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A agricultura Biológica como Ferramenta de Redução dos Incêndios Florestais: conclusões

 

[Fonte: Voz do Campo]

IX – CONCLUSÕES

Atualmente os incêndios abrem os noticiários, fazem as capas dos jornais. Políticos exigem responsabilidade e demissão de governantes, estes abrem inquéritos querem respostas, os politólogos opinam sobre tudo na verdadeira acensão da palavra. A esmagadora maioria destes intervenientes, têm as suas origens no interior do país, fazem questão de referir que descendem de famílias humildes. Conhecem a evolução das características florestais e socio – económicas, ocorrida nas últimas décadas. Reconhecem as alterações climáticas como algo que está a ocorrer nos nossos dias, e que são provocadas pela nossa ação (Homem).

Mas reconhecer e nada fazer para alterar esta realidade, é manter fogo como o mau amo. Para que seja possível mudar algo é preciso e é necessário mudar a nossa atitude passiva, propor e encontrar alternativas que tornem o fogo um bom servo.

Nos últimos 30 anos, tem desaparecido um elevado número de pequenas explorações, quer por motivos exteriores à atividade, quer porque o rendimento obtido não permite compensar “os custos de oportunidade atribuídos ao seu trabalho e outros recursos próprios” Com referido por E. Fidalgo, (2011) “Os fenómenos de despovoamento de vastas regiões predominantemente agrícolas conduziram a alterações significativas na paisagem e levaram ao desenvolvimento de condições favoráveis à deflagração e propagação do fogo. Assim, as áreas anteriormente cultivadas deram lugar ao mato, floresta, ficando apenas como vestígio desse passado agrícola os socalcos.”.

Esta é uma situação que é transversal ao interior do país. Neste âmbito, é manifesto promover, incentivar e apoiar a recuperação das zonas agrícolas envolventes das aldeias. Zonas essas que há algumas décadas atrás foram abandonadas, a matos ou convertidas em floresta (eucalipto ou pinho). É importante e fundamental voltar a recuperar esses solos agrícolas, para serem trabalhados de uma forma ambientalmente saudável, em parceria com a natureza para que continuem saudáveis e para que produtos e alimentos também o sejam. Adotando a agricultura biológica como uma mais valia, e instigador, com total responsabilidade e transparência no modo de produção, e por um comércio socialmente justo e amigo do ambiente. Cooperar e partilhar experiencias e tarefas entre as populações locais, recuperando o mosaico agrícola e florestal, conservando e adaptando às novas tecnologias, aos métodos de cultivo e produção agropecuária ancestrais e adaptando as variedades de espécies (sementes e raças) tradicionais, ao conhecimento do saber fazer. Apoio e empenhamento na manutenção da estabilidade dos ecossistemas, aproveitando e revitalizando as infra-estruturas e mercados locais. Uso do conhecimento local e tradicional, aliando-o à investigação para criar e melhorar os produtos locais inovando com criação de novos subprodutos. Celebrar a vida e a diversidade ao cuidar e proteger a natureza, ao valorizar a biodiversidade e integrá-la com as populações, as tradições e a cultura. É nesses valores, e por esses caminhos que é feita a agricultura sustentável, utilizando e promovendo o princípio e modo da agricultura biológica.

Estabelecendo os princípios orientadores relativos ao reconhecimento da agricultura como recurso natural e renovável. A gestão e o uso da agricultura se desenvolver de acordo com as políticas de âmbito da saúde, ecologia , integridade e precaução, articulada com a respectiva política sectorial. Surge assim a necessidade de estabelecer normas específicas de intervenção sobre a ocupação e a utilização dos solos, promovendo a sustentabilidade dos bens e serviços neles auferidos, ou seja, planificar e organizar as intervenções, melhoramentos fundiários, praticas culturais, na utilização dos recursos disponíveis de maneira a serem usados de um modo sustentável.

Responder às necessidades de adaptação das actividades agropecuarias, a normas ambientais, promover a regularização e a adaptação das edificações das explorações agrícolas às normas de ordenamento do território em vigor.

A promoção e inovação dos sistemas agroflorestais, através do desenvolvimento de uma rede que dinamize a inovação e interacção entre múltiplos intervenientes agricultores, associações de produtores, gestores, investigadores, serviços técnicos, entidades públicas.(RAIN, 2017).

Na recolha e partilha de experiências bem-sucedidas e de conhecimento técnico e científico existente. Abranger diferentes regiões do país (Sul, Centro/Norte), climas e setores agroflorestais (sistemas silvo-pastoris, sistemas silvo-aráveis, biomassa ou lenho, produção animal…) (RAIN. 2017).

A ocupação do solo terá de obedecer a exames técnicos, para ver as melhores culturas adaptáveis à zona, mas também olhando às que já existiram e que possam ser recuperadas, pois estas já demonstraram ao longo dos anos que foram sendo seleccionadas e que estão mais bem adaptadas as alterações climáticas. A promoção e inovação de subprodutos como é exemplo do pão fabricado com farinha da bolota e alfarroba, aproveitamento do medronho para aguardente e fruto fresco, sobreiros a produzir cortiça aos 10 anos de idade, maranho, bucho…..

Para todo esse trabalho de recuperação, melhoria e promoção é fundamental o apoio do poder local (Juntas de Freguesia, Câmaras Municipais), pois é quem mais conhece os problemas locais e mais próximo está das populações. Das faculdades com apoio técnico na ocupação solo e na inovação de novos produtos . Estes podem prestar apoio técnico e logístico, pois não podemos esquecer que a maior dificuldade dos agricultores passa pelo escoamento dos produtos.

Esta nova agricultura biológica, vai promover a biodiversidade de culturas agrícolas, fauna e fomenta a diversidade cinegética. Combina as melhores práticas ambientais a um elevado nível de biodiversidade. Concebe zonas de descontinuidade das manchas da monocultura do eucalipto, pois todo o solo que estiver cultivado com culturas agrícolas (permanentes, anuais ou pastagem), diminui ou reduz claramente a progressão dos incêndios. Maneio agrícola faz uma gestão sustentável dos combustíveis, transformando esses resíduos em rendimento para exploração através da compostagem e reintrodução no solo.

Uma Paisagem diversificada é mais amiga das pessoas, cria postos de trabalho permanentes e sazonais. Oferece segurança em caso de incêndio, alimentos saudáveis às populações. Fornece bens públicos que contribuem para a protecção do ambiente, bem como para o desenvolvimento rural. Promoção e desenvolvimento do turismo de natureza.

A possibilidade de desenvolvimento destes territórios passa pela coragem politica, consciência das populações de voltar a alterar o uso do solo, com troca de área de eucalipto por culturas agrícolas e florestal de valor natural. Como está acontecer na aldeia de Ferraria de São João, concelho de Figueiró dos Vinhos, que na semana seguinte ao grande incêndio (Pedrogão Grande) que ameaçou a aldeia. Escolheu arrancar os eucaliptos e proceder à reflorestação com espécies autóctones e mais resistentes ao fogo. Uma delas será o sobreiro, que durante os dias de chamas em meados de Junho permitiram estancar a progressão do fogo para o interior desta aldeia de xisto.

A alteração do uso do solo em 10 a 20% de monoculturas por uso agrícola e florestal de valor natural. É positivo para os produtores florestais que podem ver valorizado o seu produto na lei da oferta e da procura. Redução e diminuição das áreas ardidas, vai compensar as áreas alteradas do uso do solo. Aumento da área agrícola proporciona um serviço de protecção à não propagação dos incêndios entre as monocultura do eucalipto. Torna o país um pouco mais independente na questão da soberania alimentar. Agricultura biológica além de produzir uma variedade de produtos de qualidade, presta também um serviço pouco visível que não é quantificado, que é a protecção dos solos e aguas às populações do litoral.

Apoios financeiros a novas tecnologias para melhorar produtos existentes e criar novos subprodutos. Claramente a criação de uma descriminação positiva ao interior, de maneira a captar investimento. Como o dinheiro não cai do céu, o fundo financeiro deve ser constituído por fundos que derivem de todos os que beneficiam com os serviços prestados por uma agricultura sustentável (produtores florestais, celuloses, estado).

Neste momento só existem duas opções em cima da mesa, ou se continua apostar em nada fazer pelas populações locais, e gradualmente elas vão se diluindo nas cidades do litoral e a lei da natureza vai levando os que restam “idosos”. E assim se reduz o risco de perdas humanas nos incêndios florestais. Alegremente vamos perdendo a identidade e cultura de um povo que à mais de 8 seculos habita este jardim à beira mar plantado.

Parte I: A Agricultura Biológica como ferramenta de redução dos incêndios florestais

Parte II: Incêndios de Figueiró dos Vinhos

Parte III: As causas dos Incêndios

Parte IV: Zona Mediterrânica

Parte V: As estratégias das plantas para resistir ao fogo

Parte VI: Floresta Portuguesa

Parte VII: Alterações Climáticas

Parte VIII: Sistema Agrícola e Florestal de Elevado Valor Natural

Parte IX: A Agricultura Biológica

Parte X: Agricultura e Alterações Climáticas

Parte XI: Conclusões

Referências Bibliográficas

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