Postado em: Wed, 3 Nov
1999 12:01:51 -0100
Por: "João G. F. Batista" [email protected] Bom dia colegas aí no Brasil: Alguém está interessado em discutir a sustentabilidade de sistemas agrícolas insulares em sentido lato, ou mais restrito (por exemplo, em termos energéticos)? Saudações João Guilherme Batista Engº Agrónomo Professor Associado da Universidade dos Açores Portugal |
Postado em:Wed, 3 Nov 1999 14:58:08
-0200 (EDT)
Por:Jorge A. Wiendl" [email protected] Para mim interessa principalmente a parte de balanço energético, mas e' um sistema interessante de ser estudado, uma vez que sua troca de matéria com outros sistemas e' praticamente nula. Mas pelo jeito o Sr. já' possui alguma experiência na area, uma vez que pertence a Universidade de Açores, seria interessante contar algumas experiencias dai! Jorge A. Wiendl |
Postado em: Wed, 3 Nov 1999 22:53:04
-0100
Por:"João G. F. Batista" <[email protected]> Um dos problemas característicos da agricultura insular, como a dos Açores, é a forte dependência dos combustíveis fósseis, o que obriga a olhar para os recursos naturais, que são escassos e cuja exploração pode por em causa a biodiversidade. Uma das nossas linhas de ação, por exemplo, tem sido a da exploração de biomassa fotossinteticamente eficiente, transformando-a em outras formas de energia. A utilização de cogumelos xilófagos como forma de produzir proteína e por outro lado, encurtar os períodos de decomposição de materiais lenho celulósicos, tem sido objeto da nossa atividade durante os últimos anos. João G. F. Batista |
Postado em: Thu, 4 Nov 1999 11:07:47 -0200 (EDT) |
Por:: "Jorge A. Wiendl" [email protected] |
Vocês trabalham com a transformação da biomassa em gás, via biodigestores, ou o que? Existem culturas como a cana-de-açúcar que poderiam propiciar a produção de álcool para combustível, e mesmo para a geração de energia? Projetos de centrais eletro-solares, sao viáveis na area? Ou mesmo que seja eólica, ou ate' mare-motriz? Desculpe mas não conheço nada da area dos Açores, então estou curioso para saber as alternativas que os Srs estão encontrando. |
Atenciosamente Jorge A. Wiendl |
Postado em: Thu, 4 Nov 1999 16:30:40 -0100
Por: "João G. F. Batista" [email protected]
No domínio da horticultura, como lhe referi, estamos a transformar a biomassa de plantas fotossinteticamente eficientes e invasoras (caso de Pittosporum undulatum) em proteína (através de cogumelos Pleurotus), balastro para alimentação de ruminantes e no final da cadeia, substrato para a produção de horticolas. No domínio de produção de energia, nos Açores existe produção de electricidade por geotermia, energia eólica e está em construção uma central de energia de marés.
João G. F. Batista
Postado em:Thu, 04 Nov 1999 20:04:13 -0200
Por :Evandro N Silva [email protected]
Caros amigos,
A dependência dos combustíveis fósseis em sistemas agrícolas é muito impulsionada pelo controle químico de pragas e ervas daninhas. Por isso gostaria de compartilhar algumas informações. Cuba: Um exemplo de redução de uso de insumos químicos em agricultura insular
Como muitos devem saber, até antes dos anos 90 Cuba importava quase todo seu petróleo, fertilizantes e pesticidas dos países do bloco "socialista" e ainda recebia incentivos da ex-URSS. Com a derrocada dos regimes "socialistas" do Leste Europeu, Cuba experimentou uma escassez terrível de combustível e insumos para a agricultura. Então o governo resolveu redirecionar os esforços de todas a suas faculdades de agronomia e institutos de pesquisa agropecuária para pesquisarem sistemas alternativos menos dependentes de insumos.
Como resultado, uma das áreas que mais avançou nesse sentido foi a de "proteção de plantas". Foram pesquisados inimigos naturais com potencial para controlar pragas e se passou a produzi-los artesanalmente, de forma descentralizada no país e com a participação de agricultores, estudantes, clubes de mães, etc. Hoje existem em Cuba mais 200 fabriquetas caseiras (os Centros de Produção de Entomófagos e Entomopatégenos) que produzem Bacillus thuringiensis, fungos entomopatogênicos (Beauveria, Metarizum, Poecilomices e Verticilium), baculovirus e umas 15 espécies de predadores e parasitóides, com um custo BARATÏSSIMO. O melhor disso tudo é que os acadêmicos que pesquisam o Controle Biológico dizem que só é tecnicamente viável produzir esses organismos em laboratórios com equipamentos modernos, laboratórios sofisticados, etc. e Cuba está provando o contrário.
Existem também as técnicas de controle cultural que passaram a ser adotadas em massa pelos agricultores (que participam e decidem que tecnologias querem usar) tais como a rotação de culturas, coberturas vivas, mulch, barreiras vivas para evitar o trânsito de insetos entre os cultivos. Existe também a produção de composto orgânico. A biotecnologia também avançou muito por lá. Eles conseguiram produzir uma exotoxina do Bacillus thuringiensis (Bt) específica para alguns insetos (os produtos que existem hoje a base de Bt têm uma endotoxina).
Questões sobre sustentabilidade:
Questão 1: Sendo uma ilha sob embargo econômico e com demanda imediata de alimentos, como garantir a seguridade alimentar da população? Sabemos que seguridade alimentar é um dos pré-requisito para a sustentabilidade socioeconômica de uma sociedade.
O povo cubano passou muita fome entre 1992 e 1994. Uma das respostas para a crise foi estimular a agricultura urbana. Lotes abandonados e terrenos de escolas, igrejas e prédios públicos foram transformados em hortas comunitárias, incluindo em alguns casos produção animal (frango e coelho) resultando em esterco para as hortas, em um sistema integrado. A agricultura urbana já foi usada em outra ilha em situação de crise. Foi na Inglaterra, na II Guerra Mundial, quando a Alemanha tinha invadido toda a Europa e bombardeava a Inglaterra, além de atrapalhar a chegada de carregamentos de navios com comida. Se os cidadão de Londres não tivessem plantado batatinha em lotes urbanos, muita gente teria morrido de fome.
Questão 2:
Podem os componentes políticos de médio e longo prazo interferir na sustentabilidade de um sistema insular?
No caso de Cuba a grande pergunta é: se Fidel Castro e seu regime caírem, o que acontece com todo esse processo se o capital estrangeiro invadir Cuba e a oferta de insumos se regularizar?
Há pessoas que temem que esses passos dados por Cuba não sejam fruto de um processo de transformação de modelo de agricultura e que seja muito mais por falta da opção do modelo agroquímicos. Ou seja, este processo poderia não se sustentar a longo prazo se Cuba volta a ser capitalista, o mercado se abrir e os agricultores voltarem a ter acesso a insumos químicos outra vez, podendo abandonar os sistemas alternativos. Também há o risco de que as terras sejam apropriadas em modelos de latifúndios e se estabeleçam monoculturas tecnificadas de alto uso de insumos. Tudo parece meio incerto para o futuro, mas momentaneamente a agricultura de Cuba experimenta um caminho que poderia levar a um mínimo de sustentabilidade.
A mensagem está muito longa e além do mais não quero que pareça apologia do regime de Fidel. Eu apenas quis trocar informação. Tenho alguns artigos sobre isso em espanhol e português e posso disponibilizar aos interessados.
Um abraço,
Evandro
P.S. Em caso de resposta, enviar uma cópia para: [email protected]
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