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Agricultura Sustentável "Redução de custos em Lavoura de Arroz"

 

Por Ivo Mello*
 

Redução de custos de processos produtivos na época em que vivemos, mais do que uma necessidade, é uma obrigação. Os artificialismos econômicos que a parte mais rica do planeta se deu ao luxo de investir nas décadas seguintes a segunda grande guerra, como forma de manter a dicotomia dialética capitalismo versus comunismo, buscando cada lado hegemonia economica durante o período em que vivemos a Guerra fria, deixaram o setor empresarial dos paises emergentes, crivado de vícios característicos da época. Um bom exemplo foram os subsídios que dificultaram a adaptação dos diversos setores da economia a nova ordem mundial a partir do advento da globalização e do neoliberalismo no final do século passado,

O medo da falta generalizada de alimentos profanada pela teoria Malthusiana no século XIX, também cedeu espaço para outros interesses agregados de variaveis político-econômicos ligados a revolução verde da era industrial na segunda metade do século XX, que impregnaram o mundo mais rico com hábitos de consumo de certa forma extravagantes. Se por um lado garantem a sobrevivência tranqüila das populações daqueles paises, por outro pecam por falta até mesmo de ética quando, segundo o recém falecido ambientalista Jose Lutzemberger, um habitante do hemisfério norte em media consome 70% de sua alimentação na forma de proteína animal, sendo esta resultado da transformação de energia e proteína vegetal que poderiam seguramente, com sobra, alimentar todos os habitantes do planeta que por vários motivos não tem acesso a uma alimentação em quantidade e qualidade necessárias ao seu desenvolvimento saudável, sem prejudicar a qualidade da dieta das populações dos paises desenvolvidos.

Por tudo isto, um processo produtivo de sucesso passou a ser resultado de uma equação em que o lucro é apenas uma das condições de manutenção da atividade empresarial saudável.

Como forma objetiva de resumir estes desafios impostos aos agroempreendedores do mundo, um movimento denominado Global Action em 1993 emitiu um conceito de Agricultura Sustentável que diz o seguinte: “a agricultura é sustentável quando é ecologicamente equilibrada, economicamente viável, socialmente justa, culturalmente apropriada e fundamentada em conhecimento cientifico holístico”.

A partir deste conceito bastante genérico mas com vários desafios a serem enfrentados, nosso setor agroempresarial, vem demonstrando que aprendeu a lição, e esta mostrando através de vários resultados como aumento gradativo de produção e garantia de superávit de nossa balança comercial, que pode ser competitivo independente de subsídios como ocorreu até o final dos anos oitenta do século passado.

Sem dúvida uma ferramenta que contribuiu demais para alcançar estes resultados foi o sistema plantio direto. Na sua curva de adoção desde que iniciou a trinta anos atrás (1972), o aumento significativo de área coincide com o final dos subsídios para a agricultura brasileira.

O sistema plantio direto diminui instantaneamente a partir se sua adoção o consumo de energia fóssil de uma cultura. A manutenção de restos culturais sobre a superfície do solo contribui para diminuir a quantidade de carbono livre na atmosfera. Uma maior quantidade de carbono sob forma de matéria orgânica nas suas diversas fases nas camadas superficiais dos solos, associada a uma prática de rotação de culturas, incrementam a biodiversidade dos ecossistemas onde estamos cultivando grãos, possibilitando melhores condições para manejo integrado de pragas e conseqüente diminuição de inseticidas e fungicidas. Estas ações alem de diminuir o custo de produção de uma lavoura contribuem para diminuição do efeito estufa do planeta na medida em que se transformamos nossos solos em sumidouros de carbono.

Na Fazenda Cerro do Tigre em Alegrete/RS, a partir da adoção do sistema plantio direto em arroz irrigado (desde 1983/84), e 14 anos de adoção do manejo integrado de pragas, chegamos a resultados que se alinham com o conceito de agricultura sustentável. Podemos afirmar isto porque nossos índices de produtividade se mantiveram nos patamares médios da região, mas diminuímos de forma radical a utilização de inseticidas e fungicidas ao ponto de nas ultimas 9 safras desde o ano 1993, não aplicarmos uma gota sequer destes produtos. A quantidade de ingrediente ativo por área de herbicida foi reduzida a menos de 50% do que era utilizado anteriormente. A biodiversidade de nossa área de lavoura seguramente foi incrementada pois constatamos o retorno de várias espécies de aves, peixes e mamíferos que haviam desaparecido nos anos 70 e 80. Todos estes argumentos contribuem para que nosso sistema de produção tenha tendência de ser ecologicamente equilibrado.

No que diz respeito a economicamente viável que é o tema principal desta discussão, temos como resultado das ultimas quatros safras, custos de produção bastante compatíveis com o mercado facultando uma receita operacional favorável.

Custo de produção em R$ por saco de 50kg arroz casca Fazenda Cerro do Tigre e preço médio de comercialização do ano em questão:

Safra 98/99 = R$ 10,60 Mercado R$ 12,50

99/00 = R$ 11,20 R$ 13,00

00/01 = R$ 12,40 R$ 15,00

01/02 = R$ 13,60 R$ 17,00

Com relação a ser socialmente justo, entendemos que estamos no caminho pois a continuidade de um empreendimento sadio, faculta a manutenção de postos de emprego com qualidade de condições de trabalho para vários(as) gestores(as) de famílias.

Entendemos que estamos dando alguns passos no sentido de construir meios para atingirmos esta grande meta: Agricultura Sustentável, mas os desafios são dinâmicos e se transformam a cada dia que passa com a evolução natural da humanidade. Uma das vertentes que sugerimos para o futuro, é que nosso sistema agroempresarial se capacite para inclusive cobrar parte da conta do serviço que estamos prestando para a comunidade mundial quando seqüestramos carbono, evitamos erosão diminuindo gastos com fertilizantes e potabilização da água para populações urbanas, aumentamos a vida útil de represas hidrelétricas, garantimos a manutenção da produtividade das culturas evitando avanço da fronteira agrícola contribuindo para manter a área florestal do planeta, etc... E tudo isto utilizando conhecimento mais holístico e respeitando a cultura local.

Gerenciar recursos naturais de forma que atendamos nossas necessidades atuais e proporcionemos a manutenção destes para atender as demandas das futuras gerações, é o grande desafio da humanidade, e neste momento histórico o timão da agricultura está em nossas mãos. Por isto, mãos a obra!

Este e um resumo da participaçao no painel Reduçao de Custos em Lavoura de Arroz durante a Reuniao Nacional da Pesquisa do Arroz em Florianopolis/SC em agosto de 2002.

fonte: Visista Equatoriano em Alegrete

Eng Agr Ivo Mello*, é produtor Alegrete/RS, Presidente Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha, Presidente da Fundação Maronna – Alegrete/RS, Presidente do Comite de Gerenciamento da Bacia do Rio Ibicui e Administrador de Produção Orizicola da Fazenda Cerro do Tigre – Alegrete/RS email: [email protected]

Divulgado por Rede Fronteira Oeste Gaúcha
Fundação Maronna
Associação dos Engenheiros Agrônomos de Alegrete

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