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Antonio Alberto Rocha Oliveira
Engenheiro agrônomo, Ph.D. em Fitopatologia
Pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura
A filosofia e prática da agricultura estão mudando de um enfoque
convencional para uma abordagem sustentável. Os sistemas agrícolas
sustentáveis são caracterizados pela reduzida inserção
de insumos sintéticos tais como pesticidas e fertilizantes e um aumento
considerável de informações relacionadas com práticas
conservacionistas. O papel dos microrganismos na agricultura sustentável
tem sido amplamente negligenciado nas discussões conceituais do tema,
apesar desses organismos desempenharem papel relevante no manejo integrado
de pragas e doenças, rotação de culturas, controle biológico,
conservação do solo e estratégias de manejo de fertilizantes.
Dentre a miríade de microrganismos que habitam a interface entre as
raízes de plantas e o solo, alguns fungos destacam-se, sobremaneira,
ao penetrarem nas células vivas da planta hospedeira sem causar danos
e, ao mesmo tempo, estenderem-se além da zona de depleção
das raízes para estabelecer íntimo contato de suas hifas com
os agregados e a microbiota do solo. Essa associação simbiótica
formada pelo fungo com as raízes da planta hospedeira, conhecida como
micorrizas (do grego: myke = fungo e rhiza = raiz), caracteriza-se pela condição
mutualística, vez que ambos os organismos se beneficiam da associação
e, portanto, devem ser estudadas como um sistema dinâmico e não
como organismos individualizados.
Basicamente, as micorrizas são agrupadas em dois
grandes grupos, conforme o aspecto morfológico e anatômico da
colonização de raízes pelo fungo: 1. Ectomicorrizas,
caracterizadas por um denso manto micelial envolvendo as raízes e invasão
intercelular das células corticais da raiz pela hifa fúngica.
As espécies florestais são colonizadas por esse grupo de micorrizas.
2. Endomicorrizas, cujas hifas fúngicas formam um rede externa no solo
e crescem extensivamente no interior das células do córtex radicular.
A grande maioria das espécies vegetais formam esse tipo de associação.
As micorrizas do tipo arbuscular (MA) estão incluídas no grupo
das endomicorrizas e, embora o número de espécies seja pequeno
em relação às ectomicorrizas, ocorrem em praticamente
4/5 das plantas vasculares. A denominação arbuscular é
proveniente das estruturas especializadas do fungo, os arbúsculos,
que participam intimamente da simbiose, intracelularmente, funcionando como
sítio de troca de minerais e carboidratos.
Vários estudos têm demonstrado que a colonização
das raízes pelos fungos micorrízicos induz aumento da produtividade
de diversas culturas conduzidas em solo de baixa fertilidade. Essa resposta
é normalmente atribuída ao incremento na absorção
de nutrientes de reduzida mobilidade no solo, tais como: fósforo, zinco
e cobre. Evidente progresso no entendimento dessa simbiose vem sendo obtido
devido aos inúmeros trabalhos relacionados com a anatomia, taxonomia,
fisiologia da absorção de nutrientes, especificamente o fósforo,
utilização de carboidratos, translocação de água,
biologia molecular, produção de hormônios, ecologia, culturas
axênicas e interações biológicas.
Diversos cientistas de plantas, até recentemente,
consideravam a simbiose micorrízica como uma curiosa exceção
da condição “normal” do sistema radicular. Essa
percepção tem mudado pois levantamentos comprovam que 80% das
espécies de plantas terrestres normalmente formam micorrizas e, que
plantas que não formam essa associação são limitadas
a poucas famílias, as quais podem conter espécies micotróficas
e não-micotróficas. A maioria das plantas de importância
econômica é capaz de estabelecer essa simbiose e, o fazem tão
cedo em seu desenvolvimento se lhes é dada a chance para tal. Dentre
essas plantas, incluem-se os cereais, as leguminosas herbáceas e as
espécies frutíferas.
A inoculação dos fungos MA vem sendo sendo obtida com sucesso
em condições controladas nas quais o nível de fósforo
no solo é adequado e o fungo simbionte possui alta infectividade. Vários
autores têm tentado padronizar o inóculo básico de fungos
MA para uso em larga escala na agricultura. A produção em larga
escala, de inóculo de fungos micorrízicos arbusculares (FMA)
e a estocagem desse material são fatores que limitam a utilização
prática desses simbiontes em grandes culturas de semeio direto, tais
como feijão, arroz, milho, soja etc. Por outro lado, uma das principais
estratégias de utilização dos benefícios dos FMA
para o crescimento de plantas produzidas em sementeiras e/ou viveiros é
a inoculação destas na fase de muda. Isto porque é possível
a produção de inóculo em quantidade suficiente, além
de que as mudas são normalmente produzidas em substratos isento de
fungos MA. As fruteiras, de maneira geral, apresentam esse potencial, principalmente
aquelas que possuem sistema radicular do tipo magnolióide, com pêlos
absorventes pouco desenvolvidos.
A micorrização representa, portanto, um importante mecanismo para a maximização do uso de fertilizantes fosfatados aplicados aos solos deficientes e com elevada capacidade de fixação de fosfatos, como aqueles predominantes nos trópicos. Em algumas espécies vegetais é tão acentuada a dependência à presença desses fungos que, na ausência total da simbiose, não respondem satisfatoriamente à adubação fosfatada.
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