,
fauna e melhor umificação e vitalização de seus
ecossistemas. Pois é importante o Sul do Brasil controlar melhor
seus efeitos de concentração de gases poluentes, calor, desmatamento,
plantio apenas de monocultivos sem uma consorciação com SAFs,
entre outra ações ecologistas mais importantes pois evidencia-se
uma presença cada vez maior das estiagens de verão, que causam
menos chuvas nas épocas de plantio em determinadas e muito desmatadas
regiões produtoras.
Cultivos anuais com aléias de Guandu, Leucena, Crotalárias,
que podem se tornar quebra-ventos e fontes de forragens e produção
de nitrogênio e lenha com o uso por exemplo da Bracatinga são
também importantes recomendações para os produtores
sulistas e do sudoeste. O importante é formar diferentes tipos de
SAFs nos diferentes locais e específicos ambientes de cada propriedade,
ambientes que podem ser classificados como horto agrícola, onde pode
ser introduzida a banana, o abacaxi, côco, café, ameixa, uva,
pêra, figo, dependendo do clima e da vocação agrícola
do ecossistema. A lavoura que pode ser acompanhada de cultivos mais comerciais
de frutas para exportação e mercado interno como maracujá,
uva, manga, limão, caqui, figo, azeitona, ameixa vermelha, tangerina,
entre outras espécies. As pastagens com sistemas silvi-pastoris que
podem ter a presença de araucária, peroba, erva-mate, imbuia,
mogno, arueira, e frutíferas como pêra, maçã,
pêssego, entre outras espécies. Os pomares que podem possuir
pastos com leguminosas e as áreas naturais, que devem ser mais preservadas
e guarnecidas suas nascentes, com formação de rppns, com o
plantio mais adensado de espécies florestais produtoras de madeira,
essências medicamentosas, mel, como a bracatinga, o eucalipto, ipê,
angico, citrus, entre inúmeras. Isto é importante para melhorar
a qualidade de vida da população do sul do Brasil que vive
hoje uma dimensionalidade social mais adensada em espaço e disponibilidade
de recursos naturais e por isso possui uma necessidade vital de diversificar
mais suas áreas verdes e obter uma produção de alimentos
de melhor qualidade.
Também no controle de ervas se exagera com o uso de herbicidas.
Que tal rotações corretas de cultivos com o uso de bancos-de-proteína
feitos de consórcios que podem possuir Guandu, Leucena, Caliandra,
Eritrina, Bracatinga, Milho, Girassol, Feijão-de-porco, Azevêm,
Ervilhaca, Serradela, Trigo-mourico, entre outras espécies mais mobilizadoras
do potencial de reestruturação dos solos. Pois as rotações
com estes bancos nitrificadores, uso de plantio-direto, introdução
de animais para pastejo rotativo podem ser opções muito importantes
para aprimorar em uma qualidade maior os processos produtivos industriais,
evitando que utilize inclusive herbicidas e agrotóxicos.
Outros Consórcios e SAFs importantes para a Região Sul e
Sudoeste do Brasil
- Araucária + Imbuia + Peroba + Louro-pardo + Culturas Anuais: ótimo
consórcio para o Norte do Paraná, região de Londrina.
A idéia é reflorestar as Áreas Verdes que estão
mal manejadas para proteger as suas nascentes e produzir madeira de lei
e grãos.
- Araucária + Aroeira + Erva-mate: consórcio muito utilizado
no PR, SC e até RS. É excelente para ser utilizado com pastagens.
- Bracatinga + Erva-mate + Culturas Anuais: muito utilizado perto da região
de Curitiba. A Bracatinga é uma espécie leguminosa das mais
importantes para os SAFs do Sul do Brasil.
- Cultivo em Faxinal + Pastagens: ocorre no PR, SC e RS, onde um conjunto
de até 80 espécies vegetais é consorciado com o pastoreio
de animais, em áreas de maior declividade e em solos mais ácidos,
e de forma comunitária.
- Araucária + Erva-mate + Pastagens: muito comum onde se colhe a
erva-mate, vende-se pinhão e ainda pode-se conduzir excelentes rebanhos.
Pode fornecer uma renda muito elevada com a venda da madeira e da erva-mate.
- Seringueira + Côco + Citrus + Cana com Guandu em aléias:
em climas mais tropicais podem-se introduzir árvores maiores como
a Seringueira, o Côco, a fim de aumentar a receita da comercialização
de seus produtos.
- Bracatinga + Erva-mate + Araucária + Trigo, Soja e Milho em rotação:
este consórcio é muito interessante por que a Bracatinga é
uma espécie que pode recuperar a fertilidade dos solos, descompactar
horizontes mais profundos e fornecer uma excelente lucratividade.
- Fícus + Marica + Bergamota + Pastagens: para a região leste
ou litorânea. Produz sombra para o gado.
- Acacia + Pastagens: são leguminosas que possuem a capacidade de
fixar Nitrogênio e produzir uma elevada quantidade de madeira. Pode
ser consorciadas ainda com Acacia mangium, A. auriculiformis, A. crassicarpa,
A holosericea, Erythrina poeppigiana, Zeyhera tuberculosa,Tabebuia rosea,
Joanesia princeps, Terminalia catapa, T. ivorensis, Albizia caribea, A.
falcata, Mimosa caresalpinifolia, Cordia alliodora e Pterygota brasiliensis
eppigiana, Zeyhera tuberculosa,Tabebuia rosea, Joanesia princeps, Terminalia
catapa, T. ivorensis, Albizia caribea, A. falcata, Mimosa caresalpinifolia,
Cordia alliodora e Pterygota brasiliensis
Objetivos Correlacionados:
I – Formar Novos Sistemas de Produção Sustentável
Agroflorestais e Modelos Permaculturais para a Horta, Lavoura, Pomar e Grãos:
existem sistemas de cultivo consorciados que recuperam a qualidade ambiental
das propriedades utilizando-se de árvores leguminosas e frutíferas
que podem melhorar a renda dos produtores, diversificando a sua economia,
e ainda protegem os solos da erosão, os rios da poluição
e a fauna da extinção. Frutíferas sendo plantadas em
uma escala maior poderão trazer uma expansão da economia e
a conquista de mercados durante o ano todo. Ervas medicinais podem trazer
novas frentes de renda e saúde. Com estas tecnologias pode-se produzir
mais de 30 ton de alimentos por ha
II - Banco Experimental de Sementes Nativas e Espécies Medicinais:
com este sistema surge um banco de sementes nativas com destaque para frutíferas,
leguminosas e adubos verdes, para serem intercambiadas entre os produtores,
e um banco vivo de espécies medicinais, para que sejam realizados
chás e medicamentos. Feiras de troca podem fortalecer uma nova economia
solidária e mais fraterna;
III – Iniciativas e Escolas Modelo em Agroecologia, Permacultura
e Sistemas Agroflorestais: Surge a condição adequada e valiosa
para a formação de uma escola modelo referencial que una a
produção de alimentos sustentável, que é um
enorme desafio para as comunidades rurais, com a realidade da assistência
e exclusão social que está assustadoramente necessitando de
novos impulsos e soluções, tanto na área educacional
quanto tecnológica
IV– Articulação com outras Organizações:
Podemos treinar e capacitar novos modelos de gestão operacional de
outras iniciativas técnicas e educacionais. Despertar a consciência
e uma maior cidadania das lideranças e seus colaboradores, fortalecendo
seus esforços. Aprimorar os sistemas de produção agro-industriais.
Propor a utilização de novas tecnologias sustentáveis
de baixo custo. Formar documentos, folders, cursos e seminários entre
organizações. Elaborar propostas políticas e técnicas
das suas principais reindivicações;
V - Valorização da Interdisciplinaridade de Atividades e
Ações: podemos incentivar a disseminação de
atividades em educação ambiental, a atuação
nos projetos de novos atores que correlacionem uma agricultura, alimentação
e medicina sadia, destacando a importância econômica e ambiental
dos sistemas agroflorestais e permaculturais.
Definição de Conceitos e Métodos de Aplicação:
Os conceitos de agroecologia, permacultura e sistemas agroflorestais necessitam
serem melhor descritos os neste trabalho:
A Agroecologia ou Agricultura Orgânica
A Agroecologia ou Agricultura Orgânica são sistemas que buscam
resgatar os conhecimentos tradicionais, aprimorando seu desempenhos ecológicos,
tecnológicos e científicos junto aos processos produtivos,
com um custo econômico, energético e ambiental inferior e mais
sustentável comparado aos modelos convencionais de produção
e ainda podem melhorar significativamente a renda e a qualidade de vida
alcançada na Agricultura Tradicional. (Schorr, 1995)
Este tipo de agricultura é considerada como uma terceira revolução
ou “onda”, pois valoriza os aspectos tradicionais com a adequada
integração da agricultura com o seu ecossistema envolvido.
Os fatores econômico-produtivos como a eficiência e a produtividade,
que obedecem as leis de mercado existentes, são considerados heranças
da própria Agricultura Industrial e são também valorizados
neste sistema de produção.
A Agroecologia segue em geral, os seguintes princípios:
- Enfoca a importância de se criar Agroecossistemas, onde a produção
não se isola do contexto ambiental envolvente. Utiliza para isto,
a visão de que cada propriedade é como um Organismo Vivo,
que se dispõe à possuir uma produtividade aceitável,
à preservar ao máximo as áreas nativas, respeitando
a fauna e a flora silvestre, à manter adequadamente os recursos hídricos
locais, e à respeitar e à melhorar a fertilidade dos solos,
dando um máximo incremento à biodiversidade, tanto para diminuir
o impacto de pragas, como doenças, e fatores erosivos.
- Em seu manejo de solos, oportuniza a adequada recuperação
da fertilidade através da adubação orgânica,
compostagem dos resíduos, pela proteção das camadas
superficiais, através do uso do mulching ou cobertura de palhada;
pelo cultivo mínimo, que introduz as semeaduras em áreas ainda
cobertas com culturas a serem colhidas; com o uso do plantio direto; e de
técnicas agrossilviculturais como o plantio em aléias (alley
cropping), Taungya, Sistemas Agroflorestais e a própria Permacultura.
- Na escolha de seus cultivares, busca incentivar um melhoramento genético
que propicie uma maior resistência às plantas em relação
ao clima, ao ataque de doenças e pragas, à acidez, e que tenham
menor dependência no uso dos adubos minerais e orgânicos e uma
maior produtividade.
- No seu sistema de cultivo, propõe modelos de consórcio,
que aproveitem a alelopatia (relações realizadas à
nível de rizoma que desenvolvem acréscimos na produção
através da influência de substâncias enzimáticas
produzidas pelas próprias plantas), um maior aproveitamento de diferentes
espécies por unidade de área; a rotação de cultivos
com a introdução de adubos verdes; e o isolamento de glebas
e construção de cercas-vivas através do uso de quebra-ventos.
- Em relação aos aspectos nutricionais, sabe-se que os teores
de vitaminas dos alimentos produzidos agroecologicamente chegam a possuir
quase 10 vezes mais teores de vitaminas e sais minerais. Tanto o sabor,
a durabilidade e o tempo de conservação, são comprovadamente
muito maiores, devido a terem doses menores de substâncias nitrogenadas
como nitritos e nitratos e uma nutrição e manejo de adubação
mais orgânica.
A Permacultura
A Permacultura é a ciência ecológica e ambiental que
desenvolve uma cultura sustentável que integra inicialmente a arquitetura,
a engenharia, a ecologia, agronomia, e a nutrição, de uma
maneira inter e transdisciplinar, que objetiva utilizar da melhor forma
os recursos naturais renováveis possibilitando a formação
de cidades e aldeias sociais estruturadas com padrões de sustentabilidade
agrícola mais permanentes e de menor gasto de energia e de trabalho
para a sua manutenção.
Desde o planejamento da casa com formação de telhados verdes,
captação de água de chuva, reciclagem do saneamento,
uso de fogão a lenha com serpentina, materiais mais orgânicos
para a bioconstrução, utilização inclusive econômica
das florestas e das matas, de materiais recicláveis e de sistemas
muito eficientes de reciclagem de resíduos, diversificação
produtiva, produtos de ponta e de alta qualidade como castanhas, óleos,
resinas, passas, remédios e produtos farmacêuticos industriais,
que possam remunerar melhor os produtores, e tragam uma maior auto-suficiência
à propriedade e da economia social e familiar, são os aspectos
observados nesta importante e muito avançada escola de desenvolvimento
e prática de um ritmo e concepção de vida mais sustentável
do III milênio.
Por isso ampliou-se mais em países mais jovens e mais sustentáveis
como a Austrália, Tasmânia e Estados Unidos - Califórnia.
A Permacultura busca rejuvenescer amplamente o ecossistema, reproduzir suas
cadeias alimentares e níveis tróficos mais naturais, manter
e investir em seus clímax florestais, introduzindo parâmetros
de maior cultivo e maior integração de espécies com
um maior valor e aproveitamento econômico, energético e alimentar,
e pode ser muito bem desenvolvida no Brasil.
É bom lembrar que o criador da Permacultura, Bill Mollison, há
mais de 30 anos começou a criar e a manter cidades que desenvolvem
modelos sustentáveis de vida na Austrália e em muitos países,
e recebeu pela destacada importância e seriedade de sua obra, o 1o.
prêmio Nobel Alternativo do Mundo.
A diferença da Permacultura para a Agroecologia e a Biodinâmica
está que a Permacultura
inclui necessariamente o uso sustentável e a convivência direta
com as florestas e os modelos sociais que este
relacionamento permite, a formação das ecovilas são
estratégicas, as
lavouras, hortas, participam do projeto permacultural em áreas
estratégicas.Já a agroecologia e a biodinâmica priorizam
normalmente a produção de
alimentos e modelos mais tradicionais, que envolvem a formação
de
sítios e fazendas ou modernas e sustentáveis empresas agrícolas.
As principais novidades que a Permacultura propõe são:
I - O Conceito de Permanência Ecológica ou seja, quando utilizarmos
um material da natureza, que seja de boa qualidade e procedência,
sendo aproveitado durante o maior número de tempo possível,
assim
permanecerá sendo útil por mais tempo semelhante às
arquiteturas
coloniais dos séculos passados. Assim evita-se consumir e poluir
ainda mais o planeta. É diferente a bionergia de uma construção
que
utiliza um bom tijolo, ou adobe ou mesmo palha do que uma casa feita
com cimento e concreto, são estas coisas que a Permacultura se
preocupa.
II - O Conceito de Comunidades e Vilas Sustentáveis Rurais e Urbanas
ou Ecovilas: cada vez mais pessoas se unem com propósitos de
proteção, evolução espiritual, economia ecológica
e formam
comunidades auto-sustentáveis. A Permacultura valoriza muito este
tipo de organização social.
III - O Conceito de Adaptação Ecológica: a Permacultura
propõe uma
cultura que valoriza as florestas, berço e mãe da evolução
da
sociedade humana, que saiba protegê-la, conviver com sua vida e
mistérios naturais, ainda aproveite seus recursos sustentáveis
e
renováveis, desta forma poderá alcançar um nível
de qualidade-de-vida
superior ao encontrado nas grandes cidades que em sua maioria estão
em processos acentuados de degradação.
IV - O Conceito de Aproveitamento Máximo dos Recursos Naturais:
básicos como a insolação, que pode aquecer paredes,
células de
energia solar, pomares, hortas; trazendo economia de energia; a
energia dos ventos com o uso de cata-ventos, cercas vivas, pomares,
pastos com árvores, divisores de cultivos arbóreos; aproveitamento
da
chuva com o uso de caixas de água receptoras; aproveitamento de
resíduos humanos e animais; dos resíduos do encanamento da
casa para
pomares; uso de telhados vivos vegetais; uso de materiais
alternativos para a construção das casas com adobe, solo cimento,
cascas de arroz, papel, cascas de árvores, bambu, folhas de palmeiras
e ferrocimento.
V - Aumento da Biodiversidade: o permaculturista propõe um modelo
mais holístico de aproveitamento de seu espaço, introduzindo
um maior
número possível de espécies vegetais que quando combinadas,
podem
adicionar receitas importantes no sistema. Obviamente que se evita a
introdução de espécies mais exóticas ou que
impactuem com a realidade
do sistema ambiental e natural existente.
VI - Apicultura e Animais Silvestres: muito valorizada na
Permacultura. A criação de animais silvestres está
em voga no Brasil,
sendo muito importante para a recuperação e proteção
do meio-
ambiente, alem de trazer respostas econômicas à realidade da
necessidade de um melhor aproveitamento das florestas e matas nas
propriedades rurais. O dia que o Brasil despertar para o imenso
retorno que a criação de animais silvestres poderá
gerar em múltiplos
sentidos, sobretudo nas reservas extrativistas da Amazônia legal,
teremos um novo boom econômico e muito interessante por agradar e
impulsionar as novas gerações em toda a América Latina.
Inclusive a Agroecologia e a Biodinâmica na Amazônia ainda
são
incipientes, os modelos de extrativismo tradicionais são dominantes,
baseados, sobretudo na colheita da borracha e no corte de madeira. O
uso do próprio adubo orgânico dos animais não está
sendo aproveitado
corretamente, e com as chuvas torrenciais, a fertilidade dos solos é
perdida crescentemente ano-a-ano. Estive lá trabalhando e percebi
uma
forte resistência, e um poderoso potencial de estruturação
da
Permacultura em toda a floresta. Talvez os índios e os seringueiros
já façam uma rudimentar permacultura, onde até as suas
casas e
telhados que estão feitos de madeira, representem aspectos ou partes
dos princípios gerais desta importante escola do III milênio.
VII - Ruas e Cercas Vivas Arborizadas com pomares nas cidades e
campos: para combater-se a fome e a subnutrição a permacultura
advoga
o plantio intenso de árvores, que regeneram a paisagem erodida,
combatem perda de umidade, o vento excessivo, trazem repovoamento da
fauna e recuperam o lençol freático. Em uma estrada de 2 kms
de terra
ou asfalto de acesso podemos cultivar mais de 5.000 frutíferas como
mangueiras, abacateiros, pereiras, araucárias, mamão, maracujá
na
cerca de arame
Sistemas Agroflorestais:
Sistemas Agroflorestais são sistemas de uso da Terra que buscam
aproveitar ao máximo as condições ambientais e ecológicas
presentes em um ambiente produtivo agrícola e que para isso consorciam
ou combinam espécies compatíveis e de interesse agronômico
e ecológico em diferentes estratos e composições vegetais.
Os objetivos de produção e de utilização culturais,
níveis de utilização radicelar dos solos ou da profundidade
de penetração de suas raízes, proteção
e regulação da etologia ou do comportamento das pragas e agentes
biológicos, entre outros são demais funções
e cuidados que estes sistemas de produção agrícolas
utilizam para serem com ampla eficiência implementados.( Schorr, 1992).
Outras definições: “ Sistemas Agroflorestais são
aqueles sistemas que aumentam o rendimento e o melhor aproveitamento de
uma área agrícola, combinam a produção de culturas
agrícolas, espécies florestais e animais simultaneamente ou
em seqüência, na mesma unidade de área, e ainda empregam
práticas de manejo compatível com as práticas da população
local.” (Kopijni, 1987.).
“Sistemas Agroflorestais - SAFs, são formas de uso e manejo
da terra, nas quais árvores e arbustos são utilizados em associação
com cultivos agrícolas e/ou animais, numa mesma área, de maneira
simultânea ou numa seqüência temporal.” (Dubois,
1991)
Os Sistemas Agrossilvipastoris são aqueles sistemas onde existe
a inter-relação entre os componentes da Produção
Agrícola, Florestal e Animal (Baggio, 1995).
Sistemas Agroflorestais é um manejo sustentável da Terra
que permite incrementar a produção total combinando agricultura,
produção de árvores florestais e frutíferas
e ou animais simultaneamente ou seqüencialmente, e que seja compatível
com o padrão cultural da região (Bene et al, 1977)
Metodologias Gerais e Exemplos Práticos:
- Cultivos respeitam a formação de curvas de nível,
com o uso de mulching orgânico ao redor das frutíferas: normalmente
cultivam-se espécies arbóreas de interesse plantadas a cada
10 ms em média, combinando-se espécies compatíveis,
que não competem, atraem pragas e doenças, ou tenham ciclos
produtivos que sobrecarreguem os serviços de manejo.
- As curvas de nível são formadas do piso inferior para o
superior ou por estruturação mecânica e tratorizada/manual
ou por acúmulo de palhada advinda dos roçados selecionados,
prática que evita a queimada e o desperdício da matéria
orgânica. A forma piso inferior para superior significa que há
a possibilidade de formar-se os patamares de contenção da
erosão, e não a facilitação para o surgimento
de enxurradas através dos canais de escoamento que permanecem no
topo das curvas de nível convencionais. Em sua porção
superior estamos recomendando o plantio da batata-doce, e na sua porção
inferior o cultivo da mandioca, que ajudam a reter o solo, dependendo do
clima.e região.
- Então temos a não incorporação da matéria
orgânica, mas sua disposição em pilhas formando compostos
orgânicos, ao lado destes introduze-se os consórcios agroflorestais.
Exs: Acerola, café, mamão, figo, citrus, ameixa, nectarina,
pêssego, banana, abiu, graviola, entre outros, com batata-doce e mandioca,
algumas ervas medicinais como mangerona, alfavaca, alecrim, salvia, espinheira
santa, e lavouras orgânicas com milho, quiabo, girassol, abóbora,
melancia, melão, entre outras.
- Manejo integrado de pragas e doenças: com a introdução
de adubação baseada em composto e vermicomposto, esterco animal,
termofosfato, fosfato natural, MB 4, Biogel, sulfomagro, entre outros insumos
importantes para a saúde fisiológica das plantas;
- Uso de preparações biodinâmicas; calda sulfocálcicas;
- Adubação orgânica e calcário, e adubação
verde e diversificação alelopática nas pastagens, com
o consórcio apropriado e diversificado de gramíneas e leguminosas;
- Sistemas de Alley Cropping ou cultivos em aléias com o guandu,
grevílea, bracatinga, timbó e leucena. Selecionamos linhas
centrais das glebas de cultivo que permanecem entre as curva de nível,
e semeamos as espécies de interesse para as aléias, usadas
para adubação verde, melhoria das condições
dos solos, alimentação animal, apicultura, e alimentação
humana e colheita de sementes.
- Cultivos em Espaldeira: semeamos espécies normalmente em hortos
escolares, formando os canteiros de 1.2 x 5 a 10 ms, onde nas suas pontas
laterais colocamos sementes de milho, guandu, ervilha, feijão vagem,
favas, pepino, espinafre, que possuem com hábito de crescimento subir
em arames e outros alicerces, assim podemos aproveitar melhor uma área
com cultivos em canteiros e sobre os canteiros. O uso do milho auxilia na
proteção a chuva e ao ressecamento excessivo.
- Plantio de novas espécies silvícolas como eucaliptos e
pinus de rápido crescimento com faixas de consórcio de espécies
leguminosas, como leucena, bracatinga, aroeira, angico, acácias.
- Manejo Voisin com cercas elétricas ou de arames sendo substituídas
por espécies agroflorestais para o gado;
- Sistemas de estabulaçâo de animais noturna, com o uso de
homeopatia animal para prevenção e controle de doenças;
- Grande impulso a apicultura regional, com formação de agroindústria
apícola associativa ou cooperativa;
- Introduzir a concepção da necessidade da formação
e uma unidade de produção comercial e agro-industrial de polpas
de frutas, sucos, geléias, doces para a comercialização
para os mercados regionais, da capital, de outros estados e inclusive internacionais,
aproveitando sua capacidade para a extração e embalamento
de mel e derivados e inclusive principio ativos de ervas medicinais.
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Informações do Autor: Mauro Schorr. www.instituto anima.pop.com.br