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Viver melhor com alimentação orgânica

 

Walter J. Crinnion*

Quinze anos atrás, fiz uma palestra sobre "Educação do Paciente" na Bastyr University. Após a palestra, uma senhora perguntou: "Os resíduos químicos de nossa comida podem nos deixar doentes?" Ela tinha acabado de ler o livro "Circle of Poison" (Círculo de veneno), de David Weir e Mark Schapiro, e estava tentando separar a verdade do sensacionalismo. Embora seja embaraçoso admitir, minha resposta na época foi "não".

Depois dessa palestra, tratei de muitas pessoas que ficaram doentes por causa de resíduos de pesticidas. Quanto mais trabalho com doentes crônicos, maior fica minha horta orgânica caseira. A maioria das pessoas que tratei tinha passado pelo sistema médico sem melhorar, mas com a conta bancária seriamente afetada.

Steve era uma dessas pessoas. Chegou até mim depois de ter passado por vários médicos, que foram incapazes de diagnosticar seu problema. Steve tinha certeza que estava morrendo. Os exames de sangue não apontavam a causa dos problemas, embora indicassem algumas irregularidades. A descoberta interessante se deu quando examinamos o sangue para detectar pesticidas (um teste desconhecido para a maioria dos médicos).

Testamos o sangue para 18 dos pesticidas mais comuns e descobrimos que Steve tinha 9 deles correndo por seu corpo. Como há muito mais que 18 substâncias químicas no meio ambiente, não fiquei muito esperançoso. Se Steve apresentava 50% dos produtos químicos testados, quantos mais ele teria que não havíamos testado? Infelizmente, das 70 mil substâncias químicas usadas na vida diária, apenas 250 podem ser testadas em seres humanos. Fica muito difícil encontrar a causa de um problema de saúde entre as 69.750 restantes.

Uma das toxinas encontradas foi a dichlor-diphenyl-trichloroethane (DDT). Este pesticida foi banido nos anos setenta. Após seis meses no corpo de uma pessoa, o DDT se transforma em dichlordiphenylethylene (DDE). Como encontramos tanto DDT como DDE em Steve, isso significava que ele tinha estado exposto ao DDT durante o ano anterior. Mas como?

Embora o uso do DDT seja proibido nos Estados Unidos, ainda é produzido aqui, e depois exportado para outros países, onde é usado na agricultura e no controle de mosquitos. O DDT volta para cá através dos alimentos e da carne produzidos nesses países. Também voltam com o vento. Podemos encontrar e comer alimentos diretamente contaminados ou carne de animais alimentados com ração contaminada.

Nosso mundo químico

Steve não está sozinho. Nasceu após a II Grande Guerra, que nos introduziu na era química. O "slogan" dessa revolução química era "Vida melhor através da Química". As substâncias produzidas, como o DDT, são, na grande maioria, solúveis em gordura. Isso significa que elas são armazenadas em tecido gorduroso do corpo e permanecem conosco eternamente se não nos livrarmos delas. Vão se acumulando à medida que os anos passam. Freqüentemente descrevemos o corpo humano como um barril de água. As toxinas entram no corpo e, lentamente, vão se avolumando. De modo geral, é só quando o barril vaza que os problemas aparecem.

A EPA, Agência de Proteção ao Meio Ambiente, vem controlando a quantidade de toxinas existentes em nosso tecido gorduroso desde 1976. Estão encontrando 13 componentes altamente tóxicos em 100% de todas as amostras examinadas. Das 46 substâncias químicas testadas, a maioria aparece em 50% das amostras. A EPA faz esses testes anualmente. Ao mesmo tempo, a FDA — Órgão de Controle dos Alimentos e Medicamentos — prepara seu relatório anual sobre resíduos de pesticidas nos alimentos. David Steinmam mostra esse relatório no livro "Diet for a Poisoned Planet" (Dieta para um planeta envenenado) e conta quais são os alimentos que contêm maior número de pesticidas (passas e amendoim, inclusive). A questão não é "se" estamos intoxicados mas "quão" intoxicados e como essa toxicidade está nos afetando.

Substâncias químicas como pesticidas e metais pesados, presentes no nosso organismo, afetam o sistema imunológico e o sistema nervoso. Na verdade, alguns pesticidas, como os organofosfatos, foram originalmente desenvolvidos como gases asfixiantes durante a II Grande Guerra e depois começaram a ser usados na vida doméstica. Já foi provado que essas substâncias provocam doenças autoimunes como lúpus, alergias, câncer da mama e outros tipos de câncer, assim como doenças neurológicas (mal de Parkinson).

Os melhores estudos sobre resíduos de agrotóxicos e saúde são aqueles relacionados com câncer da mama. Nos últimos anos, os cientistas têm analisado o nível de DDT, DDE e PCB em mulheres. Seus estudos mostram que resíduos químicos no sangue e nas células de gordura da mulher aumentam o risco de câncer da mama. Como o câncer da mama é importante fator de morte, podemos afirmar que evitar resíduos de pesticidas nos alimentos pode salvar muitas vidas e reduzir o custo do sistema de saúde.

Após 50 anos de "Vida melhor através da Química", finalmente provamos que as pessoas nascidas depois de 1940 têm maior índice de câncer não relacionado com o fumo — inclusive câncer da mama — que outras gerações. Pesquisadores afirmam que a causa desse aumento nos índices de câncer é a poluição química ambiental em nosso mundo. Não vou esperar por mais provas para mudar meus hábitos alimentares. Como médico, que vê inúmeras pessoas com problemas de saúde provocados pela poluição ambiental, estou convencido de que existe uma associação direta entre substâncias químicas e saúde. A maior fonte de contaminação está no local de trabalho das pessoas, depois nas suas casas, no ar, na comida e na água. De tudo isso, o mais fácil de controlar é a nossa casa e a nossa alimentação.

Comer alimentos orgânicos, beber água pura e evitar exposição a substâncias químicas ambientais pode ter um efeito profundo na saúde. Meu amigo Steve, que se submeteu a um longo tratamento para eliminar os pesticidas do corpo e recuperou a saúde, me dá toda razão. Quando ele somou o custo da doença em termos de ausência do trabalho e gastos com cuidados médicos, concluiu que comer alimentos orgânicos é muito mais barato que comer produtos não orgânicos. Ele agora está se alimentando melhor e minha horta orgânica continua a crescer.

* Dr. Walter J. Crinnion, Nutrólogo, vive em Bellevue, no estado de Washington, EUA. Dirige um programa de desintoxicação para toxinas ambientais e é membro do corpo docente da Universidade de Ciências da Saúde Natural Bastyr de Seattle. Essa Universidade oferece um programa de medicina natural, o grau de bacharelado em ciências de saúde natural e programas de mestrado em nutrição e acupuntura.

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