Aos povos do Cerrado e aos seus aliados
Não há preservação do Cerrado
sem os Povos do Cerrado
Nós , lavradores e lavradoras e representantes dos Povos do Cerrado , militantes e agentes de pastoral , reunidos em Balsas , Maranhão, nos dias de sete a onze de julho de 2004, para celebrar o Seminário Bioma Cerrado , queremos lançar um grito e um apelo para uma mobilização nacional em defesa da vida e dos povos do Cerrado .
Nos debates, nos testemunhos e nas palestras, ouviu-se o Grito do Cerrado, das águas, dos solos, das chapadas, das veredas, dos animais e plantas ameaçadas e principalmente dos camponeses e das camponesas forçados a abandonar as suas terras.
Descobrimos, mais uma vez, os mecanismos do sistema planetário de morte, que está destruindo o segundo bioma do nosso País, invadindo-o com as máquinas de alta tecnologia do agro-negócio da soja, da cana, do eucalipto, do bambu, do café, do algodão: as monoculturas que desmatam e matam a terra, a água, o ar e as famílias camponesas.
Este modelo devastador, voltado somente para as exportações, conta lamentavelmente com o apoio do nosso Governo, da mídia e de uma difusa insensibilidade da opinião pública. Seu enfrentamento exige uma articulação regional e nacional de lutas, de propostas e de alternativas.
O modelo que está sendo imposto pela aliança do mercado mundial com as elites econômicas e políticas nacionais, nos desafia para aprofundamentos, debates e mobilizações sobre:
- A devastação acelerada dos ecossistemas do nosso País, nomeadamente do Cerrado, que comporta a destruição dos Povos e das economias camponesas e agroextrativistas, que com eles, há séculos, convivem;
- A destruição do patrimônio de biodiversidade do Bioma Cerrado;
- A destruição da maioria das bacias hidrográficas do País;
- A privatização do nosso patrimônio hídrico, processo em que se considera a água como recurso econômico, como mercadoria, e a nega como alimento fundamental dos seres vivos e como direito cósmico e humano;
- O desafio de soberania alimentar do povo brasileiro, ameaçado por um modelo econômico, que providencia alimentos para as vacas e os porcos do primeiro mundo e deixa mais de cinqüenta milhões de brasileiros passar fome;
- A luta contra a transgenia aplicada à agricultura;
- A luta por matrizes energéticas alternativas frente a iminente crise do petróleo e da civilização que ele sustenta;
- A concepção da luta pela terra, que inclua o protagonismo dos povos e das economias camponesas: os povos indígenas, os quilombolas, os povos do Cerrado, os ribeirinhos, os seringueiros, os castanheiros, as quebradeiras de coco babaçu... em luta para defender e reconstruir as relações com os seus territórios;
- Uma concepção e uma luta pela terra, que encoraje uma redefinição dos papeis entre gêneros e gerações;
- A articulação das experiências agro-ecológicas, especificamente de manejo do Cerrado, presente nas práticas dos camponeses e dos agroextrativistas de todo o País;
- A troca de saberes entre o saber popular e o saber científico, ambos a serviço da vida e da preservação da natureza;
- A luta contra o latifúndio e a campanha pelos limites máximos das propriedades fundiárias;
- A construção de uma espiritualidade e de uma visão da vida a partir da fraternidade universal de todos os seres vivos e da responsabilidade dos seres humanos de cuidar da vida, em tempos de alternativa radical entre destruição da terra e serviço à vida.
Em Balsas, encontraram-se lavradores e lavradoras do Maranhão, do Piauí, do Tocantins, da Bahia e do Pará. O nosso sonho é um evento nacional que possa juntar os povos do Cerrado, distribuídos em oito Estados da Federação, atingidos pelo agro-negócio. Estamos preparando este evento para o ano de 2006.
Confiamos na resistência e na luta dos Povos do Cerrado.
Acreditamos na força da Ressurreição de Jesus, que não deixa e não deixará que a última palavra do mundo seja a do sofrimento e da morte, mas sim a da Transformação e da Vida para Todos.
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