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Luta contra aquecimento global passa pela taxação de carbono, escreve Milton Rego

 

Definitivamente, Greta Thunberg incomoda o establishment.

 

No Fórum Econômico Mundial, em Davos, foi a vez de Steven Mnuchin, secretário do Tesouro dos Estados Unidos, se irritar com “pirralha” sueca. Ele mandou a jovem ativista ir à faculdade “estudar economia” primeiro, para então “explicar isso para nós”: o ultimato da garota para que os governos presentes em Davos abandonassem de imediato o uso de combustíveis fósseis.

 

Descontado o talento para fazer barulho e chamar a atenção da mídia, Greta reagia às consequências de um fenômeno que assombra o planeta: o aquecimento global. Áreas de cultivo dizimadas por hordas de gafanhotos na África Central; enchentes diluvianas no sudeste do Brasil; derretimento de geleiras na Groenlândia; incêndios na Austrália… Não dá mais para os adultos bancarem o avestruz e deixarem a resposta –e a conta– para Greta e gerações vindouras. O futuro precisa ser garantido agora.

 

A luta contra o aquecimento global passa pela taxação de carbono. O debate sobre a necessidade de precificar os impactos das emissões tem uns 20 anos, mas ganhou urgência urgentíssima.

 

Em economia, classificamos como “bem livre” aquele insumo usado sem restrição, uma vez que seu valor comercial não é percebido. Pois, bem, o ar que respiramos era, até pouco tempo, um bem livre. Não é mais, pelo menos na opinião da comunidade científica e na visão de lideranças esclarecidas, em razão do excesso de CO2 na atmosfera. O dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa (GEE) aumentam a absorção da radiação infravermelha e, consequentemente, a temperatura do Terra.

 

Um das maneiras de sensibilizar a sociedade sobre a importância de conservar o ar limpo é atribuir valor a essa pureza. Em outras palavras, é preciso cobrar pela poluição.

 

A taxação de carbono pode ser feita de duas formas: por meio de instrumentos não-econômicos, limitando aquilo que se pode poluir; ou, simplesmente, cobrando uma taxa pelas emissões poluidoras. Ambas as alternativas significam custos adicionais para os agentes econômicos, mas oferecem muitas oportunidades para governos e empresas que optam por uma política verde. A maioria dos países desenvolvidos já caminha nessa direção. Para a indústria, a relação entre precificação de carbono e competitividade ganhará importância cada vez maior.

A taxação de carbono, como de resto as grandes questões planetárias (coronavirus, por exemplo), suscita também importantes discussões sobre governança global. Um mundo com livre mobilidade de capital e de produtos necessita de um dispositivo que permita a tributação global sobre o carbono. Do contrário, haveria uma busca pelas empresas de regiões onde é mais barato poluir. Isso é especialmente válido para aqueles produtos cuja fábrica ou a distribuição podem ser facilmente deslocadas. Um exemplo: o morador de uma cidade de fronteira, cujo país resolvesse tributar a poluição dos combustíveis, poderia atravessar para o outro lado e encher o tanque do carro no país vizinho, onde essa taxação não existe.

 

O mesmo raciocínio se aplica aos produtos industriais. Países de menor governança ganhariam mercado de regiões em que o controle e a busca por práticas sustentáveis pressionam os custos. Teríamos, assim, um fenômeno complexo: desvio de comércio com “vazamento” de carbono.

 

A emissão de carbono envolve emissões diretas (aquelas da atividade industrial) e indiretas (oriundas do uso da energia). O gráfico a seguir mostra um mapa-múndi em que o território dos países é maior ou menor em função das suas emissões: quanto maior a área, maior volume de poluição despejada na atmosfera. Como se pode notar, as emissões estão concentradas no mundo industrializado e na China.

 

O Brasil pode se beneficiar de um mundo mais verde. Possuímos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. E, para melhorar a competitividade brasileira, precisamos adquirir protagonismo no debate global sobre a economia verde e implantar medidas domésticas que incentivem práticas industriais sustentáveis. Esse é um dos pontos centrais da avaliação estratégica que a Associação Brasileira do Alumínio (Abal) faz em seu roadmap.

Como dizia o canadense Maurice Frederick Strong, subsecretário da ONU, falecido em 2015: “Afinal, sustentabilidade significa gerenciar o ambiente global, a nossa Terra, como uma corporação: com contas de depreciação, amortização e manutenção. Em outras palavras, manter o bem inteiro, em vez de minar seu capital natural”.

Greta aplaudiria.

 

Fonte:Poder 360 Graus por Milton Rego em 19.fev.2020

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