Mosca era quase incontrolável, mas foi traída pelo apetite

Armadilha feita com proteína extraída do intestino do porco é arma eficaz para substituir inseticidas no controle da mosca-das-frutas em parreirais de uva de mesa

A mosca-das-frutas, que causa prejuízos milionários aos pomares brasileiros, tem um fraco por tripa de porco.

Graças a essa descoberta, produtores de uva de mesa no Rio Grande do Sul estão espalhando armadilhas de garrafas pet nos parreirais oferecendo como isca uma proteína hidrolisada retirada do intestino dos suínos. É tiro e queda. Traídas pelo estômago, as moscas entram por um orifício na garrafa e morrem afogadas no próprio banquete.

A tecnologia limpa – dispensa ou reduz significativamente o uso de inseticidas – já é empregada na Espanha e em Israel para o controle da mosca-das-frutas do Mediterrâneo (Ceratitis capitata), que também ocorre na região Nordeste do Brasil. Nos últimos cinco anos o método foi testado, com sucesso, por pesquisadores da Embrapa Uva e Vinho, no Rio Grande do Sul, para o controle da mosca-das-frutas sul americana (Anastrepha fraterculus) . A chamada captura massal segue o simples princípio de oferecer uma fonte de alimento que seja mais atraente ao inseto adulto do que a uva no parreiral.

“Onde tem fruta, tem mosca. Essa forma de manejo tem um potencial muito grande na produção de uva de mesa, sem necessidade de aplicar inseticida”, diz o coordenador da pesquisa da Embrapa, o entomologista Marcos Botton. Ele lembra que o controle da espécie conhecida como mosca-das-frutas sul americana (Anastrepha fraterculus) tem sido desafiador, tanto para produtores convencionais como orgânicos, por que o inseto se reproduz ao longo de todo o ano. Assim, a armadilha com proteína do intestino do suíno pode ser a melhor alternativa para substituir os inseticidas organofosforados, que desde 2010 não são mais autorizados para o cultivo de videira no Brasil.

Outra forma de controle, bastante utilizada no sistema orgânico, é o ensacamento individual dos cachos de uva com sacos de papel, que apesar de eficiente, acaba sendo cara por exigir muita mão de obra. Segundo Botton, por ser uma tecnologia “resíduo zero”, a captura massal é viável em sistemas de produção com alto valor agregado, como é o caso das uvas de mesa, em que é maior a exigência dos consumidores por produtos sem traços de produtos químicos.

Já houve tentativas anteriores no Brasil de capturar as moscas com garrafa pet, mas sem o mesmo sucesso; a novidade está na isca oferecida. Em vez de colocar suco de uva nas garrafas, que precisa ser trocado toda semana, a proteína hidrolisada do intestino dos suínos não exige reposição frequente e é seletiva, ou seja, não prejudica outros insetos benéficos, como as abelhas.

A mosca adulta cai na armadilha porque tem necessidade de ingerir compostos proteicos para o desenvolvimento e maturação dos ovos que darão origem às larvas, garantindo a sobrevivência de seus descendentes. Se não for combatida, a deposição dos ovos provoca lesões na baga da uva e o apodrecimento das bagas, em função das galerias construídas pelas larvas.

Cabe alertar que não adianta pegar tripa de porco in natura e colocar na garrafa pet como armadilha. A proteína hidrolisada suína comercial, testada pela Embrapa, é produzida por uma empresa hispano-holandesa que detém o segredo industrial de seu processamento. A Bio-Tee Sul América tem uma fábrica de processamento de carcaças de suínos em Palmas, no Paraná, de onde exporta a matéria-prima para a Europa, que depois retorna na forma da proteína hidrolisada.

Existem armadilhas prontas à venda, mas, para baratear o uso da técnica, a equipe de pesquisa da Embrapa ensina a fazer armadilhas caseiras, com a reutilização de embalagens transparentes de refrigerantes (veja circular técnica). A captura massal é uma forma de Manejo Integrado de Pragas (MIP), que pode ser complementada com iscas tóxicas nas bordas do pomar, para reduzir a infestação.

Fonte:Gazeta do Pvo, Agronegocio em 12-01-2018


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