Como abordar o tema da agroecologia escapando aos já desgastados conceitos criados para defini-la se muitos destes termos, propostos à mais de meio século, foram de tal forma pasteurizados pelo discurso vazio que hoje suas conotações originais encontram-se completamente erodidas de sentido - o que é afinal Natural ? Ecológico ? Sustentável ?
Recentemente as considerações sobre este assunto tem se concentrado no termo agricultura orgânica, sendo a definição precisa do adjetivo palco de calorosas discussões nos mais variados âmbitos da sociedade. Elaboram-se definições das mais simplistas - " é só não usar veneno" - até calhamaços oficiais com centenas de páginas de jargão insondável, passando por todo tipo de divergências de opiniões pessoais, estatutos de associações, de ONGs preservacionistas, certificadoras, normativas de mercado, etc. Cada qual decretando o que "orgânico" deve significar. Disto resulta que uma definição clara do que trata na verdade a agricultura orgânica torna-se cada vez menos possível. O termo banaliza-se na proporção em que a discussão amplia-se.
Neste contexto é de se questionar então por que motivo trazer à luz uma nova direção para a já sobre adjetivada agricultura. Por que a tentativa de despertar a curiosidade para mais uma interpretação dos mesmos fatos ? De onde vem a presunção de que novas idéias sejam necessárias e, para que a pressa em validá-las se a apropriação de tecnologias pela sociedade é sempre parcial, adotando somente aquilo que não a modifica em suas bases, ou seja, na melhor das hipóteses reserva-lhe o mesmo balaio ?
Sob este ponto de vista a Agricultura Biodinâmica teria pouco a contribuir e igualmente estaria fadada a volatilidade dos modismos. Porém, quando não se trata de discutir quaisquer teorias, mas têm-se os pontos de vista a partir do trabalho eminentemente prático é que as indicações provenientes desta concepção ampliada do organismo agrícola podem ser entendidas e revestem-se de sentido.
Os agricultores em especial e todos de uma maneira geral podem pressentir a veracidade dos conhecimentos transmitidos ainda que não possam compreendê-los no primeiro instante. Trata-se de um certo sentimento relacionado com aquele antigo saber intuitivo sobre o qual se desenvolveu e sustentou a agricultura por milhares de anos e que, principalmente nas últimas décadas, tem sido desprezado. Mas é de fato através dele que o agricultor pode verdadeiramente compreender o seu trabalho. O que se pretende é resgatar a capacidade de observação e a confiança que cada agricultor deve ter em si mesmo, suas impressões, em um certo sentido latente cuja essência não pode ser resumida por nenhum pacote tecnológico.
É justamente este sentido que se quer despertar vigorosamente ao se falar de Agricultura Biodinâmica. Sente-se o entusiasmo, a vontade de agir, as pessoas ansiosas por retornar ao local onde trabalham cheias de coragem para enfrentar suas realidades, algo muito especial acontece.
E foi nesta atmosfera de confraternização e, sobretudo esperança que evoluíram os eventos já realizados aqui na fazenda Capão Alto das Criúvas, Sentinela do Sul sobre este tema.
Produtor João Volkmann [email protected]
Fonte: Jornal Folha da Embrapa n. 56 Dezembro de 2001..
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