Traduzida como pegada de carbono (carbon footprint), ela mede o impacto de indivíduos, empresas e até países no efeito estufa. Entenda como funciona
Quando falamos de mudanças climáticas, um dos pontos de maior atenção está na emissão dos gases de efeito estufa (GEE). Embora seja um fenômeno que acontece naturalmente na atmosfera, ajudando a manter a temperatura do planeta, a atividade humana vem gerando intensos desequilíbrios nessa equação. A consequência mais grave é o famigerado aquecimento global, que pode alterar o nível dos oceanos e coloca em risco a vida na Terra.
Uma das ferramentas utilizadas para calcular nosso impacto no planeta é a chamada pegada de carbono (ou carbon footprint, em inglês). Ela define a quantidade total de GEE ligada a uma pessoa, organização, indústria, cidade ou mesmo um país. Esses gases, responsáveis pelo aquecimento global, são, principalmente, o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O) e, o mais abundante deles, o gás carbônico (CO2).
E é justamente ele, o CO2, que serve de medida no cálculo. Funciona assim: todas as moléculas que contribuem para o efeito estufa são convertidas em uma unidade chamada de CO2 equivalente (CO2e). Por exemplo, o potencial de aquecimento global do gás metano é 21 vezes maior do que o potencial do CO2. Assim, dizemos que o CO2 equivalente do metano é igual a 21.
Um estudo publicado em 2018 mediu as pegadas de carbono de 13 000 cidades em 189 países. São Paulo aparece em 63º lugar entre as 100 mais poluidoras do mundo – a capital paulista é responsável por 6% do total de emissões do Brasil.
Na tentativa de minimizar o efeito de suas atividades sobre o meio ambiente, empresas, organizações e indivíduos costumam recorrer a técnicas chamadas de sequestro de carbono. A mais comum delas é o plantio de florestas. A eficácia do método se deve ao fato de as árvores consumirem muito CO2 na sua fase de crescimento, “roubando” esse composto do ar.
Mas e você, no seu dia a dia, o que tem a ver com isso? Qual o seu impacto (ou footprint) no planeta? Já adiantamos que é bem maior do que você imagina. “Com exceção do ato de respirar, todas as outras as atividades que realizamos têm algum nível de emissão de GEE embutido. É o que chamamos de emissões indiretas”, explica a economista Carolina Grottera, doutora em planejamento ambiental e energético. A boa notícia é que diminuir nossas pegadas é mais fácil do que parece.
Ir e vir
Uma das maneiras mais eficientes é analisando como e com que frequência você se desloca. Um artigo escrito por pesquisadores da Universidade de Lund (na Suécia) e da Universidade de British Columbia (no Canadá) afirma que um único indivíduo que deixe de usar seu carro (a gasolina) por um ano poupa até 2,4 toneladas de CO2e. Embora o estudo não deixe claro se o valor se refere apenas à queima do combustível ou a todo o processo de fabricação do veículo, a mensagem é clara: sempre que possível, dê preferência a outros meios de transporte.
Se essa não é uma opção para você, saiba que manter os pneus calibrados corretamente e diminuir o uso do ar-condicionado durante as viagens já ajuda a poupar combustível e, consequentemente, emitir menos CO2. E, para quem já está de olho nas próximas férias, é bom saber que o transporte aéreo é outro grande vilão do efeito estufa. Um voo de São Paulo a Nova York, por exemplo, pode emitir o equivalente a 1,3 tonelada de gás carbônico por passageiro, dependendo do tamanho do avião.
Sobre a mesa
Aquilo que colocamos no prato diariamente também tem um impacto enorme no bem-estar do planeta. Por isso a redução no consumo de carne, especialmente a vermelha, vem ganhando cada vez mais adeptos – seja por questões éticas (o que inclui, por exemplo, utilizar produtos que não têm origem animal e/ou não são testados em animais), seja por preocupações ambientais. De fato, a produção do bife nosso de cada dia é uma das grandes fontes de emissão de gases de efeito estufa. Além da área desmatada para dar lugar ao pasto, entram nessa conta a quantidade de água utilizada na atividade e até o gás metano liberado durante o processo de digestão de vacas e bois.
Segundo relatório do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), realizado pelo Observatório do Clima (OC), a agropecuária foi responsável por 22% das emissões brutas de CO2 em 2016 no Brasil. A criação de gado para corte responde por 69% desse total.
Quando devoramos um suculento hambúrguer, somam-se à nossa footprint o transporte do produto, sua refrigeração, a energia elétrica gasta pelo estabelecimento onde ele é comprado ou consumido, entre outros fatores. Mesmo para quem não consegue cortar totalmente, diminuir a ingestão de produtos de origem animal (e aí entram também laticínios e outros tipos de carne) é um bom começo.
Você já deve ter ouvido falar da importância de comprar de fornecedores locais. Pois, além da questão da valorização dos pequenos produtores, essa atitude também reduz a queima de combustível – que, já sabemos, é uma das grande responsáveis pelos gases de efeito estufa. Afinal, um pé de alface que vem de uma fazenda a 10 ou 20 quilômetros da sua casa não precisa da mesma quantidade de gasolina que uma maçã que vem de outro estado para chegar à sua mesa.
Além de prestar atenção ao local de procedência de frutas e verduras, outra dica valiosa é priorizar os produtos da estação, que demandam menos fertilizantes – e, de quebra, são mais nutritivos e baratos. O destino dos seus alimentos também é importante. Estima-se que cada brasileiro desperdice, em média, 182 quilos de comida por ano, o que, em última instância, acaba contribuindo para os gases de efeito estufa.
Footprints caseiras
Além de ficar de olho no que vai para o lixo, outras pequenas atitudes dentro de casa ajudam a diminuir nossas pegadas de carbono. Uma das mais fáceis é trocar lâmpadas incandescentes pelas de LED, que consomem até 85% menos energia, duram 25 vezes mais e ainda são mais baratas. E, claro, mantê-las desligadas quando não estão em uso.
A utilização racional dos eletrodomésticos também minimiza nosso impacto sobre os efeitos climáticos: no momento da compra, escolhendo aqueles com melhor eficiência energética; e, no momento do uso, praticando um comportamento mais austero no consumo de energia. “Ligar a máquina de lavar roupas somente quanto ela estiver cheia ajuda a economizar”, exemplifica Carolina. O mesmo vale para quem tem lava-louças – nada de acionar a máquina com apenas meia dúzia de pratos dentro.
Para entender melhor como suas atitudes diárias impactam a emissão de gases de efeito estufa, use uma calculadora de footprints, como esta. E, o mais importante: reveja hábitos, reflita sobre padrões de consumo e mude pequenos comportamentos. O planeta agradece.
Fonte:REvista Claúda em 27-04-2020
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