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O Girassol Como Alternativa de Combustível

O girassol (Helianthus annus L.) é uma planta com características muito especiais, principalmente no que diz respeito ao seu potencial para aproveitamento econômico. Seus principais produtos são o óleo produzido de suas sementes, ração animal, além de ser amplamente utilizado na alimentação humana. Seu potencial nutritivo é bastante elevado o que faz dos alimentos produzidos a partir deste vegetal, muito ricos e saudáveis.

O girassol é uma planta de porte alto e com raízes profundas. Por esse motivo, o solo para seu plantio deve ser profundo e permeável, para que as raízes nele penetrem e possam suprir a demanda de nutrientes. A época preferencial para o plantio do girassol é de maio a julho, podendo ser cultivado até em abril se houver disponibilidade de irrigação suplementar.

É uma planta tolerante às variações climáticas, e às variações de do solo. O plantio deve ser feito com um espaçamento de 60cm x 90cm. O desbaste é feito cerca de 15 dias após o plantio, deixando-se 1 planta em cada cova. Isto equivale a dizer que o agricultor terá cerca de 45.000 plantas por hectare, para as quais são necessários 4kg de sementes.

O manejo da cultura é simples. Usam-se as mesmas máquinas de plantio e de colheita do milho, com pequenas adaptações. Como toda cultura, exige correção de solo e adubação, devendo ser dada especial atenção ao boro, principalmente em solos arenosos. O rendimento é de 1.500 a 3 mil quilos de sementes e 30 a 70 toneladas de massa verde por hectare.

Os tratos culturas são simples e consistem em capinas e limpeza do terreno, nas primeiras semanas após o plantio. Depois disso, o próprio girassol faz o serviço, pois compete com as invasoras, mantendo-as sobre controle. Em geral, são feitas duas capinas superficiais, durante as duas primeiras semanas, após o plantio.

Pode ser usado com sucesso na rotação de culturas, pois diminui a incidência de pragas, doenças e ervas daninhas. Também pode ser incorporado ao solo como adubação verde, pois decompõe-se rapidamente em adubo orgânico e, como sufoca as ervas invasoras ou daninhas, favorecendo o plantio direto. Como a semente é pouco afetada por fungos e carunchos, pode ser armazenada para que o produtor a utilize ao longo do ano. Não é recomendável estocar grande quantidade de óleo virgem, pois pode deteriorar-se. O mais adequado, é ter a semente armazenada e fazer a prensagem conforme a necessidade de óleo.

Apesar de ser uma planta resistente à maioria das pragas, o girassol é sensível ao ataque das lagartas que comem as folhas desse vegetal. O controle é feito através do uso de defensivos (lagarticidas). Dentre as doenças que atacam esta lavoura, destacamos a ferrugem e a mancha-de-alternaria, além da podridão-de-macrophomina.

A colheita pode ser mecânica ou manual. Obviamente, no caso de grandes extensões cultivadas, o único sistema possível é o mecânico. Em grandes áreas plantadas, plantio e colheita são mecanizados, pois a produção torna-se bastante elevada.

Depois da colheita, o armazenamento da produção deve ser feito em local seco, com temperatura controlada, boa ventilação o que melhora a qualidade do armazenamento. O controle da umidade é indispensável para se manter a integridade dos grãos, no armazenamento, devendo ser mantida em torno de 9%.

A Embrapa Roraima vem desenvolvendo estudos com cultivares de girassol desde 2000, e em 2001 iniciou estudos de adubação nitrogenada para a cultura nos Campos Experimentais (Monte Cristo e Água Boa) em Boa Vista. Os resultados de produção obtidos 1,4 a 3,4 t.ha-1(média nacional 1,5 t.ha-1) e os teores de óleo entre 38 e 55% (2 a 3% acima das demais regiões produtoras), para os diversos cultivares, abrem perspectivas promissoras ao cultivo do girassol em Roraima.

O óleo dessa oleaginosa também pode ser usado como combustível. Experiência feita em São Paulo mostra que biodiesel é viável sem necessidade de adaptação de motores .

Tratores e caminhões da Ataliba Leonel, uma fazenda de produção de sementes da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, estão usando 100% do chamado “biodiesel” de girassol em seus motores. Os resultados são, até agora, muito bons. As máquinas apresentam um rendimento 10% maior por litro consumido em relação ao diesel convencional e não há sinais de desgaste além do normal nos equipamentos, afirmam os responsáveis.

Considerando-se o aproveitamento da torta resultante da prensagem, o custo do biodiesel de girassol chega a ser até 20% menor que o do derivado de petróleo. Temos também de considerar o ganho ambiental, pois o óleo de girassol não tem componentes de chumbo e enxofre que poluem a natureza, como o diesel proveniente do petróleo.

A experiência descrita acima está sendo acompanhada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto. O objetivo é criar um modelo que possa atender às unidades rurais produtivas, como fazendas, granjas, cooperativas e associações de produtores. O mesmo óleo que serve para movimentar os motores, inclusive os de irrigação e das colhedoras, pode ser usado na geração de energia elétrica e na cozinha. É o óleo virgem, obtido a partir da prensagem das sementes do girassol. Concluem que o mesmo óleo da prensagem de grãos de girassol, sem nenhum processamento, que é utilizado na cozinha serve também para movimentar motores, inclusive os de irrigação, os elétricos e dos tratores.

Na prática isso funciona assim: o óleo é extraído numa pequena prensa com capacidade para 40 quilos de grãos por hora. Cada quilo de sementes rende de 350 a 450 gramas de óleo. A prensagem é feita a frio, sem uso de solventes, e o produto é colocado em galões. É o óleo puro, sem nenhum aditivo. A retirada da glicerina, um dos componentes do óleo de girassol, com a adição de etanol e de um catalisador melhora ainda mais o rendimento no motor. A torta que sobra da moagem é um componente de alto teor nutritivo para rações animais. São 24% de pura proteína. E os restos da cultura podem ser utilizados para silagem.

O modelo desenvolvido na fazenda vai servir para propriedades que tenham de três a quatro tratores, um ou dois caminhões, uma colhedora e algumas máquinas. Cooperativas de produtores ou em assentamentos também poderiam utilizar o óleo de girassol como combustível. Esta é uma das melhores alternativas para se consolidar a cultura do girassol, gerando mais emprego e renda.

*Oscar José Smiderle - Pesquisador da Embrapa Roraima - [email protected]

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