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Mercado de carbono prova sua eficiência



Juliana Anselmo da Rocha
Jornal do Brasil
10/6/20
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O Brasil é um dos grandes negociadores de créditos de carbono no mercado criado pelo Protocolo de Kyoto, em 1997, e que movimenta R$ 10 bilhões ao ano. São 101 projetos inscritos sob o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) - uma das três modalidades de investimento sugeridas no documento.

Pelo MDL, nações ricas fomentam iniciativas verdes nas pobres, evitando emissões ao patrocinar o uso de tecnologias limpas e modernas. Os grandes vendedores de créditos, além do Brasil, são a Índia e a China, que têm 242 e 84 projetos inscritos, respectivamente. Os grandes compradores estão na Europa. Depois de certificados por uma comissão interministerial, as empresas fazem acordos bilaterais que autorizam o débito dos créditos comprados das metas de redução acordadas em Kyoto.

Werner Kornexl, analista de financiamento de carbono do Banco Mundial, esclarece que "o maior potencial brasileiro está nos aterros sanitários". O primeiro projeto aprovado foi no Aterro de Adrianópolis, em Nova Iguaçu. Com duração prevista de 21 anos, canalizará o metano expelido pela matéria em decomposição, gerando eletricidade pela sua queima. Serão evitadas o equivalente a 14 milhões de toneladas de carbono na atmosfera, pois o gás tem potencial de aquecimento 21 vezes maior que o CO2.

Melhorias na infra-estrutura energética, como a substituição de termoelétricas por hidrelétricas, ponto forte da China e da Índia, não são lucrativos aqui, já que a matriz brasileira é essencialmente limpa.

O mercado de carbono foi idealizado para que as metas estabelecidas em Kyoto fossem alcançadas a custos baixos - explica Roberto Schaeffer, pesquisador da Coppe-UFRJ e um dos autores do relatório do Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC).

Críticos da idéia acusam-na de adiar o momento dos países industrializados, com responsabilidade histórica na mudança climática, de reduzirem as emissões em seu território - principalmente ao limitar a dependência dos combustíveis fósseis. Schaeffer observa que, "sendo um fenômeno global, não importa onde são impedidas as emissões. O impacto será percebido em todo o planeta".

A importância do mercado de carbono é grande e o IPCC avalia como positivos os primeiros resultados - completa Emílio La Rovere, pesquisador da Coppe-UFRJ e colaborador do relatório do IPCC. - Embora esteja na fase inicial, já se provou uma boa oportunidade de negócio e grande ajuda nas negociações da Convenção do Clima.

Também existem iniciativas voluntárias, como o pregão de carbono de Londres e Chicago. Contudo, os créditos negociados ali, carentes de certificação obrigatória, não podem ser debitados da redução de 5,2% em relação aos índices de 1990 nas emissões. Hoje, o maior mercado movimenta R$ 50 bilhões ao ano: é o Esquema de Comércio de Emissões da União Européia, iniciativa regional incentivada pelo protocolo

Já existe uma base forte para o pós-Kyoto. Não há risco do mercado desaparecer - garante Carlos Nobre, pesquisador do Inpe e autor do relatório do IPCC. - É provável que as próximas metas sejam mais ambiciosas.

Kornexl observa que, para impedir a subida de temperatura além do limite considerado perigoso de 2 ºC, o mercado deve triplicar.

Mundialmente, são negociados R$ 60 bilhões em créditos. Precisariam ser R$ 200 bilhões para causar impacto real no aquecimento global - admite. - Não é impossível. Ao contrário, é um futuro realista.

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