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Seca, Mitos, Histórias, Fantasias e Mesmice

 

Por Cristiano Cardoso Gomes*

A seca é uma situação climática em que há estiagem de precipitação durante um determinado período, que pode vim a ser curta ou longa. E quanto mais longo, mas arredia as conseqüências. No caso da região nordeste brasileira por natureza existe um desequilíbrio hídrico, ou seja, a precipitação e 4 vezes menor que a evapotranspiração (perda de água), isso é o equivalente a evapotranspiração de uma lâmina de 2 metros de água por ano. A região mais atingida pela seca é sem dúvida o semi-árido nordestino, ecossistema esse de alta biodiversidade, entretanto pouquíssimo estudado. A população do nordeste é de 42.792.133 habitantes (Censo, 1994) dos quais cerca de 17 milhões vivem como indigentes, mau conseguem o que comer e não tem rendimentos. Existe ainda o problema de que as grandes propriedades tem as melhores terras e principalmente com fontes de recursos hídricos, ficando assim a maioria dos agricultores submissos aos latifundiários.

Muito se tem falado em El Niño, que quer dizer "menino" em espanhol, tem esse nome batizado por pescadores do Peru e Equador ocorrido pela primeira vez no natal do ano de 1864. O El Niño aconteceu 41 vezes entre 1864 a 1972, sendo 13 forte, 14 moderada e 14 fracas, nesse mesmo período houveram no nordeste 4 secas no mesmo ano, 6 no ano seguinte e uma seca dois anos depois, mostrando nos que existe uma relação entre o El Niño e a seca no nordeste do Brasil.

Então caros amigos (as) diante desse quadro não podemos tratar a seca como um problema nem desastre e sim como um processo natural, pois apesar de nossas avantajadas tecnologias e muitas vezes conhecimentos sobre a natureza, ainda não consegue-se manipular o meio ambiente, dessa forma o que precisamos fazer não é atenuar com donativos e alimentos, pois, daqui a 3, 6 ou 9 anos com certeza virá uma nova seca, e aí vamos ficar mais uma vez comovidos com o flagelo no nordeste, todavia  precisamos de Projetos Permanentes coerentes e sobretudos contínuos.

Além de todo esse problema climáticos existe outros de caráter edáficos, os de solo, pois cerca de 70 % dos solos do nordeste estão sobre processo de desertificação, ou melhor de perda de fertilidade e produtividade. Esses são rasos no geral, ácidos e pobres em água superficial, e com qualquer estiagem mais moderada leva a prejuízos nos plantios, que é a principal atividade econômica da região. Essas perdas na agricultura também estão relacionadas aos pacote tecnológico da agricultura que baseia-se em pacotes de outras regiões, assim como a agricultura brasileira, sendo necessário muitos cuidados para poder colhe os frutos, tais como adubo, herbicida, água e etc.

O nosso povo é sub-analfabetizado em escola caindo os pedaços, faltando livros, merenda e com professores mau pagos e pré-formados. Então amigo(a) com o sol causticante acabando a plantação, ardendo nas costas, sem formação geral, os filhos doentes de fome, a barriga gritando de fome só resta algumas alternativas fica e ter fome ou partir para o grande centro urbano. Diante desse quadro de catástrofe e de sofrimento surge os políticos e a falsa imprensa. Os políticos propondo solucionar os problemas transpondo rios, furando poços, arranjando empregos, fazendo chover, e doando cestas mini-básicas, por que o que é básico é distribuir bilhões com bancos privados. E a falsa imprensa aquela que se utiliza da fome pra aumentar a sua audiência sem propor soluções e criar cenário político para redenção do nordeste. Amigos (as) a seca não é de hoje, não é de ontem, nem nunca deixará de ser. Caso a maioria continue tratando a seca como problema ocorrerá mais um genocídio, como o que houve entre 1979 e 1983 onde cerca de 3 milhões de pessoas morreram de subnutrição. Depois as pessoas dizem que não existe guerra no Brasil, existe sim amigo(a) a guerra pela comida para lutar contra a fome. Que saudades de pessoas como o Betinho (Campanha Contra a Fome), Betinho morreu e parece que com ele morreu a fome do Brasil para a imprensa, antes da serie de reportagens da Globo ninguém mais fala em fome, como se houvesse acabado durante algum tempo.

            A transposição do rio São Francisco e outros é a grande promessa, que se mostra inviável tecnicamente, pois, os solos nordestinos como já ditos são rasos e ácidos, com isso por onde correria a água seria o elemento de salinização da água, ficando imprópria para beber e irrigar o roçado, além de que seria necessário construir 2000 Km de canais, dos quais 200 km seriam para furar rochas, construir estações elevatórias, mini-usinas, canais de concreto e etc. A transposição nada mais é do que um instrumento de canalização de milhões de recursos, favorecimento fundiário e político. Fundiário, pois grande parte dos canais passariam na grande propriedade e político, porque, desde o começo do século os políticos usam essas obras para conseguir votos e aludir a cabeça do povo. O dinheiro que gastaria com tamanha obra daria pra escavar milhões de poços, construir barragens subterrânea, barreiros trincheiros, cisternas  e dentre outros.

        Muito pelo nordeste já foi feito, entretanto, todas ações ao longo de história tem sido paliativAs, o que o nordeste necessita é de um plano serio Permanente de Soluções adaptáveis a Região, composta por representações de toda sociedade de forma paritária. A Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) só serve para investir milhões nas impressas, que em sua maioria não pagam muitas vezes esses investimentos, a SUDENE é um grande elefante branco, um dos últimos superintendente da SUDENE pediu demissão por causa da inadimplência dos empresários. Pois quando não paga-se não entra recursos, dessa forma teria-se que cria-se uma solução pra entrar recurso, que tal mais uma seca e com ela a comoção nacional televisiva e cinematográfica, e que tal desmontar o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) como o vilão dos saques e não a fome por conta da seca, dizendo por parábolas que o MST luta para desordem da sociedade, colocando em xeque a Reforma agrária tão necessária no nordeste e Brasil. E ainda diz que não temos capacidade de mobilização, pois, o nordestino não sabe fazer saque, (in) felizmente sabemos, e já foram feitos dezenas ao longo do século. Os saques são os frutos das políticas agrícolas, e incapacidade de sensibilização da maioria dos políticos. Só para ter-se idéia, a PETROBRAS veio ao nordeste a alguns anos fazer sondagem para procurar petróleo com isso fez 500 escavações onde em muitas encontrou água, daí como o objetivo era petróleo e não água tamparam os poços. Como se não existisse falta de água na região.

O nordeste tem solução sem gastar bilhões nem transpor rios, essas soluções estão distribuídas nas instituições Governamentais e Não Governamentais em toda região, agora o que não existe é vontade política de acabar com tudo isso. Isso não é idealismo já tive vivências nisso, conheço todo o estado da Paraíba e Pernambuco, e parte da Bahia e Alagoas lembro aos que próximo as cidades de toda essa aflição, no meio do sertão existe uma cidade chamada de Petrolina - PE que tem um dos maiores faturamentos no estado de PE e exporta Manga (Mangifera indica), Caju (Anacardium occidentale), Uva, Acerola (Malpighea glabra) Laranja e etc., para todo a Europa e Estados Unidos durante todo o ano. Excerto que a maioria dos produtores são latifundiários, entretanto, mostra-nos que com investimentos serio é possível ter uma agricultura forte. Só para exemplificar, mais ainda, as reportagem que tem passado mostram as pessoas andarem até légua (6 km) para ir atrás de água. Existe um tipo de reservatório chamado de cisterna de placa que custa em torno de R$ 650,00 que capta a água das chuvas do telhado e serve para todas as atividades domiciliar. Cálculos indicam que para uma região onde a pluviosidade média anual é de 600 mm, para um telhado de 5m x 7m, permite recupera aproximadamente 15750l de água de chuva ano. Este volume permite o abastecimento em água potável (bebida e cozinha) de uma família de 8 pessoas. A SUDENE e a EMBRAPA conhecem isso agora perguntem quantas Cisternas dessas vão construir ou disseminar. Outros exemplos, criação de ema, cabra, fortalecimento do sindicalismo rural, associativismo, beneficiamento, comercialização, distribuição de renda, reforma agrária, crédito rotativo, cooperativismo, associativismo e sobretudo aproveitamento da flora e fauna local são algumas palavras e mecanismo de sanar os problemas hoje ocorrentes. Acreditem a seca não é o final do mundo, nem tão pouco o motivo do flagelo, ela é o indicativo da capacidade dos vegetais e animais dessa região, e mostra que ainda falta muito pra conhecermos sobre a mãe natureza, digo-os tudo isso, pois, conheço o nordeste, vivo nele, e já tive experiências que mostra-me que há solução, pois, a seca virou um mito, uma fantasia e não pode continua na mesmice de nossa intervenção frente ao ambiente.

*Cristiano Cardoso Gomes é Engenheiro Florestal e Licenciado em Ciências Agrícolas formado pela UFRPE, para saber mais visite Quem é Cristiano Cardoso Gomes

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