Cristalina (GO) — O produtor rural Evando Luiz de Oliveira, 37 anos, migrou para Cristalina (GO), em 2010, a convite de uma empresa para trabalhar com estruturas para cultivo de alface hidropônica. Natural de Biquinhas (MG), ele, que é técnico agrícola, se casou com a gaúcha Magali Spigolon, 38, no ano seguinte, e os dois decidiram investir na produção de tomates grape. Para isso, compraram 1,1 hectare de terra e investiram na construção de 12 estufas.
Além do tomate, são cultivados na propriedade abóbora, cebola, repolho e milho verde. Mesmo com o conhecimento adquirido no mercado e nos cursos realizados, foi somente com o investimento em tecnologia que o casal conseguiu alavancar a produtividade. Além de construir as estufas, criaram um mecanismo de irrigação por gotejamento enterrado no solo até chegar às mudas. Também adquiriram sensores de umidade e de temperatura, um programador automatizado para preparação de adubo e fertilizantes, além de produzir as próprias mudas.
Todo o investimento totalizou R$ 480 mil e os resultados de produtividade foram instantâneos. Oliveira explica que gastava diariamente entre 80 mil e 100 mil litros de água. Com o equipamento que faz a dosagem exata da quantidade por muda, além de apontar a necessidade de insumos, o consumo caiu para 20 mil. “Cada muda recebe diariamente 4,5 litros de água. Por meio da coleta de dados dos sensores, sabemos como está o processo de drenagem, a temperatura, o nível de unicidade e o PH de cada uma delas. Sem os investimentos em tecnologia, não teríamos esses resultados”, conta.
O maior controle da lavoura também contribuiu para redução dos gastos com energia, um dos principais custos de um agricultor. A conta de luz, que chegava a R$ 1,2 mil, caiu para R$ 238. A produção de tomate cresceu 80% e chegou a 80 mil toneladas na última safra. O próximo investimento será para estocar água da chuva. Atualmente, Oliveira mantém apenas caixas-d’água com capacidade para armazenar 20 mil litros. A meta é chegar a 400 mil litros.
Além do aumento da produtividade, o produtor rural passou a economizar com mão de obra. Reduziu o número de empregados de seis para três. Todo o investimento também o ajudou a fazer o controle biológico de pragas, sem uso de defensivos agrícolas na produção dos tomates. “Fazemos duas safras e colhemos o ano inteiro. Nossa meta, agora, é aumentar para 18 o número de estufas. Toda nossa produção é vendida para Goiânia (GO) e Brasília (DF)”, comemora.
A definição do clima em períodos de seca e de chuvas em abundância atraíram para Cristalina pequenos produtores paulistas e sulistas, interessados em explorar novas fronteiras a partir da década de 1970. Nem a deficiência de nutrientes, característica do solo do cerrado, brecou a expansão da agricultura na região. A acidez da terra marrom foi corrigida a partir da década de 1980, por meio de parcerias dos produtores com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Na época, a companhia do governo também passou a desenvolver variedades de grãos que se adaptavam às características da região.
Segundo o diretor executivo da Associação dos Irrigantes do Estado de Goiás (Irrigo) e presidente do Sindicato Rural de Cristalina (SRC), Alécio Maróstica, existe, no município, o cadastro de 152 produtores que irrigam por pivô central, e, em contrapartida, há o quádruplo desse número referente aos que querem irrigar. Ele salienta a importância da irrigação para a produção de alimentos. Estão espalhados por essas propriedades, pelo menos, 736 pivôs. “Em Cristalina, os 62 mil hectares irrigados produzem mais do que os outros 259,2 mil hectares não irrigados. Descobrimos o caminho para a produtividade e agora precisamos garantir o uso da água.”
Maróstica destaca que o uso intensivo de tecnologias levou o município a produzir 50 tipos de atividades ligadas à agricultura e à pecuária. Nas lavouras e pastos da região é possível encontrar gado de corte e leite, além de culturas de soja, milho, algodão, café, feijão, alho, cebola, batata, tomate, morango, cará, abacaxi, batata-doce, abacate, uva, figo, manga, milho doce, trigo e cenoura.
O presidente do SRC detalha que o crescimento da produtividade e a geração de riquezas atraíram a violência. Para enfrentar o problema, os produtores rurais têm investido em segurança. “Os drones também são usados para monitorar o gado, tratores, máquinas e pivôs”, conta.
62 mil
Total de hectares irrigados em Cristalina
Fonte:Correio Braziliense em 25/02/2018 por Antônio Temóteo
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