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Estado e empresas unidos no combate à pobreza no Pará

 

A certeza de que a pobreza é um obstáculo para a geração de lucros mudou o caminho de muitas empresas. Hoje, tão importante quanto os investimentos no desenvolvimento de produtos competitivos é a busca de formas de produção e administração sócio e ecologicamente corretas. Na área da gestão social, vêm ganhando espaço as parcerias entre empresas que detêm recursos para investir e os governos que conhecem as necessidades de suas regiões.

Um dos modelos desse tipo de parceria é o da empresa Muaná Alimentos com o governo do Pará. Tradicional produtora de palmito, a Muaná mudou há dois anos o foco de seus negócios. Aumentou os investimentos na polpa de açaí e desenvolveu, em parceria com a Secretaria Executiva de Trabalho e Promoção Social (Seteps), um dos mais importantes projetos para geração de renda a seus fornecedores, em sua maioria ribeirinhos do arquipélago do Marajó, onde a empresa atua. O projeto começou em 1999 e inclui da regularização das terras ocupadas pelos ribeirinhos à capacitação de trabalhadores e programas na área de saúde. O trabalho é desenvolvido nos municípios de Muaná, Curralinho, Ponta de Pedras, São Sebastião da Boa Vista, Cachoeira do Arari e Oeiras do Pará. Ao todo, são 400 famílias atendidas. Todas são fornecedoras de matéria-prima para a Muaná e tiveram, graças às ações do estado e da empresa, aumento de renda em torno de 65%.

O primeiro passo do programa consistiu na organização dos trabalhadores, na concessão de crédito, por meio do Banco do Estado do Pará, e no treinamento para gestão de negócios. O resultado é que, em algumas comunidades, a coleta do açaí deixou de ser a única fonte de renda das famílias. Em algumas áreas, por exemplo, as famílias passaram a trabalhar com avicultura. A comercialização da produção é feita entre os próprios moradores e também para abastecer o restaurante da Muaná. ´Antes, a empresa trazia frango de outras cidades. Comprava a R$ 2,20 mais o frete e hoje compra no mesmo município a R$ 1,8´, diz a titular da Seteps, Suleima Pegado. Outras ações do programa são a assistência para jovens entre 14 e 17 anos, o combate ao trabalho infantil, o controle de endemias como malária e a construção de fossas sépticas.

Longe de ser um mero ato de caridade, as ações da empresa no Marajó são uma estratégia empresarial. A Muaná tem como sócio o fundo Terra Capital, administrado pela A2R que detém capital de risco para projetos sustentáveis na Amazônia. As ações sociais fazem parte das condições da empresa para receber os recursos do fundo. Outro motivo importante é a pressão dos consumidores. A Muaná é uma empresa com vocação para as exportações e tem como meta a certificação de todos os fornecedores de matéria-prima. Daí, a importância de que os ribeirinhos tenham outra fonte de renda. Dessa forma, eles conseguem respeitar o período de entressafra do açaí. A capacitação dá ainda condições de fazer o manejo dos açaizais. Além disso, o projeto social valoriza o nome da empresa e atrai a admiração dos vizinhos.

Com as ações, ribeirinhos que não tinham sequer certidão de nascimento estão conseguindo até empréstimos bancários para investir no manejo das terras. Um das medidas do programa foi a regularização da posse das terras. Como no Marajó, boa parte das áreas pertence à União, o trabalho foi feito entre o Instituto de Terras do Pará e o Departamento de Patrimônio da União. Os empréstimos são feitos pelo bancos oficiais e usam o sistema de aval solidário. Isso significa que um produtor vai servindo de avalista do outro e quando um atrasa o pagamento todos ficam prejudicados. Dessa forma, o índice de inadimplência fica sempre próximo de zero.

fonte: Gazeta Mercantil - PA 14/11/2001

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